A IMPORTÂNCIA DOS CONTOS DE FADAS NA PERSONALIDADE INFANTIL

RESUMO

No mundo das fadas, tudo é maravilhoso, bonito, belo. Geralmente as coisas sempre dão certo no final, mas não se deixe enganar, por trás destes seres mitológicos existe muita crueldade, matança, canibalismo. O bom disso tudo é que existe uma força maior na figura do herói que sempre irá triunfar no final, não importa o quanto árduo tenha sido o seu caminho percorrido, no final os honestos e puros de coração sairão vencedores, levando a crer que a maldade não compensa, por maior que seja seu sofrimento e suas angústias, sempre existirá um conto de fadas capaz de lhe trazer a paz perdida.

PALAVRAS – CHAVE: Personalidade, psicanálise, infantil, contos de fada, importância.

INTRODUÇÃO

O termo literatura infantil é muito amplo, veremos qual é a importância dos Contos de Fada na personalidade infantil, o que ele aborda e o como ajuda na construção de suas relações.

O período mais favorável para a apreciação dos contos de fadas é por volta dos quatro ou cinco anos, quando a criança começa a perceber o mundo ao seu redor e sente medo de situações de perda, como, por exemplo, a morte dos pais.

Os contos de fadas possuem significados e significantes diferentes em determinadas faixas etárias, como por exemplo, ter um significado para uma criança de cinco anos e outro para uma de treze na mesma estória, mas, as situações, os sentimentos, os desejos e anseios são outros. É a mesma coisa quando escutamos alguém comentar que todas as vezes que lê “O Pequeno Príncipe” é como se ele tivesse sido escrito para ela naquele momento, pois em tudo ele a completa, ou seja, é significativo, mexe com o sentimento, o estado de espírito, está ligado ao psicológico, tanto das crianças quanto dos adultos.

Escolho este tema Contos de Fadas por que abordam aspectos importantes da personalidade infantil, eles são fundamentais para uma boa estrutura psicológica, pois por meio deles a criança aprende a lidar com problemas para elas insolúveis. Hoje, só conseguimos resolver nossos problemas por que quando éramos crianças, aprendemos sozinhos por meio deles.

Este tema é importante para a sociedade por que ajuda tanto pais quanto professores a entenderem melhor como são os pensamentos das crianças e desta forma ajudá-las a encontrarem a solução para os seus conflitos interiores.

Todo pedagogo, educador em geral deve saber o que se passa com seus alunos quando estes começam s se interessarem por contos de fadas, é importantíssimo saberem o que fazer e como fazer, não é só contar a estória e pronto, precisa apresentá-la e deixar que eles por si mesmos internalizem a mensagem que está nos contos.

O MARAVILHOSO NOS CONTOS DE FADAS

O maravilhoso é considerado como mágica que ocorre fora do entendimento, do espaço e do tempo natural regido pelo planeta. É importantíssimo, pois o prazer e as emoções sentidas nas estórias são carregados de simbolismo, o maravilhoso irá agir no inconsciente da criança, ajudando-a a resolver conflitos internos comuns nesta fase da vida.

Os contos de fada são ímpares, não só como uma forma de leitura, mas como obras de arte integralmente compreensíveis pela criança como nenhuma outra forma de arte o é. Como sucede com toda grande arte, o significado mais profundo do conto de fadas será diferente para cada pessoa, e diferente para a mesma pessoa em vários momentos de sua vida. A criança extrairá significados diferentes do mesmo conto de fadas, dependendo de seus interesses e necessidades do momento. Tendo oportunidade, voltará ao mesmo conto quando estiver pronta a ampliar os velhos significados ou substituí-los por novo. (BETTELHEIM 2007, p. 20-21)

Nunca ouviu ninguém dizer que toda a vez que lê “O Pequeno Príncipe” parece que a estória foi escrita para ela e para aquela determinada situação por qual está passando? É a mesma coisa, pois os contos são importantes para o desenvolvimento da personalidade infantil, por meio das estórias ela encontra soluções para seus conflitos internos tais como divórcio dos pais, abandono, morte de ente querido, etc. As crianças percebem que a personagem venceu e que desta forma, elas também poderão, é só se esforçarem, se nunca se arriscarem terão uma vida medíocre e sem graça, os contos surgiram para ajudá-las a resolver problemas.

Sendo assim, como disse MAGALHÃES (1987, p. 139) “O maravilhoso, antes de ser a antítese do real, é uma forma de interpretá-lo no nível do leitor infantil”. Aqui o resultado é muito claro, o contraste que o verdadeiro tem em relação ao fantasioso é indescritível, mas é a forma perfeita para interagir com a criança, é por meio do maravilhoso, do faz-de-conta que ela se entende e entende o mundo a sua volta.

Nos contos de fadas clássicos, sempre o oprimido consegue resolver seus problemas por meio de uma intervenção mágica, desta forma ele se liberta e restaura suas perdas ou consegue prestígio para alcançá-las, nos dias atuais, os contos estão passando por uma reformulação, pois cada época precisa de mecanismos para prender a atenção das crianças, Dona Carochinha dizia no livro “Reinações de Narizinho” de Monteiro Lobato que “as personagens das histórias já andam aborrecidas de viverem toda a vida presos dentro delas. Querem novidades. Falam em correr mundo a fim de se meterem em novas aventuras(...)” mesmo estes novos contos possuindo coisas mais reais, continuam a utilizar ferramentas que ajudam a criança a compreender tudo a sua volta, ficam mais autônomas e constroem uma visão de mundo e o mais importante de tudo, desenvolvem sua personalidade. Segundo BETTELHEIM (2007, p. 56) “O conto de fadas oferece materiais fantasiosos que sugerem sob forma simbólica à criança o que seja a batalha para atingir a auto-realização, e garante um final feliz” olhando pelo lado da psicanálise podemos afirmar que todo o simbolismo dos contos sempre estão ligados aos dilemas da humanidade, ou seja, todo o processo para a maturação emocional. Nesta fase, a criança sente necessidade de defender sua vontade, de ser independente, se sentir livre em relação a seus pais que possuem o poder sobre ela, logo os contos se tornam decisivos fazendo com que ela se identifique com o herói bom e belo, não por sua beleza e bondade, mas por sentir nele a personificação de seus problemas infantis. Em outras palavras, superam os medos e anseios que sentem, o herói sofreu, mas venceu e ela também conseguirá, ela se põe no lugar da personagem, alcançando desta forma o seu equilíbrio adulto.

A criança possui um pensamento mágico natural, é por isso que os contos, utilizando uma linguagem simbólica e metafórica as cativam tanto.

Uma pesquisa interessante feita pela Universidade católica de Pernambuco entre outubro de 2003 e agosto de 2004, constatou que as crianças que tiveram um contato bem próximo com os contos de fadas, gostam menos de brinquedos e jogos impetuosos, isto porque elas associam a leitura ao lazer. Descobriu-se que até suas brincadeiras eram menos agressivas, além de serem mais criativas. Só o fato de existir fantasia, magia e novamente o maravilhoso nestes contos já delonga o deslumbramento pela agressividade, ajudando a estimular a mente e claro a leitura.

Quem não gosta de uma bela estória com muito suspense, ingredientes mágicos, personificações humanas, animais encantados, amuletos e bruxas? Todos nós gostamos, adoramos este gênero literário, nestas estórias, podemos voar liberar nossa imaginação, nos encantarmos, somos heróis, lutamos pelo bem, pela coisa boa, pelo mesmo ideal. Esta é a diferença entre um conto de fadas e uma estória comum. Nas estórias comuns também viajamos por lugares longínquos, mas é por meio dos contos maravilhosos que estes lugares comuns tornam-se mágicos. Estas estórias, são frutos de alguns escritores que as reunindo em coletâneas nos deixaram por meio das gerações passadas, é o caso dos irmãos Grimm, La Fontaine, Perrault, Andersen. Não foram os autores oficiais, escutavam as estórias folclóricas de diferentes regiões, criadas por seus povos e as escreviam para que não se perdessem pelo tempo, eram transmitidas oralmente.

A arte em se contar uma estória é saber contá-la, deixando transparecer tudo o que as personagens estão sentindo. Nunca se deve ler ou assistir um conto de fadas, o correto seria alguém o contar pois, o maravilhoso se desvenda na forma que ela é contada, encenada, tem que entonar a voz, fazer os ruídos, criar a atmosfera, daí o nome contos de fadas, desta forma estimula a imaginação e a criatividade da criança.

Os contos, tanto os de fadas quanto os maravilhosos, ajudam as crianças a pensar, abrindo um leque de possibilidades interpretativas. GÓES (1991, p. 118) “A poesia desses contos, nascida dos mais fortes e primários sentimentos gerais, é a que mais fala e desperta a sensibilidade dos jovens”. Sim, está certo, quais são os sentimentos mais fortes que temos? O amor? O ódio? Na maioria das vezes são opostos, pois fazem parte da natureza humana e os contos estão relacionados à nossa natureza. Toda vez que começa uma estória quase sempre é a mesma coisa “Era uma vez” e o final “E viveram felizes para sempre” ou “E viveram felizes por um bom tempo”, só esta referência já mostra para a criança que é um local fora do nosso cotidiano, eles não afastam a criança da realidade, existe um espaço de tempo nas estórias, não são contadas aleatoriamente e nem sem sentido algum, geralmente o local é bem detalhado dando a impressão de enxergá-lo, não são estórias de crianças como muitos sugerem. É a base para um desenvolvimento sadio de suas habilidades, autonomia e personalidade.

COMO SURGIRAM OS CONTOS DE FADA E QUAIS SUAS CARACTERÍSTICAS

Os contos de fadas surgiram do mais reservado da alma do homem e são passados de geração em geração por meio da forma oral, de acordo com GÓES (1991, p. 80).

Não podemos nos enganar, o que parecem ser coisas infantis nestes contos, problemas sem na verdade o serem está sempre carregado de sentidos ocultos e essenciais para a nossa vida. Nunca menospreze um conto de fadas, eles são uma espécie de treinamento para as crianças, proporcionando uma construção de personalidade sadia, além de oferecer a socialização e a colocação nos grupos sociais de forma a produzir a troca de experiências.

Em final do século XVII, as fadas se rebelaram, pois as queriam usar como instrumento da moral e de informação.

Em geral, os contos de fadas surgiram em uma época onde as crianças não tinham infância como hoje. No período em que a França passava por revoluções no século XVIII, foi criado um espaço na escola para se divulgar os interesses burgueses, em contra partida surgia à imprensa e sua utilidade era a de acabar com a ideologia burguesa.

Existe também o gênero de caráter mágico ou fantasioso, conhecido como Literatura primordial, estas foram preservadas pela memória do povo e surgiram séculos antes de Cristo. É provável que o fato do homem contar histórias tenha surgido da necessidade de contar algo a alguém, de transmitir seu conhecimento.

Conforme COELHO (1991, p. 62) a célula-mater da literatura infantil é a Novelística Popular Medieval que tem origem em algumas fontes orientais como a Índia, mais possivelmente, indo-européias. Hoje essa mesma literatura recebeu o nome de “Clássicos Infantis”.

Fato é que a origem destas narrativas se origina na Idade Média e sua transmissão sempre foi oral.

Narrativas Medievais Arcaicas se popularizaram na Europa e por fim no Brasil, se transformaram em literatura folclórica, muito viva no nordeste por meio da literatura de cordel ou em literatura infantil.

Estes dois gêneros literários possuem algumas variações. Em Portugal e aqui no Brasil as histórias folclóricas ganham variantes, isto porque cada lugar possui sua forma de vida, tradições, que de acordo com sua região por meio da transmissão oral ganham alguns detalhes, isto porque a nossa língua é viva e muda de acordo com nossa necessidade, é chamada de mobilidade da vida. Já as narrativas infantis prosseguem inalteradas.

Muitos são os gêneros literários, mas vamos nos ater a um em específico: contos de fadas, este gênero é muito importante e talvez essencial para a construção do conhecimento da criança, é a base para a formação de sua personalidade.

Em grande parte desses relatos primitivos, a ação se passa fora dos limites do mundo conhecido, o que mostra que, desde as origens, a palavra se perpetuou de geração a geração ou de povos para povos, procurava dizer algo que explicasse não só a existência concreta do dia-a-dia... Mas também a que ficava para além dos limites conhecidos e compreensíveis. (COELHO, 1991 p. 15)

Aqui percebemos claramente como se começa um conto de fadas “Era uma vez” só esta forma já nos remete há um tempo que existiu e já não existe mais, ou seja, algo que não permanece mais nos dias atuais, não é conhecido das pessoas, passou, acabou, existiu e isso é o que o torna mágico, pois a criança vai imaginar a cena, a ação, as personagens, as casas, as roupas... Enfim, ela vai criar toda uma situação em sua mente, vai se envolver com o drama vai lutar internamente por algo e no final sairá vitoriosa como o herói. Vai se identificar com ele e por isso todas as vezes que ele sofrer, ela sofrerá também.

De acordo com COELHO (1991, p. 53) no meio da história, ocorreu à queda do império Romano e os povos da Germânia e da Ática européia começaram a avançar, entre as tribos nômades do norte da Ásia, conhecidos como Tártaros, havia alguns mais conhecidos que deixavam para trás muita carnificina, eram eles Hunnos e Oigours e seus nomes acabaram designando todos os demais. Estes oigours são os terríveis ogres dos contos de fadas, são ferozes, devoram crianças, gostam de sua carne tenra e saborosa, é por isso que dizemos que nossa língua é viva, por meio da história, personagens reais incorporam as estórias contadas pelo povo, originando-se em personagens fictícias, acabam fazendo parte do conto, lembram que comentamos que as histórias dependendo da região ganham detalhes? Era disso que estava referindo.

ZILBERMAN (1987, p.72) diz que nesta época apareceram os primeiros livros infantis, já que antes deste período as crianças eram tratadas como um adulto em miniatura, participando de costumes da época inclusive orgias. Como dizia Rousseau “o homem nasce bem, a sociedade o corrompe” desta forma achava que a criança devia ficar o menos possível com a sociedade, o mundo sendo cruel a deformaria, ela só precisava de proteção.

Só depois de 1812, que os irmãos Grimm reencontraram os contos de fadas e os valorizaram novamente para o imaginário humano.

Andersen é o poeta das fadas, último pertencente ao romantismo e que acreditou piamente nelas. Ele sabia mostrar a ambivalência da irrealidade em que se movem as fadas, criava crianças fantasmas, cegonhas, ratões, árvores mágicas e etc. Sabia mostrar a ironia sutilmente como em “O Soldadinho de Chumbo” e “As Galochas da Felicidade”, “A Roupa Nova do Imperador”. Existia também um excesso de sentimento, eram coisas tristes, trágicas, se falava de dor, isso é bem típico em “A Pequena Sereia”, “A Vendedora de Fósforos”, “Sapatinhos Vermelhos”, “O patinho Feio” e etc.

A moralidade é mostrada de uma forma sutil e não como ensinamento, mas ninguém foi mais moralista que ele, pois sua obra de arte e oral, nada mais é do que uma coisa só.

Já Lewis Carrol, autor de “Alice no País das Maravilhas”, consagrou o nonsense ou realidade absurda, usa o jogo lógico-semântico para criticar costumes e pessoas da época, uma pena foi à perda desta invenção pelas traduções, restando apenas o sentido mágico e absurdo. Um exemplo bem claro é o da relatividade das coisas como na própria obra, Alice cresce e diminui a todo o instante, isto sugere a angústia que a criança tem em crescer, o medo comum entre elas. Este livro é realmente para crianças e sua única função é a de apenas diverti-las. Ele chamou os contos de fadas de dádiva de amor, que nada mais é do que um presente de afeição, uma coisa boa que nos aquece e nos transforma.

Quanto aos irmãos Grimm, fizeram uma espécie de pesquisa de campo, hospedando-se de casa em casa e recolhendo memórias populares, lendas, contos napolitanos. É exatamente igual ao filme “Os Irmãos Grimm” (2005), neste filme relata bem a vida que tiveram e diga-se de passagem as trambicagens que faziam, mas é um excelente filme que ilustra bem o que aconteceu na época. Eles trouxeram para o século XIX, uma nova fonte para os contos abriram caminho para o sentimento democrático do mundo moderno, diferente de Perrault que só mostrava violência, os Grimm, mostrava o lado humano de suas personagens onde se percebe o maravilhoso da vida, seus contos são repletos de metamorfoses e encantamentos, dizem que eram abusados pela própria mãe, logo a figura da madrasta má que constantemente aparece em suas histórias era uma personificação de sua mãe, ou seja, da mãe que não aceitavam.

Existem algumas características para se localizar um conto de fadas, a primeira é a presença do maravilhoso, como já foi relatado anteriormente ele é o que dá a imaginação, é o sabor da estória. Geralmente possuem poucas personagens e em unidade, exemplos: podem ser crianças ou jovens, ou são muio feias, ou muito pobres, ou lindas, ou perversas, enfim, seus modos sempre são extremamentes exagerados.

Outra coisa importantíssima são os objetos encantados ou até mesmo animais dotados de alma e sempre estão acompanhados de madrastas, avós, reis, pais e etc. Possuem sempre uma qualidade em geral, as qualidades físicas e morais são muito nítidas e o bem sempre impera sobre o mau.

Podem-se perguntar as razões pelas quais a psicologia junguiana se interessa por mitos e contos de fada. O Dr. Jung, disse certa vez, que é nos contos de fada onde melhor se pode estudar a anatomia comparada da psique. Nos mitos, lendas ou qualquer outro material mitológico mais elaborado obtém-se as estruturas básicas da psique humana através da grande quantidade de material cultural. Mas nos contos de fada, existe um material consciente culturalmente muito menos específico e, consequentemente, eles oferecem uma imagem mais clara das estruturas psíquicas (FRANZ, 1980, p. 25)

Geralmente os defeitos das personagens causam certo constrangimento, já que os adultos acham que as crianças quererão ser iguais aos vilões, se bem que a descrição dos mesmos é bastante atraente, mas isto tudo é parte da descoberta de mundo da criança que estará conhecendo outras realidades e desta forma aprendendo algo novo, estamos vendo o poder dos contos de fadas na personalidade infantil, é normal se interessarem pelo proibido como, por exemplo, se identificar mais com o vilão do que com o herói, mas não é por esta escolha tão inocente que ela terá uma predileção por coisas ruins quando crescer depende muito também do convívio familiar e dos valores que a família estabelece para si. É muito claro quando é dito que nos contos, o material cultural é muito mais rico e nítido, as personagens são reais, o tempo é real, as sensações e sentimentos são reais, logo trabalham melhor e mais profundamente na psique das crianças principalmente.

Agora, o fator é sem dúvida o mais importante de todos os outros pontuados, o local em que o conto se dá é fundamental, seus detalhes são precisos, parece até que pode-se enxergá-lo, daí as famosas frases como “Num certo lugar”, “Era uma vez”, “Viveram felizes para sempre...

Suas brigas e disputas geralmente são lendas folclóricas, parecem sonhos e é isto que exacerba o pensamento infantil. O final da estória é sempre resolvido de forma brusca e simples, sempre o bom consegue o triunfo apetecido.

Neste mundo de fantasias e sonhos a criança encontra os seres reais, os que são parecidos com seus heróis de carne e osso e desta forma aprendem a resolver problemas de seu dia-a-dia. É nesta mistura de encanto e intimidade familiar que habita o encanto do conto.

Segundo BETTELHEIM (2008, p. 32) “Sob estes aspectos e vários outros, no conjunto da literatura infantil – com raras exceções – nada é tão enriquecedor e satisfatório para a criança, como para o adulto, do que o conto de fadas”. O que ele quis dizer é que a criança, para interiorizar a visão de mundo, precisa de histórias significativas e não ocas e sem um propósito em si. Desta foram os contos atuam no inconsciente delas, ajudando-as a resolverem conflitos internos permanentes ou temporários.

A mesma coisa acontecia quando se achava que os contos tiravam a criança do mundo real.

Depois que a psicanálise (desmistificou)s “inocência e simplicidade” do mundo da criança, os contos de fadas voltaram a ser lidos (e discutidos), justamente por descreverem um mundo pleno de experiências, de amor, mas também de destruição, de selvageria e de ambivalência. A psicanálise provou que, na verdade, os pais temem que os filhos os identifiquem com bruxas e monstros, ogres e madrastas e, em (conseqüência), deixem de amá-los (MILLARCH, 1978, p. 4)

Muito pelo contrário, a criança não vai gostar menos da mão por achá-la parecida com a madrasta e nem do pai, por ele ser parecido com um ogre, não, isto é bom, pois mostra para ela as diferenças entre as pessoas, horror e fascínio caminham juntos e seu conteúdo vai transparecer de acordo com a subjetividade de cada um. É importante lembrar sempre que as estórias somente mobilizam algo que as crianças já têm em seu interior, ou seja, não as tira da realidade para a fantasia e sim mostra o seu outro “eu”, seu outro lado que ainda estava adormecido. E quanto sua personalidade, não há o que mudar ou moldar, apenas será acentuado de acordo com os conhecimentos e ensinamentos de sua família, com suas culturas e valores, tanto conscientemente quanto inconscientemente.

Desta forma, para interiorizar o sentido de moralidade é muito simples, por meio do conto, a criança se identifica com o herói em todos os sentidos, daí é um pulo para ela associar que ele lutou, venceu, triunfou e tudo por que foi sincero bom e fiel. O incrível nisto tudo é que não deixa de ser arte, logo é interpretada da forma que quiser e do modo que achar bem. Voltamos para o livro de Exupéry “O Pequeno Príncipe”, ou seja, a cada etapa da vida, a cada fase o conto terá um significado importante e diferente, como se fosse dito algo particularmente para você apenas. Aprendemos com isso que apesar dos obstáculos, qualquer um pode vencer e superar, o importante é não se atemorizar, desta forma construímos nossa identidade.

Todo o conto de fadas contribui não só emocionalmente, mas, concretamente também, realizando quatro coisas básicas: fantasia, escape, recuperação e consolo.

Em “A Bela adormecida”, onde está a fantasia? No sonho dela, ela sonha com um príncipe encantado sem nunca ter visto e quando finalmente se encontram, os dois sentem que já se conheciam. O escape seria o quê? Claro, ouve a maldição, mas, existia o beijo para acordá-la, ou seja, havia uma esperança. No caso da recuperação, ela foi salva pelo príncipe, ganhou o beijo, despertou de seu sono profundo e o consolo é que viveu feliz para todo o sempre, ou seja, teve uma infância triste, isolada, escondida, mas tudo isso valeu a pena, pois ela realizou seu sonho que era casar-se com o príncipe dos seus sonhos... Agora, o que significam certas passagens da estória? O que significa furar o dedo na roca, dormir e despertar tanto tempo depois? Os espinhos em volta do castelo querem dizer o que? Muito simples este é um conto para adolescentes, reparem bem que a moça sobe por uma escada em caracol, espiral, ou seja, é o início da sua sexualidade, ela fura o dedo e sai sangue que na verdade esta maldição dada pela fada má é a menstruação, ela adormece e os espinhos são para protegê-la de encontros amoroso antes do tempo. Este sono significa esperar. É a passividade, ensina aos adolescentes que eles não precisam se preocupar durante períodos de desânimo e sim debruçar-se sobre si mesmo e esperar, a calmaria vai chegar, pode demorar, é apenas uma questão de tempo.

E “Chapéuzinho Vermelho”, o que significa seu capuz, sua cestinha, o lobo mau... Nada mais é, do que uma garota púbere que usando o capuz vermelho simboliza que ela já havia se tornado mocinha, logo o costume da época era de meninas novas, conversarem com mulheres mais velhas para aprenderem a cuidar de seu corpo, reparem que a idosa é sua avó e o lobo nada mais é do que digamos assim, o tarado da estória, é o homem mau, que quer violentá-la, mas o caçador aparece na figura paterna, no sentido de cuidar, de amparar, de não deixar que nada aconteça.

Para BETTELHEIM (2007, p. 20) uma estória que foi significativa na infância pode oferecer orientação na adolescência por razões diversas, um conto de fadas pode ter um significado importante tanto para uma criança de 5 ou 13 anos, porém os significados pessoais que deles extraiam possam ser bem diferentes. É por volta dos 4 ou 5 anos que os contos de fadas começam a exercer seu impacto benéfico nas crianças, independe do sexo do herói, sempre terão significado psicológico para as crianças de todas as idades.

Mas como saber qual estória contar para a criança? Primeiro, apresente algumas já que por ser pequena ainda não teve tempo de conhecê-las, depois de algumas estórias já apresentadas, deixe que a própria criança indique qual a estória está com vontade de escutar. A estória que for significativa para ela naquele momento será pedida várias vezes, ou seja, quando isto acontece é por que ela se identificou com alguma personagem e continuará pedindo a mesma estória, só pelo prazer de antecipar o que irá acontecer com determinada personagem, quando ela conseguir resolver o seu conflito interior, pedirá outra estória. Nunca explique para ela o porquê daquele conto a cativar tanto, isto destrói o encantamento da estória, deixe que ela compartilhe com você esta maravilhosa descoberta, desta forma ela constrói sua visão de mundo e sua personalidade.

Hoje só resolvemos problemas por que quando crianças aprendemos por conta própria a superá-los. O poder dos contos de fadas é tão grande que mostra que aqueles que não se arriscarem na autodescoberta, terão que se satisfazer com uma vida medíocre, uma vida sempre abaixo do fulgor dos demais. Agora, os que se arriscarem e ousarem terá poderes, ajudas aparecerão e serão sempre sucedidos na medida do possível.

O conto é terapêutico porque a própria pessoa encontra a solução. O útil não é o que o mundo exterior mostra e sim os processos interiores que têm lugar em um indivíduo.

Eles são ótimos para a formação da personalidade, pois por meio deles a criança percebe que é possível vencer obstáculos porque no final o herói sempre vence, é com esta intenção de repetição que os contos se internalizam nas crianças. Alguns conflitos internos que para as crianças são insolúveis ganham força quando percebem que nem tudo está perdido, pois a personagem venceu, um exemplo pode ser a morte dos pais, as crianças têm medo de perdê-los, então, quando percebem que a personagem sofreu, mas no final ficou tudo bem e superou a perda, suas preocupações serão mais amenas, pois terão encontrado um porto seguro. Desta forma, resolvem seus tumultos interiores. Alguns autores dizem que se uma criança não conseguir enxergar seu futuro de forma otimista, isto o prejudicará e irá estagnar seu desenvolvimento geral.

Os contos de fadas resgatam o tempo da alma, que nada mais é do que o passo das fases do amadurecimento humano.

É importantíssimo os adultos lerem os contos e depois contarem para as crianças, assim estarão abrindo brechas e a criança falará se seus próprios sentimentos e angústias se aproveitando da personagem, na realidade ela estará falando de si e não da personagem, mas ela utiliza este meio para se expor, é aí que o adulto deve ajudá-la indicando caminhos, direções, mostrando para ela formas novas de se pensar e resolver problemas.

Quando são escutados os contos atingem diretamente a camada endodérmica, é ela a responsável por emocionar tanto, dando a sensação de “dor na barriga”, sustos e etc.

Se pararmos para pensar a mensagem dos contos é sempre de coisas ruins, mostra sempre o inevitável da vida, tudo o que é ruim e mau, mas traz também a coragem para lutarmos e vencermos, passando por cima de obstáculos e chegando ao topo, ou seja, vencendo.

Conforme COELHO (1991, p. 63) o lobo nos contos aparece na figura de sanguinário, facínora. Os contos também narram grandes fomes que desta forma obrigavam os pais a abandonarem seus filhos nas florestas. A antropologia aparece também figurada na raça dos ogres, que se tornou no vago bicho-papão das crianças. Nos contos populares maravilhosos, o mundo feudal está representado em toda a sua crueza: o marido que sacrifica a esposa à sua brutalidade, por desejar a própria filha, igual ao conto Griselidis, A Pele de asno. Hoje, esta agressividade soa contida e muitas vezes modificada como na versão original de Chapéuzinho Vermelho em que depois dela comer a carne e beber o sangue da avó, é convidada pelo lobo para que se deite com ele na cama, a menina então, começa a despir-se e queimar suas roupas, já que não precisará mais delas como o lobo havia comentado. Abruptamente, quando ela já estava na cama sentiu uma forte vontade de urinar, amarrada ao pé da cama ela consegue se livrar e foge para buscar socorro. Esta com certeza não era uma estória para crianças, mas foi adaptada para tal, era cheia de partes picantes e erotismo. Foram os irmãos Grimm que amenizaram um pouco o conteúdo desta e de outras estórias.

Com o passar dos anos, a humanidade vai se modificando e atenuando a agressividade dos contos, achando que por serem escritos para crianças tanta crueldade atrapalhe a sua formação, coisa que é totalmente contrária, pois os contos estão aqui exatamente para ajudá-las a terem uma visão de mundo mais ampla, é por isso que há tantas desigualdades nos contos, como o forte vencendo o fraco, ambições por poder e posses, vaidades, orgulhos, ódios... Isto sempre fez parte da condição humana e continuará a fazer.

Para CORSO (2006, p. 306) “Não se deve esquecer de que as histórias somente mobilizam algo que as crianças já tem em seu interior, e a constituição de sua personalidade se dá a partir do que a família lhes transmite, consciente ou inconscientemente.” Se a família é bem estruturada e cada um desempenha seu papel, a criança terá modelos de conduta em casa com valores a serem seguidos, ela se espelhará em seus pais, tios, avós, irmãos e extrairá o melhor deles para si, logo que nasce a pessoa já tem a sua personalidade que é uma coisa que não se pode mudar, mas dá para trabalhá-la, não que seja uma manipulação, apenas uma “ajeitada”. Neste caso, os contos servem apenas para colocar as “coisas no lugar”, fazer com que ela enxergue algo mais e possa resolver seus problemas de uma forma mais centrada e amadurecida. No ponto de vista de ZILBERMAN (1985, p. 25) “A formação do leitor crítico, só é possível se o livro oferecer condições para a compreensão, tanto do mundo interior como do mundo real que cerca o leitor, proporcionando-lhe um embasamento mediante o qual se construa uma concepção autônoma e crítica da vida.” O livro abre as portas do imaginário tanto do adulto quanto da criança, então é muito importante que este seja de uma linguagem clara e direta. Isto quer dizer que não apenas o conto de fadas torna a criança mais autônoma, e sim que o livro também é fundamental para isso, para ajudar a formar um cidadão crítico, que saiba argumentar, expor suas idéias e se isto estiver elencado com um conto de fadas, só tornará as coisas mais fáceis. Continuando ainda no assunto de livros e literatura infantil VALENTE (2009, p. 2) diz que “quanto à afirmação de que um livro infantil é o livro amado pelas crianças, se olhado mais de perto, pode apresentar problemas, pois não seriam os livros preferidos pelas crianças também amados pelos adultos? A quem caberia, então, o gosto pelos tais livros?” Está aí a resposta, não existe literatura infantil que não agrade ao adulto, o importante é que a leitura não contenha nada que possa constranger a criança, desta forma ela pode ler o que a interessar, é certo que livros especializados para elas contem uma linguagem mais clara, de fácil acesso e existe o maravilhoso para rechear a leitura, mas de certa forma a função do livro é a de recrear, divertir, emocionar.

Desta forma, o livro não serve apenas para ensinar algo, mas também para deixar a imaginação voar, fluir. Há aquelas literaturas destinadas às crianças em que o texto é pobre, fragmentado e mutilado, sim, não possui significante e nem significados, são cheios de piegas, carregados de diminutivos que acabam empobrecendo o texto. Torna-se algo sem sabor e não agrada de forma alguma a criança que é um ser curioso e vivo, que procura descobrir as coisas e se encanta com estórias cheias de vida, animação, aventuras, fantasmas, absurdos e etc., é por isso que o conto de fadas casa perfeitamente com o imaginário das crianças e só traz benefícios, ajudando assim para a construção de uma personalidade concreta e uma visão centrada do mundo a sua volta.

CONSIDERAÇÃOES FINAIS

A finalidade dos Contos de Fadas nada mais é do que a abertura para novas descobertas, um universo totalmente novo e extraordinário bem próximo da realidade infantil.

Por meio dos contos a criança aprende a resolver seus questionamentos interiores como a resolução de problemas que para ela pareciam não haver solução aprende que na medida do possível, sempre haverá um escape, mas nem sempre será da forma que ela gostaria que fosse o importante de tudo isso é que ela terá forças para suportar as reações que virão por conseqüência de suas ações, boas ou más haverá uma repercussão.

Em conformidade os contos de fadas são para serem escutados, apreciados e internalizados, cumprindo desta forma com seu papel que é a construção da personalidade infantil, criando bases sólidas que favoreçam o seu desenvolvimento tanto na parte intelectual, moral e psíquica.

Desta forma, ao se tornarem adultos saberão resolver dificuldades, terão uma estrutura mais forte para agüentar seus problemas e saberão que mesmo depois de tantas amarguras terão uma recompensa que será a resolução do que os afligia, pode não ser o esperado, mas uma coisa é certa, sempre haverá a possibilidade para uma nova descoberta, um recomeço, pois a beleza da vida é justamente esta, lutar por seus ideais e conquistá-los e isto só os contos de fadas são capazes de proporcionar ainda na tenra idade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ZILBERMAN, Regina; MAGALHÃES, Ligia Cademartori. Literatura Infantil: Autoritarismo e Emancipação. São Paulo: Ática, 1987.

Mirian Fidelis Guimarães
Enviado por Mirian Fidelis Guimarães em 31/12/2009
Reeditado em 31/12/2009
Código do texto: T2004330
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