Natal é Paz!* - Edgard Steffen

ARTIGO - [ 19/12 ]

Natal é Paz!* - http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=44&id=249054

Edgard Steffen

Notícia publicada na edição de 19/12/2009 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 2 do caderno A.

Noite azul, sem igual,

Deus nos deu um Feliz Natal

Nosso lar está cheio de luz

Paz na Terra!Nasceu Jesus!

(Oreste Barbosa - Sucesso de Dick Farney)

A visita de Deus à Terra aconteceu num abrigo para animais, sem assessoria, sem pompa e circunstância

Quando a Rainha Elizabeth II visitou os EEUU levou 1.800 kg de bagagem. Entre seus pertences, 40 quartilhos (0,588 l) de plasma, assentos de pelica branca para vasos sanitários, muita roupa para diferentes cerimônias e encontros. Até um traje para luto fez parte do guarda-roupa; alguém importante poderia morrer e à Soberana não ficaria bem aparecer, nas exéquias, sem veste adequada. Com a real comitiva, vieram secretários, atendentes, duas camareiras e a cabeleireira pessoal da Rainha. O custo de sua viagem foi 20 milhões de dólares. A visita ao Brasil não deve ter ficado por muito menos. Bem mais nova, na ocasião, ela resolveu dar uma cavalgada. Encilharam um puro-sangue para o real passeio. Sorte do animal. Virou garanhão! Ganhou aposentadoria definitiva porque, nenhum traseiro plebeu poderia sentar-se onde as nobres nádegas haviam repousado. As redes de televisão incumbiram-se de espalhar, para o mundo, tudo o que de importante aconteceu durante a visita da Rainha.

A visita de Deus à Terra aconteceu num abrigo para animais, sem assessoria, sem pompa e circunstância. Chegou sem comitiva. Além dos animais, presente apenas o casal que o receberia como filho. O recém-nascido foi acomodado num cocho onde as reses recebiam alimentação. A notícia de sua chegada - com a mensagem de “Glória a Deus nas Alturas e Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade” - foi vista e ouvida apenas por gente muito humilde, cuidadora dos rebanhos, longe da cidade.

Esperado pelos judeus como “O Messias”, “O Ungido”, chegou sem nenhuma bagagem. Suas únicas posses, as faixas que o envolveram. “Encontrareis o menino envolto em panos e deitado numa manjedoura”. descreveu Lucas em seu Evangelho (2:12). Para livramento de todos os jugos, havia quem imaginasse o Messias, numa carruagem de fogo, brandindo flamejante espada libertadora. O esperado libertador, ao crescer, em lugar de ações de guerra, viria a falar de paz, amor, mansidão, perdão, benignidade, misericórdia e ressurreição. Em vez de revide e morte, a outra face e vida. Quem o esperasse montado em vistoso corcel, ajaezado para combates, viria a se escandalizar com sua figura. No Domingo de Ramos, às vésperas do vicariante sacrifício, o Deus-Conosco entrou em Jerusalém assentado sobre jumentinho, filho de animal de carga. A Bíblia não menciona o destino do animal, mas, com certeza, seguiu a vida de seus ascendentes asininos e continuou carregando coisas e gente.

Quando acendemos luzes ou velas do Advento, declaramos que fazemos festa porque acreditamos que aquela criança, nascida Belém, é Deus. Nele, o Verbo se fez carne e habitou entre nós (João 1:14). Não fosse o Messias (o Ungido) não haveria Natal.

Entretanto, na maioria das comemorações natalinas, o grande ausente é o Aniversariante. No mundo em que a lógica do consumo gera quase tudo, a sociedade tem ondas de movimento acelerado, que afastam o homem da raiz das coisas. É o que acontece no período natalino. Desdobrando-se - pelo balanço anual ou pelo aumento das horas de trabalho - para atender à freguesia; atulhado e atordoado por apelos de consumo; coagido pela quase obrigação de presentear; atenção ligada ao término dos campeonatos esportivos; preso nos congestionamentos ou nas enchentes; assustado pelo medo de assalto e violências; obrigado a participar de formaturas e comemorações próprias do período, o homem moderno tem pouco tempo para refletir sobre o significado do Natal. Chega a esquecer que Natal é Paz, que Natal é Amor.

Hora de ficar mais tempo com a família, pela alegria de ter e estar com a família. Poder contar, às crianças, lendas como as de Papai Noel, da Arvore de Natal, mas sem esquecer de narrar a linda história do Menino-Deus deitado na manjedoura rodeado de animais e adorado pelos pais, magos e pastores. Criança adora ouvir histórias. Encontre tempo para isso.

E tenha um Feliz Natal!

(*) Elaborada a partir de liturgia de Natal escrita por Lucia Steffen (irmã do cronista).

Edgard Steffen é médico pediatra (edgard.steffen@gmail.com) - http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=44&id=249054

Douglas Lara
Enviado por Douglas Lara em 20/12/2009
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