O MILITAR BRASILEIRO NÃO AMA SUA FARDA

Estamos nos acostumando a ver oficiais pelas ruas com as fardas mimetizadas. Não são apenas homens, mas também jovens mulheres, tenentes ou aspirantes usando a mesma farda de camuflagem do exército brasileiro. Esta farda não deixa de ter seu charme. A camisa, ou blusa que cai por cima da calça, como um jaleco. As mangas da camisa cuidadosamente viradas na ponta completam o design que dá um estilo menos rígido.

O leigo a admira, embora a elegância fique a anos luz do uniforme escuro usado pelos alemães na segunda grande guerra. Este, embora odiado, não deixava de ser invejado pelas forças aliadas que na maioria ainda tinha o uniforme cáqui, hoje usado apenas por alguns exércitos regulares.

Enganam-se, no entanto, aqueles que pensam que nossos militares têm amor à farda mimetizada que os destaca como combatentes da selva. Eles odeiam aquele tecido que esquenta no verão e esfria no inverno ao contrário do se esperaria de um tecido feito para combate.

Segundo alguns oficiais que a usam há vários anos, a farda desbota rapidamente, exigindo a constante recompra com recursos próprios. Além do mais, em operações durante chuvas, ou na água, que são a quase totalidade delas, a farda encharca e retém a água aumentando consideravelmente seu peso.

Alguns diriam que o exército não deve se preocupar com conforto do soldado.. Muito menos com as queixas deste pela falta daquele. Se assim fosse, os combatentes da selva deveriam andar com pesados agasalhos enquanto os do frio ficariam sem eles. Seria uma postura desumana. Os escritórios de comando na Selva Amazônica têm ar condicionado para minimizar o calor. Igualmente os carros são equipados com este dispositivo. Não se trata de um luxo, mas de imperiosa necessidade de conforto para rendimento do trabalho. Um bom aparelho de ar condicionado é uma condição sine qua non para a segurança dos equipamentos eletrônicos.

As fardas cujas cores imitam folhas de árvores servem para confundir humanos e animais durante a sobrevivência na selva. Quem acredita que no meio do mato a temperatura é mais agradável por causa da sombra das árvores, nunca andou na mata equatorial. Se, por um lado existe a sombra, por outro há as árvores que não deixam passar a mais leve brisa. O calor pode ser maior que num descampado onde a brisa compensa o sol abrasador.

Todo exercício na selva exige do militar que carregue um peso extra em equipamentos. O peso da farda encharcada pode ser maior que a soma do equipamento que ele carrega. Os testes nos cursos de sobrevivência na selva são por si só suficientemente difíceis podendo dispensar acessórios que só fazem atrapalhar.

O exército de Israel, para citar apenas um, tem fardas que protegem os usuários no calor do deserto, onde o sol, por si só, derrotaria toda a tropa sem ajuda do inimigo. Nossos militares, que treinam e dão treinamento para exércitos de países amigos na Selva Amazônia, não correm o risco de serem derrotados por suas fardas, mas o desempenho fica prejudicado.

Não se pode pensar que os militares não tenham conhecimento do desenvolvimento de roupas especiais para atletas que visam aumentar a eficiência física, sem recorrer a drogas. Assim, se eles não têm amor por sua farda, é porque ela é um pesado fardo e não porque ela representa o amor péla pátria que o militar defende.

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 02/01/2010
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