Podre Sistema
O episódio do impeachment de Collor, o dos anões do orçamento, o do mensalão e dos recentes escândalos das ambulâncias provam, para quem ainda tinha dúvidas, que sob as cúpulas generosas do Congresso Nacional se abriga uma das maiores concentrações do poder de bandidos.
Cento e setenta parlamentares suspeitos de envolvimento nesse mais novo ato de bandidagem.
Isso significa 33% do Congresso Nacional como todo. Raras corporações abrigariam em seus quadros semelhante fatia de foras-da-lei.
Ao escândalo das ambulâncias se soma o do mensalão, no qual, entre os quarenta denunciados pelo procurador geral da República, treze são (ou eram) deputados. Acrescente-se no caso do mensalão que, por força do coleguismo entre os parlamentares, não foram identificados senão os distribuidores de propinas. Ficou fora do bando, certamente bem mais numeroso, dos que estavam na ponta de chegada do produto distribuído. Gente que estavam tanto no mensalão quanto nas ambulâncias, e ainda assim, a soma dos dois escândalos resultará num acréscimo do número de pessoas voltadas para a delinqüência. Nesse meio, há o crescimento da mistura entre religião e política. Os evangélicos, por exemplo, têm uma bancada poderosa, controlam meios de comunicação e dominam alguns partidos. Foram contra a reforma política porque o sistema atual tem lhes sido favorável, em que não há, inclusive, dificuldades a respeito das criações de mais "garotinhos".
O sentimento de impunidade de algumas pessoas parecem estar acima da lei e no meio desse mar de lama apareceram malas cheias de dinheiro, resultado de doações de fiéis, o dízimo cobrado pelas igrejas, que foram transportado por um fretamento aéreo, que agora foram revelado para quais propósitos serviam.
Os argumentos desenfreados de fieis religiosos nas tentativas de se passarem por vítimas de perseguição, representam bem as "sagradas" modelagens as quais estão submetidos. Na época, declararam que podiam fazer o que bem entendessem com o seu dinheiro (fruto de suado trabalho), rasga-lo ou até joga-lo no lixo. Esses fiéis da igreja deviam ser os primeiros a exigirem prestações de contas desses dízimos. A se colocarem em postura de questionamentos a saber como esse dinheiro é empregado. Pois, nesse sistema mercantil-eleitoral, está claro o tráfico de influencias para manejos de cargos, desvios de recursos de estatais, licitações fraudulentas e serviços superfaturados, também para elaborações de leis de isenção de impostos nas fundações de igrejas, que favorecem uns e fere a igualdade de outros, elevando a carga tributária dos então, "desiguais".
Não é absurdo supor, ainda mais que aos escândalos maiores se devem juntar os do varejo, como o "mensalinho" do então deputado Severino Cavalcanti, que elas representam 40% da Câmara. Em outros países tal parcela faria desabar o Estado.
Como cidadão contribuinte, pagador de imposto, na minha percepção de cidadão, quero saber quais os integrantes dessa quadrilha que nos roubaram nesses 20 anos que serão presos... Se os bilhões de dólares públicos que rolaram pelos canais da corrupção voltarão aos cofres da nação?
Quero Saber ?
Não vejo o clamor do povo, da sociedade, exigindo respostas a tais questões.
Mas ainda não chegamos ao pior.
Teremos eleição neste ano.
O leitor imagina que será eleito um corpo de deputados melhor do que o atual? Será, na melhor hipótese, igual. Eis o pior.
O sistema eleitoral brasileiro é feito sob medida para ladrões, candidatos a ladrão e mal-intencionados em geral. As eleições parlamentares são simultâneas às de presidente e governador. Começa aí uma laboriosa construção cujo objetivo não pode ser outro senão fazer com que o leitor vote às cegas. Claro que a atenção esmagadora dos meios de divulgação, inclusive o horário obrigatório dos partidos, se deterá na disputa dos peixes gordos, Lula contra Alckmin ou outro qualquer, no plano nacional, e candidatos a governador em cada um dos estados.
Isso não só ofusca como diminui a eleição parlamentar. O Eleitor é induzido a crer que se trata de uma escolha menor.
A essa circunstância vem se somar o diabólico sistema proporcional brasileiro. Cada partido pode apresentar um número de candidatos a deputado até uma vez e meia maior do que o número de vagas em disputa. Isso significa que em São Paulo, que tem setenta cadeiras de deputados na Câmara Federal, cada partido pode apresentar 105 candidatos. Multiplicando-se esse número pelos cerca de trinta partidos que devem registrar candidatos, tem-se uma idéia de aonde se pode chegar.
Não há possibilidade de apresentação decente dos candidatos, muito menos condições para debates entre eles e para exposição de proposta aponta para a certeza que a votação será a mais desinformada e leviana.
Esses tais que novamente se prestarão para nos representar, estavam envolvidos na campanha do desarmamento e do referendo que toda a população já sabia a resposta.
Foram contabilizados gastos na ordem de 60 milhões de reais a gratificação a entrega de armas e outros 500 milhões foram disponibilizados para a publicidade e realização do referendo.
Como toda farra é custeada com o meu, o seu, o nosso dinheiro, caberia a sociedade nesse mais um desvio de recursos público, questionamentos, ações judiciais e atitudes que impedissem a realização desse referendo e para se fazer que o gasto destinado ao referendo, o gasto com as gratificações a entrega da arma, os gastos com propaganda e publicidade dessa campanha fossem destinado em dobro para o aparelhamento (instrução, treinamentos, aumentos de salários e aumentos orçamentários destinados ao Fundo Nacional de Segurança Pública) e instrumentos (coletes, algemas, máscaras de gás, armas, rádio comunicador...) que dessem uma melhor estabilidade e segurança as nossas policias.
E... deu o que deu e nada planejaram para a defesa das corporações policiais dessa tragédia anunciada em que a população revoltada presenciou nos meses, maio e julho, um claro atestado de incompetência plena das autoridades.
Nesse podre sistema é de tontear os pobres eleitores e alguns, se comportarão como sempre:
Como fanáticos simpatizantes e torcedores dessas figuras partidárias.
O traço característico do subdesenvolvimento no âmbito político é a debilidade da participação popular. O povo não tem consciência de seus direitos, não tem consciência do importância do Estado e não participa. O povo é uma clientela, é uma pessoa disponível.
Há apenas dois caminhos para a transição do clientelismo a cidadania: a educação do eleitorado, a escolaridade e a educação política, onde o eleitor passaria a conviver com praticas de buscas coletivas dos interesses. Dessa maneira, o povo saberia então definir o que são interesses coletivos, conseguiria perceber que os interesses da política não necessariamente são interesses individuais. Através dessa prática da busca comum do bem coletivo, se conseguiria fazer a transição do clientelismo para a cidadania. É na participação do cidadão que garante que as alianças políticas espúrias não sejam realizadas acima do cidadão.
Resta saber se o cidadão, de fato, quer estar compenetrado e ativo para participar e perceber que a sua participação poderá fazer a diferença.