O "Projeto Jari" só mudou de nome
Ante Scriptum
Este artigo foi escrito em 2008. Mudaram alguns ministros mencionadados, todavia, não só sua atulidade é importante, como a realidade é desconhecida por muitos,talvez mesmo, pela maioria dos brasileiros.
Infelizmente ocorre ainda na Amazonia o que aqui é narrado. quando irão essas pessoas, dar-se conta da destruição que estão a causar na maior floresta tropical da Terra?
Mirna Cavalcanti
Durante a "última ceia " , além daquela gafe de Lula (*) , dois de seus ministros de Estado divergiram e digladiaram-se frontal e publicamente: Marina Silva (Meio Ambiente) e R. Stephanes (Agricultura), sobre as reais causas do já quase desenfreado desmatamento da Amazônia.
É de estranhar-se o comportamento daquela ministra agora. Isto porque há muitos anos tal vem ocorrendo e nunca – nunca mesmo – ouviu-se sussurro que fôsse da lunar Marina, que apesar de inteligente e preparada sempre foi figura apagada, sem luz própria. Não se sabe se por temperamento, se por conveniência, se para não perder o posto, calava-se e cala e concordava e concorda , obedecendo fielmente as ordens emanadas de seu chefe .
Quanto a seu colega, Stephanes, não só está habituado aos holofotes da mídia como os procura sempre que pode. Este fato foi facilmente constatado pelos profissionais da imprensa desde seu tempo como ministro da Previdência e Assistência Social. Não podia ver uma máquina fotográfica, uma filmadora, gravador ou fotógrafo e punha-se logo a demonstrar seu talento histriônico.
Abro um parêntese para melhor entendimento do motivo que levou Marina a exaltar-se, já que se tem mantido calada, até o advento da ceia-reunião.
Quando FHC resolveu mudar a Previdência sob falsos argumentos – diga-se: os mesmos que estão usando agora, Stephanes era seu ministro. A reforma daquela pasta, capitaneada por ele, foi um fracasso, pois o ministro nada entendia a respeito da Previdência e cercou-se de quem menos ainda sabia e, ao fim e ao cabo, após intermináveis e estéreis dicussões quem acabou perdendo fomos nós, o povo.
Perdemos porque o teimoso ministro e seu não menos teimoso presidente-scholar não quiseram aceitar o auxílio gratuito do IAB (Instituto de Advogados Brasileiros). Havíamos enviado às autoridades constituídas um trabalho completo e fundamentado nas regras atuariais e na Constituição Federal.
O projeto de reforma foi elaborado por mim, então presidente da Comissão Permanente de Estudos da Previdência Social, e pelos advogados de escola que compunham a referida comissão. Se tivesse nosso trabalho sido aplicado pelo governo, este não sairia perdendo coisa alguma e os aposentados e pensionistas, se não saíssem ganhando, pelo menos, nada perderiam – como estão perdendo desde aquela malsinada 'reforma', pois tudo foi por nós elaborado respeitando principalmente a figura do direito adquirido, consagrado na Lei Maior.
Fecho agora este longo parêntese, escrito exclusivamente para que ficasse bem clara aos leitores a personalidade de Stephanes, que, como escrevi acima, deleita-se em ser objeto da mídia.
Pelo acima exposto pode chegar-se a pensar que a discussão referida no início deste artigo deve ter sido iniciada por Stephanes, pois gosta de aparecer e tudo estava sendo filmado. Por seu lado, a doce e lunar Marina deixou sua habitual quietude de lado e, provavelmente não gostando – ou discordando de algo que seu colega dissera, redarguiu.
O assunto era a destruição da Amazônia – onde estava sendo mais destruída, causas, etc...
Acontece que ela só poderia estar a par de tudo – ou deveria estar, por dever de ofício, pois este implica em responsabilidade.Tinha ela condições, sim de, pelo menos, tentar fazer parar toda a devastação que lá tem ocorrido desde o Projeto Jari (de triste lembrança , por sinal).
Acima e além, a maior e mais pujante floresta tropical do mundo está sendo paulatinamente ocupada por estrangeiros e explorada por brasileiros "ilustres", certamente através de seus testas de ferro. O governo federal tem se mostrado incapaz e irresponsável por permitir, em vez de coibir, o que lá éstá ocorrendo. O campo de batalha dividiu-se na reunião e continua dividido.
Os assessores de Stephanes (sic) "até reconheceram um pequeno acréscimo na área plantada" e ainda que lá "nem a soja foi plantada nas duas últimas safras, tendo mesmo perdido espaço para o milho"... disseram isso, pois é óbvio. O plantio e colheita do milho são fáceis e o álcool que dele pode ser extraído (etanol) é de grade interesse para o mercado mundial.
Marina Silva assevera que "a soja tem sido plantada, tendo em vista a elevação do preço no mercado internacional".
Falaram, falaram e nada disseram de concreto. E, pelo andar da carruagem, tampouco farão algo para estancar a sangria da região, pois Marina pouco fez do muito que poderia ter feito. Stephanes, por seu lado, está com os holofotes sobre si e não vai querer ter sua cabeça cortada pelo chefe (ou pelos devastadores da região em tela).
E junta-se a tudo isso o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que é um dos fatores de pressão sobre o acelerado dematamento da Amazônia... " crescer a qualquer preço", deveria ser seu 'motto'. O problema está com tal envergadura que fez a Agência Brasil desdizer o que havia dito! Está em toda a mídia! E agora, presidente???
Foi noticiado também que Stephanes iria em comitiva verificar 'in loco' o que ocorre...
Deveria ter-se juntado a Mangabeira Unger e sua 'real e pessoal comitiva' (ele, o 'ministro do futuro' – aquele que olhando para o passado – e não para o futuro – teve a brilhante idéia de construir um aqueduto para levar água para o Nordeste ... (será que ele aprendeu tudo isso em Harvard? Sinceramente, é-me difícil crer que aquela excelente universidade do Norte o tenha aceito como professor... aliás ... o que é que ele ensina lá? "O futuro olhando para o passado ou o passado olhando para o futuro" ???)
Importante é saber, também, que o Estado do Mato Grosso tem sido o grande campeão nessa devastação sem precedentes na história. Tiveram a coragem criminosa de abater árvores em número praticamente incalculável nos 10 últimos anos. Isto não pode ser negado, pois tem estado na mídia mundial ....
...e o que fazem o presidente e sua ministra? Também de nada sabiam? Tampouco sabiam que São Paulo é um dos principais consumidores dessa madeira toda... mogno, pau-brasil, castanheiras, etc... que dominavam principalmente na Amazônia ... lindas, frondosas, com 300, 400 anos de idade ... um patrimônio quase todo destruído?
Também ignoravam?
Quanto ao dueto Stephanes e Marina: baseiam-se exclusivamente em dados – não em fatos. "Contra fatos não há argumentos", ensina o velho adágio.
Não podemos ficar impassíveis ante tamanha destruição. Os dois ministros deveriam encetar um trabalho sério, para dar um basta em tudo isso. Mas Lula deixará? E a ORSA?
Nada que se diga, nenhum dado apresentado por quem quer que seja, tem o condão de modificar a realidade. Palavras são voláteis, o vento as leva. Os poetas delas se utilizam para expressar-se frente ao mundo. Já para os jornalistas, as palavas têm como objetivo noticiar o que acontece, relatar os fatos consumados. A opinião pessoal de alguns âncoras, quando entendem do assunto, certamente pode ser valiosa.
Portanto, vamos aos fatos de extrema importância – e desconhecidos da maioria, pois tudo é feito quase escondido. A mídia comprada não noticia.
Apesar de os dois ministros terem discutido na ocasião da 'Santa Ceia" e até depois da mesma, nenhum adentrou a seara de um dos maiores perigos que lá está .
Foi implantado há muitos anos e infelizmente, de uma certa forma – e extremamente mais danosa, sobrevive com outro nome. Refiro-me ao Projeto Jari, que foi comprado pela ORSA de forma até hoje um tanto misteriosa.
A ORSA solicitou – e obteve do governo Lula, a liberação para explorar e retirar um absurdo número de hectares na região de Almeirim, no Estado do Pará. Se Lula foi o presidente que liberou o pedido de exploração, Marina Silva já era sua ministra...
Para ter-se uma idéia, o território explorado pela ORSA equivale ao nosso Estado de Santa Catarina, é maior do que Portugal, é maior ainda do que alguns países europeus – juntos.
Objetivo de tanta desfaçatez não é outro que não a retirada de madeiras nobres, toras cujo diâmetro podem atingir 1,70m – ou mais, embarcadas (no caso da ORSA), no porto de Almeirim, que recebe navios de grande calado. Estes, navegando do Oceano Atlântico, entram pela foz do Amazonas, chegam a Almeirim. Têm seus porões cheios com a preciosa carga (as castanheiras de mais de 300 anos, que antes dominavam a Amazônia, lindas, frondosas e altaneiras, jazem agora nos porões, despidas de seus verdes e luxuriantes galhos)... e voltam os navios, agora com seus bojos já prenhes – com o patrimônio da floresta e da humanidade – morto.
Rumam para o oceano com destinos que podem ser a Europa, a América do Norte, outro ponto geográfico qualquer ou mesmo outros portos, como o de Santos, pois São Paulo é um dos principais consumidores dessa madeira nobre toda, como acima escrito.
A mão-de-obra no Pará, para a derrubada desse nosso patrimônio, é por demais barata. Assim, o lucro da venda de toda a madeira deve ser enorme.
E quanto à fiscalização? É ela sempre e devidamente efetuada pelo IBAMA ??? Que tem feito Marina? Obedece a quem?
No lugar das árvores, a maioria delas milenares, são plantadas pela ORSA espécies que tornam o solo pobre em nutrientes o qual, com o perpassar do tempo, vem-se empobrecendo mais e mais, tendo grande probabilidade de transformar aquela terra – pasmem – em área desértica em pouco tempo se providências não forem tomadas de imediato.
Em substituição às árvores nativas e, portanto, que deveriam ser replantadas da mesma espécie, a ORSA planta o pinus elliotis, de orígem asiática, e o eucaliptus. E, mesmo se as árvores abatidas viessem a ser substituídas por outras de espécie idêntica, jamais seria a mesma c oisa porque levariam as centenas de anos para crescer e, até lá, o mal todo já teria sido causado.
Com o criminoso plantio das espécies invasoras, a ORSA está alterando drástica e danosamente o ecossistema da Amazônia, vale dizer: afeta, a passos largos, a tudo e a todos os seres que o compõem – e de forma irreparável. Tanto isto é verdade que os antigos costumavam dizer, na sua prática sabedoria: "nem mesmo formigas se encontram onde essas árvores são plantadas". E isso porque não só retiram da terra grande quantidade de água, mas também os elementos todos por elas são da terra retirados para sua nutrição. Vale dizer: elas são a causa de a terra perder toda a sua riqueza e tornam o solo extremamente pobre e impróprio para toda e qualquer outra espécie de plantio. O útero da mãe terra fica estéril. Metaforicamente pode-se considerar a terra assim, como a uma mulher da qual o útero é extirpado. Incapacitada de gerar vida.
E a Orsa sabe disso, mas prossegue na destruição. Tudo isso pura e simplesmente em benefício próprio, vale dizer: de seus acionistas, donos, ou lá o que seja... Qual a razão, então, de abater espécies nativas, árvores que só um entendido poderia dizer há quantos anos estão crescendo em direção ao Sol sobre esta nossa velha Terra, para plantar espécies destruidoras. A resposta salta aos olhos por ser de clareza solar.
Para eles – os donos da ORSA que se utilizam de testas-de-ferro, pois não lhes é conveniente aparecer, pouco importa o que está ocorrendo. O que interessa é apenas o lucro . A ganância crescente de uns poucos. Ganância essa que prejudicará a todos, não só no Brasil, como no orbe.
A madeira é vendida a preços elevados, pois a demanda é muita e, no mundo todo, não há floresta nem de longe assemelhada à amazônica. O pinus elliotis e o eucaliptus crescem rápido e, óbvio, como matéria-prima pela ORSA, (Monte Dourado, Pará), que as utiliza para celulose, da qual são fabricados o papel e as embalagens todas e demais derivados.
Lembremo-nos, por ser relevante: esse "crime consentido" de forma incompreensível tem sido perpetrado com a chancela das Armas da República, pois o presidente de tudo sabe. Não venha ele agora fazer o mesmo que fez quando do 'mensalão': nada sabe, nada vê, nada ouve... o governo deu permissão.
... para dar permissão, tinha que saber.
...a ministra deveria saber – nada fala para não perder o posto.
A meu ver, é chegada a hora do jornalismo investigativo entrar em ação, ir a campo, descobrir QUEM é realmente o CEO (Chief Executive Officer) da ORSA.
É extremamente provável que nem mesmo o nome que consta nos documentos constitutivos da ORSA seja de seu real CEO, pois o mesmo pode bem ser apenas um testa de ferro. Quem será ele?
http://www.brasilwiki.com.br/noticia.php?id_noticia=3896
(*) http://www.brasilwiki.com.br/noticia.php?id_noticia=3858