ESTÁ TUDO BEM!...

Artigo de início de ano.

Cá estamos. Sentada diante do leptop, lanço uma vista dolhos para os últimos dias de festas, anteriores a esta tarde bucólica de segunda-feira. E vou me recordando: aconteceram algumas altercações com meu filho mais velho. Coisa entre mãe e filho adolescente, semelhante a nuvens de tempestade, barulhentas e passageiras. Depois, as nuvens vão se dispersando. Mudamos de assunto. Rimos e brincamos. Os acontecimentos mudam. Os céus mudam. Os nossos ânimos também...

Um cinema anteontem; um filme que, comparado ao inspirador Avatar, me provoca agora arrependimentos por tê-lo visto. Não gosto de filmes que me deixam deprimida, e este Contatos de 4o Grau só me atraiu e foi justificado pela minha ligação, ultimamente um tanto involuntária, com a ufologia. Todavia, ontem, também, um almoço no sítio de meus tios. Evento bom, gostoso. Alimento para o espírito, num dia ensolarado, depois de todo o aguaceiro do final de ano...

O aguaceiro do final de ano; o assunto da hora! De toda a tristeza exibida ainda à farta no noticiário ficou-me, até agora, a imagem da senhora entrevistada, morena e risonha. Indicando os familiares agrupados no abrigo onde muitos se reunem à espera dos arremates da tragédia e da hora de enfim seguirem em frente, ela fala para a repórter, nada desanimada. Resignada? Reconfortada?! Caros - ela nos parece quase feliz! - dizendo, o sorriso embelezando a serenidade sábia de seu rosto talvez marcado, quando muito, por um tanto de cansaço:

- Estamos todos aqui, reunidos! - e vai identificando um por um: um bebê adormecido num leito improvisado, outros que a rodeiam - Aquele é fulano, este é cicrano. Estamos todos aqui, juntos! Está tudo bem! - confirma.

E ela é convicta! Convincente, diante de nós, cá do conforto dos nossos sofás assistindo tudo aquilo, estatelados.

- Está tudo bem! Estamos todos aqui, juntos!...

Sim. Diante de tantas perdas dolorosas. Famílias inteiras arrasadas, desfeitas; grupos de amigos a passeio, encontrando a morte em meio ao entretenimento, àquilo que deveria ser o grande momento de alegria e de descontração, de esperanças renovadas e de felicidade com os festejos de reveillon em Angra dos Reis!

Tantos sem casa, sem arrimo. Sem família. Sem nada! Apenas a roupa do corpo!...

Mas aquela senhora - é visível! - se sente a mais rica, a mais abençoada das criaturas! Sinto em mim mesma o porque. Todos sentimos, facilmente!

- Estamos todos juntos aqui! Graças a Deus, está tudo bem!...

E eu aqui, sentada, me lembrando do ano que acabou; cheguei a comentar estes dias que foi, desta primeira década do milênio, o ano mais difícil, por razões várias, de ordem pessoal, e por tantos, e por tantas outras causas, exibidas na retrospectiva televisiva: gripe suína; doenças corriqueiras; pequenos acidentes de percurso; guerras; violência; o metrô superlotado, a canseira diária; a preocupação de toda mãe com seus filhos...

Todavia, de entremeio - todos estes lances e desafios cotidianos devidamente superados!

Um novo livro lançado; novos amigos, novas descobertas; momentos de descontração, em família ou no trabalho. Saúde num minuto perdida, noutro recuperada, e ainda sob a égide infalível dos amigos incansáveis das dimensões da invisibilidade! Renovação de ânimo, renovação dos dias! Recuperação de forças!...

Tudo na Vida é sempre jovem - andei observando durante a viagem de volta do sítio, ontem! As árvores antigas com nova roupagem verde; os campos; as flores que reflorescem, as células de nosso corpo; o sol que, no seu rodopio inexorável, diariamente retorna...

Tudo sempre e sempre redivivo!

Desta ótica, lembro-me de já ter reencarnado, ainda em vida, pelo menos umas trinta vezes! A jovem que não era mais a criança dependente. A jovem ainda mais à frente, que já mudara de gostos, e aprendera um pouco mais. A mulher que se formou e trabalhou, e continua estudando e trabalhando, e descobrindo e recriando tudo à sua volta, e em si mesma, a cada dia, a cada minuto... sempre!...

E quem era mesmo aquela, de mais de trinta anos atrás?!...

E então desfila à retina espiritual, hipnoticamente, tudo o que já se foi: todas as amarguras e decepções e surpresas agradáveis e desagradáveis. Em relação a tudo em volta, e em mim mesma, que veio e se foi como as ondas ininterruptas quebrando no mar, e como as nuvens que se desfazem, plácidas, nos céus azuis dos dias ensolarados, ou nas tardes de tormentas devastadoras, deixando só ruínas nos seus rastros. Ruínas do que fomos, do que temos, e do que fizemos...

Ruínas daquilo que não somos - que não seremos nunca mais!...

E em meio aos destroços de nós mesmos, emerge à tona de nossa consciência, quando devidamente desperta, e em momentos de grande benção e luz interior, a constatação fática - serena, plena, liberta! - como o jorrar fresco das fontes perenes de refazimento, a partir das origens límpidas, ignotas, dos nossos estados mais gratos de alma:

- Está tudo bem! Estamos aqui, todos juntos!...

Que Deus abençoe aquela senhora de cujo nome não me recordo, não importa; por ser a portadora de tão grande lição para todos, justo em momento de tanta desolação - renovando-lhe as forças e a disposição; sustentando-lhe o ânimo para os próximos dias de reconstrução e de renascimento, como tem feito conosco, agora, e a qualquer tempo:

Está tudo bem!

Estamos todos aqui, juntos... para o que der e vier!...


Um 2010 vitorioso para todos nós!

Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 05/01/2010
Reeditado em 05/01/2010
Código do texto: T2012184
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