Quando o Natal é para sempre - Rodrigo Gasparini

SINOS DA SOLIDARIEDADE - [ 20/12 ]

Notícia publicada na edição de 20/12/2009 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 3 do caderno D.

Emídio Marques Sonho natalino de Rafael: piscina de plástico e uma bola oficial de futebol

O sonho do garoto Rafael é ter uma bola oficial de futebol e uma piscina de plástico. No próximo Natal, é possível que ganhe a bola. A piscina não virá tão logo, pois depende da construção do segundo piso no sobrado onde mora, no Jardim Santo André 2, Zona Norte de Sorocaba.

Do alto dos seus 9 anos de idade, porém, ele sabe que nenhum brinquedo será capaz de superar, em importância, o presente recebido no ano passado: o quarto que divide com os irmãos Fábio e Fabrício. No local, além das três camas e de um televisor antigo, estão as duas caixas que o garoto exibe com orgulho: a de brinquedos e a de livros. Sobre os lençóis devidamente arrumados, repousa uma camisa do Corinthians.

Filho da cabeleireira Lindamar Nunes de Sale e do motorista Darci de Souza (que também são pais das adolescentes Juliane e Elaine), Rafael sabe de onde vem a ajuda que possibilitou a virada financeira da família: "É muito longe daqui, não sei quanto tempo demora para chegar. Mas já vi no mapa". Ele está se referindo à Europa, onde moram as pessoas que, anonimamente, enviam dinheiro ao Brasil e a outros países pobres através do projeto "Adoção à Distância".

Em todo o mundo, 18,4 mil crianças de 45 países são atendidas pela iniciativa, criada há mais de 30 anos pelo Movimento dos Focolares. Em Sorocaba, o projeto colabora com cerca de 25 delas. Mensalmente, os pais de Rafael recebem um vale compras no valor de R$ 45, gastos prioritariamente com frutas, verduras e legumes. "Mas eu gosto de iogurte, sempre peço para minha mãe comprar de todos os sabores", lembra o garoto.

A intenção do projeto é que a família - acompanhada de perto por coordenadores locais - perceba a importância da ajuda e se movimente para mudar de vida. Foi exatamente o que aconteceu na casa da Rafael. O pai, antes desempregado, agora viaja diariamente levando executivos para São Paulo. A mãe improvisou um salão de beleza na sala, que era utilizada como dormitório pelos cinco filhos. Seus materiais de trabalho dividem espaço com o sofá, a TV, um calendário da empresa onde o marido trabalha, o quadro de um caminhão e outro com a foto do papa Bento XVI.

Em todo Natal, as crianças que fazem parte do projeto escrevem cartas e mandam fotos aos seus padrinhos europeus. No ano passado, Rafael agradeceu pela ajuda e contou que já tinha um quarto e uma vida melhor. A carta deste ano será escrita em breve, com novos agradecimentos. "Se não fosse por eles, eu ia dormir no chão. Vou dizer obrigado por tudo o que eles mandam aqui para casa", diz o garoto, que não sabe quem são seus padrinhos.

Se o pedido de Rafael for atendido, as peladas de rua que têm o portão da casa transformado num gol improvisado, em breve serão disputadas com uma bola oficial. Ele fará grandes jogadas imitando o atacante Dentinho, seu ídolo corintiano. E aumentará ainda mais o riso fácil de um menino que, sem perder a inocência, já sabe como a vida pode ser mais difícil para uns do que para outros.

Há crianças que ganham presentes dos mais luxuosos no Natal. Outros, como Rafael, nunca receberam a visita do Papai Noel. "Sempre peço, mas ele nunca me trouxe nada", diz num primeiro momento. Conclusão que muda após uma breve reflexão: "Mas ele me deu os padrinhos". Até por isso, o garoto já sabe exatamente o que fazer para retribuir a solidariedade que recebe. "Quando eu crescer, também vou ajudar aos outros. A gente tem de ajudar quem precisa, pois há várias pessoas que precisam, além de nós". Lição de Natal, aprendida para toda a vida. - http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=86&id=249241

Douglas Lara
Enviado por Douglas Lara em 20/12/2009
Código do texto: T1987316