REFLEXÕES III
REFLEXÕES III
Alguém num momento de graça, ou de bem consigo mesmo, declara: o tempo é uma criança. De fato o tempo é uma criança, nós é que em determinado momento deixamos de o ser, e mudamos ao decorrer do que se convencionou chamar de anos. O tempo é imutável, e tem o poder mágico de se nos apresentar com a cara que melhor lhe convém, fazendo-nos prisioneiros de seus ardis.
... O tempo é tempo sem tempo/ E ri de quem tempo tem/ Tem todas as caras o tempo/ E nenhuma cara o tempo tem... ( Antologia Poética, deste autor).
Irremediavelmente o ser humano bem como todos os seres vivos, tem seu tempo de crescimento, maturação e envelhecimento. Mas o homem acelera seu envelhecimento à maneira que vai perdendo a arte de sonhar... E, é no sonho que está o segredo, não digo de vencer o tempo, mas em retardar seus estragos. Quando deixamos de sonhar, deixamos de amar e, quando deixamos de amar, renunciamos à felicidade e passamos a passageiros de terras do nunca.
E entenda-se por amor o sentimento sublime, que eleva e renova. Sem amor dificilmente florescerá a virtude, e sem a virtude não haverá compaixão, e sem compaixão seremos quais árvores sem fruto.
Que bom seria se o homem tivesse o poder de reter o tempo em suas mãos. Mas o tempo é como a areia na ampulheta na sua corrida inexorável. Nós ao nos tornarmos adultos ainda que sem nos darmos por conta, vamo-nos embrutecendo, perdendo a ternura daquela criança que aos poucos foi morrendo em nós e, disso não nos apercebemos. E, assim, vamos ficando a cada dia que passa um pouco mais infelizes.
O homem não pode ser apenas cérebro, ver as coisas só pelo seu lado lógico, porque o homem é alma e coração, não há como dissociar estas realidades sob pena de ter que pagar muito caro, pelo que ele mais almeja e a que tem direito: o de ser feliz.
O ser humano é um ser complexo, dotado de múltiplos sentimentos e alguns até muito nobres. Senhor dum indiscutível raciocínio, mas, paradoxalmente, quantas das vezes, um dos piores irracionais - seja pelo egoísmo, se locupletando sem medir meios para isso, ou solapando a liberdade e direitos do seu semelhante, roubando-lhe quantas vezes, inclusive o que ele tem de mais sagrado, a própria vida.
Não se conhece no reino dos chamados animais irracionais casos de pais que maltratem e muito menos que matem seus filhotes, por simples maldade. Já no mundo dos humanos, vez por outra somos assombrados com casos de selvageria tal, que nos faz envergonhar de a tal espécie pertencermos. Vejamos por exemplo o caso mais recente, o daquela inocente criancinha crivada de agulhas por todo o corpo que, durante dias seguidos era submetido às maiores tormentas, por um degenerado seu padrasto, que não há adjetivos para classificar tal ser infame. Para casos como este só a morte seria a sentença justa, mas morte lenta para que servisse de exemplo a outros degenerados que andam por aí à solta. Tais feras não tem regeneração, pois não tem coração e, se alma tem, é feita só do mal.
Que o divino Menino Jesus mais uma vez neste Natal se compadeça da pobre e tão doente humanidade, pela qual entregou sua própria vida, mas para tristeza sua tão sublime sacrifício parece ter sido em vão.
Eduardo de Almeida Farias