MACONHA X OBESIDADE

O significado da palavra consciência será para nós a tão sonhada “ponte” - desespero do pensamento cientifico moderno – entre matéria e o imaterial, separados como por um hemisfério.

Todavia, o conceito consciência está intimamente ligado à vida, de tal forma que não há como conceber, separadamente, uma coisa sem a outra: não existe vida sem consciência; assim como não há consciência sem vida; duas palavras para uma coisa só.

Na verdade, a razão, esse nosso instrumento de investigação que dispomos dentro do mundo externo, não nos oferece substrato para que possamos avançar na análise das definições deste conceito. A razão que utilizamos é basicamente um instrumento para prover os misteres, as necessidades mais externas da vida: preservação do indivíduo e da coletividade. Todavia, quando lançado este instrumento de investigação no grande oceano do conhecimento, ele se perde, porque neste campo, os sentidos tão-somente esfloram a superfície das coisas em função da sua absoluta incapacidade de penetrar na essência que nós próprios sentimos.

Os cientistas olham para consciência com ar de perplexidade, porque não conseguem compreender sua natureza, pois no exato momento de sua percepção enquanto fenomenologia, descobrem que a consciência já estava instalada como consciência, daí a impressão da consciência não compreender a própria consciência. Subseqüentemente, olham para o cérebro procurando encontrar no seu interior os pilares de sustentação da ponte de ligação entre os hemisférios. E, então se perguntam como algo material pode se transformar no portal do imaterial (consciência)? Em que momento ou em que lugar do cérebro especificamente aflora consciência? Perguntas que, lamentavelmente, ainda vão ficar sem respostas por algum tempo.

Contudo, quando se fala em consciência é, comumente, notória a percepção que advém daquela que se extrai da observação e da experimentação em relação ao tempo e ao espaço conhecido. Todavia, também existe a percepção de outra consciência que não está relacionada em nada com aquilo que vivenciamos dentro do sentido objetivo da vida. Ela se encontra fora dos limites de tempo e de espaço da maneira comum como os concebemos, porém para atingi-la é preciso mergulhar profundamente dentro de nosso interior (self). Lá, dentro do mais profundo recanto encontra-se no âmago o self, que é uma plataforma de lançamento para consciência transcendente, que está situada fora do espaço relativo ao tempo presente. O que chamamos de “estado alterado consciência”.

Em algumas nações, onde o xamanismo é adotado como prática cultural e mítica costuma-se iniciar pessoas, especialmente selecionadas dentro da linhagem de descendência tribal, a fim de que possam fazer contatos com essa consciência transcendental. De modo que possam servir como farol de orientação para as demais pessoas dentro da vida cotidiana e das práticas religiosas, além de fixar os parâmetros filosóficos que servirão de base para sustentação da política existencial adotada pelos chefes da nação. São os xamãs. Os quais têm papel central como agente capaz de interceder junto aos espíritos, considerados responsáveis pelos acontecimentos bons e maus da tribo. Que quando em estado alterado de consciência e visionados pelo aspecto transcendental fazem consultas, diagnósticos, curas, expulsam espíritos maléficos e receitam ervas de caracteres medicinais. Desta forma, assumem importância vital para a nação tribal, são lideres espirituais que mapeiam toda a jornada dentro do mundo mítico, e sem a consulta aos mesmos nada se faz, não se dar um passo concreto na tribo sem a previa consulta aos xamãs.

Porém é preciso ver e não enlouquecer. Por isso que só os iniciados podem fazer contatos com essa consciência transcendente. Existem muitas chaves que abrem este portal da transcendência, o chamado estado alterado de consciência: uso de psicotrópicos; meditação profunda; transe mediúnico e o auscultar de sons rítmicos e contínuos dentro de uma determinada faixa de freqüência. Contudo, apesar de muitos não estarem despertos para esta percepção, não podemos negar o fato da existência desta consciência latente mais profunda que a normal dentro de cada um de nós, onde se encontram as causas de muitos fenômenos inexplicáveis.

O sistema de pesquisa positiva, ao focar mais profundamente as leis do mundo natural, fez-nos descobrir o modo de transformar as ondas acústicas em elétricas, ou seja, afloração dessa sensibilidade proporcionou a criação de meios de materialização deste conhecimento de maneira que pôde ser utilizado dentro do mundo fenomenológico de forma objetivo.

A consciência latente está para consciência exterior, assim como as ondas elétricas estão para as ondas acústicas. Portanto, os xamãs ou qualquer que seja a pessoa que consegue ser consciente também na consciência latente, encontra seu Self, podendo reencontrar o fio condutor ao longo do qual se desenrola o próprio destino. Estabelecendo comunicação livremente até mesmo dentro do espaço concebido, por um processo de sintonia que implica afinidade com as correntes de pensamentos, que existem além das dimensões de espaço e de tempo. Pois o universo infinito fervilha de vida, ao se fazer contato com “ele” encontramos a consciência do “Sagrado”. Pois é... “essa é uma viagem que não tem fim”.

Então, mudando um pouco o foco da atenção que foi desenvolvida até agora. Não podemos negar que existem questões práticas no lado de cá que demandam soluções em curto prazo, e que não podem ser negligenciadas, sob pena de temos que amargar sérias conseqüências. Uma delas é a questão da obesidade, que parece está fora de controle e vem preocupando seriamente a comunidade científica. Por esta razão é que fiz essa breve exposição sobre o estado alterado de consciência, porque é dele - por incrível que pareça - que advém a luz para o tratamento de várias doenças que hoje nos afetam.

Alguns cientistas, inspirados no estado alterado de consciência que é provocado quando se faz uso de maconha e, fazendo experiências com pacientes e algumas cobaias animais (ratos), fizeram uma importante descoberta. O uso do delta 9 tetrahidrocanabinol (Cannabis sativa), o princípio ativo da maconha, conduziu a pesquisa à desconhecida região do cérebro que desperta o apetite do fumador.

Depois de meses de pesquisas, o grupo de cientistas, guiados por imagens dos cérebros dos pacientes sob o efeito do “thc”, que foram obtidas por meio de ressonância magnética, conseguiram localizar a região do cérebro responsável pelo apetite das pessoas.

Com isso, abriram-se as portas para os futuros tratamentos da anorexia e, também, para os voltados à redução da obesidade.

Neste sentido, a industria farmacêutica já começou a trabalhar na elaboração de fármacos sintetizados à base do “thc”. Porém, enquanto os remédios não chegam às farmácias, a questão do uso terapêutico da erva natural da maconha, continua a agitar, no mundo, a reação dos proibicionistas.

Alegam que seria reprovável, sob o pretexto de uso medicinal, aprovar uma substância para ser na verdade usada de forma recreativa.

Por outro lado, em reposta à pressão popular para aprovação do uso medicinal da maconha, o órgão responsável pelo controle de medicamentos dos Estados Unidos (the Office of National Drug Control Policy) patrocinou um estudo realizado pelo Institute of Medicin, que teve como autores o Dr. Stanley J. Watson, O Dr. John A. Benson e a Dra Janet E. Joy.

O objetivo do estudo era avaliar as evidências cientificas dos benefícios e dos riscos do uso da maconha na medicina. Baseou-se em conhecimentos científicos e populares e foi validado por especialistas no assunto. O estudo foi publicado na revista Archives of General Psychiatry de junho 2000.

Por intermédio do estudo pode se aprofundar o conhecimento da neurobiologia da maconha. Foram descobertos dois tipos de receptores – estruturas orgânicas que se ligam aos componentes químicos da maconha e permitem sua ação dentro das células -, que receberam o nome CB1 e CB2 (centros cânabis), estes se localizam principalmente no cérebro e nas células do sistema imunológico.

Dentro do cérebro, estes receptores estão concentrados no sistema límbico, no córtex cerebral, no sistema motor e no hipocampo. Essas localizações explicam, em partes, os sintomas provocados pela maconha, com alteração do estado de consciência, as mudanças de humor e as alterações da coordenação motora.

A região do cérebro sensível as substâncias neurotransmissoras liberadas pelas sinapses provocadas pela ação “thc”, estão localizadas na profundidade de cada lobo temporal anterior. Contudo, elas funcionam, de modo muito íntimo, com hipotálamo, e não com os gânglios basais típicos. Acredita-se que o centro cânabis pode influi diretamente sobre o comportamento da pessoa. Pois estão bem próximas do hipocampo, que é uma parte primitiva do córtex cerebral, situada ao longo da borda mais medial do lobo temporal, curvando-se, para cima e para dentro, para formar a superfície inferior da ponta inferior do ventrículo lateral. Acredita-se que o hipocampo interprete, para o encéfalo, a importância da maior parte de nossas experiências sensoriais.

Assim, quando foi descoberto que o estado de excitação dos neurônios localizados nesses centros receptores estimulava o apetite, também pelo mesmo mecanismo descobriu-se que poderia inibi-lo quando anulado, e, por outro lado, também foram observados efeitos sobre o mecanismo auto-regulador neurogênico de feedback para controle do tecido adiposo, ou seja, ação do “thc” sobre esses centros cânabis quando anulada além de poder inibir a sensação de fome, também enviam comandos para que o cérebro acelere o metabolismo da queima calórica, uma vez que influencia de forma significativa o controle e a liberação dos hormônios da tireóide.

Conseqüentemente, criou-se um enorme alarde dentro da comunidade científica e por parte das pessoas que sofrem com os problemas decorrentes da obesidade, quando a imprensa divulgou que no laboratório Sanofi-Aventis já se encontrava em fase final de testes o desenvolvimento da droga para emagrecer.

Assim depois de criar essa enorme expectativa sobre o “rimonabant”: a promissora droga para o tratamento de obesidade e da chamada síndrome metabólica, que predispõe as pessoas a doenças cardiovasculares e diabetes; o laboratório francês Sanofi-Aventis está empenhado agora em conter os exageros na imprensa sobre os múltiplos benefícios potenciais do remédio.

O esforço do Sanofi-Aventis para desestimular notícias sobre os poderes mágicos da droga provocou uma curiosa inversão de papéis entre seus representantes e um grupo de jornalistas que o laboratório convidou para assistir à ultima reunião anual do American College of Cardiology, nos EUA em Atlanta.

Os repórteres foram confrontados com uma série de manchetes sensacionalistas projetadas numa tela. Anunciavam a chegada do “rimonabant” como uma droga milagrosa – não só para ajudar a emagrecer, como também ajudar a parar de fumar, aumentar o nível do HDL (colesterol bom que destrói o ruim) e evitar a síndrome metabólica.

Uma manchete na capa da revista Forbes saudava a chegada como “pílula definitiva”. Uma manchete do News Day descrevia o Acomplia (nome comercial do rimonabant) como a droga do prazer, referindo-se ao fato de que as pesquisas se basearam em estudos sobre os receptores cerebrais que regulam a sensação de fome causada pela maconha. O remédio bloqueia uma proteína das células cerebrais e suprime o apetite provocado pelo uso da erva.

Em seguida, foram divulgados os resultados de quatro estudos com o rimonabant. Envolveram 6.500 obesos que apresentavam algum outro risco, como diabetes, hipertensão e colesterol alto. Publicados nas mais respeitadas revistas cientificas, os estudos validaram as pesquisas do laboratório sobre os efeitos na regulação do apetite e no aumento dos gastos calóricos.

O futuro uso da droga foi tema de duas das centenas de sessões científicas assistidas pelo cerca de 20 mil médicos que compareceram ao congresso. Vários deles disseram que vêem o rimonabant como mais uma droga, potencialmente eficaz. Mas lembram que, como qualquer nova droga, os efeitos colaterais ainda não são conhecidos.

Por outro lado, o FDA depois de analisar os resultados pela ótica cientifica já sinalizou com a liberação do medicamento para o consumo, porém, ainda meio reticente faz as ultimas considerações, contudo já se vivencia dentro do mesmo o final do processo de liberação.

Porém, em relação às outras pesquisas sobre o uso da maconha, os dados indicam um efeito terapêutico ainda modesto, particularmente, no controle da dor, do alivio de náuseas e vômitos, e estimulação do apetite e bem como sobre efeito inibidor do mesmo. Seus efeitos foram melhores estabelecidos para o “thc” . Mas a maconha possui vários outros componentes que não tiveram seus efeitos estudados, e que podem trazer muitos riscos.

Os dados atuais não afastam e nem dão suporte para hipótese de que uso medicinal da maconha poderia aumentar o uso ilícito dessa droga. Ao final dos estudos os autores concluíram que o futuro do uso terapêutico da maconha esta associada com o desenvolvimento de substâncias puras, e não com o fumo da mesma.

Bom, galera... tomara que não tenha feito nenhum tipo de apologia ao uso de drogas. Porém por outro lado, existe uma grande hipocrisia no trato pela sociedade em relação às drogas. Vejam que a todo momento somos bombardeados pela mídia televisiva no sentido de fomentar o uso de algum tipo de droga. É peixinho doidão... caranguejo que rouba cerveja na praia, tartaruga que faz embaixadas e por ai vai... Na verdade, a sociedade não consegue existir sem fazer uso de algum tipo droga, e não vamos considerar como drogas apenas as ilícitas que provocam algum tipo de dependência química, e que não se coaduna com a forma adotada para sobrevivência dentro do mundo objetivo, mas, o conceito deve se ampliar também para as aquelas que provocam algum tipo de dependência psíquica, ou seja, futebol, praia, paixões, fé, cinema, namoro, racionalidade, poesia, pintura, literatura, ou seja, qualquer coisa que consiga nos colocar em estado alterado de consciência pode ser considerado droga, por conseguinte, negar as drogas é uma tremenda hipocrisia. Temos que tratar o assunto de forma mais séria e sem preconceitos, só assim conseguiremos lidar melhor e de maneira equilibrada com essa situação, afinal as drogas podem e vem se mostrando ser a solução dos vários problemas existenciais que vivenciamos na atualidade.

Imaginar um mundo desprovido de cores, é como imaginar o oceano sem os peixes, os campos sem flores ou os desertos sem oásis. Exatamente, por este motivo é que não dar para imaginar a vida sem esse estado alterado de consciência, tão necessário ao desenvolvimento psíquico e espiritual da espécie humana.

Agora acredito que dar para compreender melhor a razão do motivo da minha exposição meio que elástica, em torno do conceito sobre consciência no inicio deste artigo.

Ou seja, quando a consciência assentada nas bases racionalista deste sistema já não nos faz mais admirar nenhuma nova possibilidade, então é chegada hora de mudar os paradigmas que nos norteiam na nossa observação dentro da vida. De outra maneira, não podemos a priori negar uma forma de existência diferente daquela do nosso campo físico. Pelo menos devemos alimentar a dúvida a respeito daquela sobrevivência, que em nosso eu interno nos sugere a cada momento, e inconscientemente, e por instinto sonhamos em todas as nossas aspirações. Não é possível acreditar que a nossa terra pequenina, que vemos navegar pelo espaço como um grãozinho de areia no infinito, contenha o encerramento de todo conhecimento posto no universo.

Ou seja, “há muito mais coisa entre o céu e a terra do que possa supor a nossa vã filosofia”.

Omena.

Ohhdin
Enviado por Ohhdin em 02/01/2010
Reeditado em 23/01/2010
Código do texto: T2006872