Aprendendo a lidar com a morte para aprender a viver
Maria Daniela Soares F. Mascarenhas*
A morte é dos temas sobre os quais preferimos nem falar, até para não nos lembrarmos de que nós também morreremos um dia.
No TRT 5ª. Região, sofremos nos últimos meses, o pesar pela morte inesperada de magistrados e de servidores colegas nossos.
Pensar na morte nos leva a pensar sobre as nossas vidas. Surge a pergunta tão oportuna: O que tenho feito da minha vida?
Arriscamos compreender melhor esta pergunta. Qual o sentido a vida tem para mim? Que direção estou dando a minha existência? Como cheguei até aqui?
Você tem a sensação de estar vivendo como se estivesse sob um rolo compressor, sendo levado? Ou você tem clareza aonde quer chegar, e que caminhos você precisa trilhar para chegar lá?
Se você soubesse estar vivendo os seus últimos meses de vida, de que forma você viveria o tempo restante? Ou o que você faria diferente?
Estes são questionamentos profundos, e que não podem ser respondidos de maneira imediata. Na verdade, diria que eles deveriam nos acompanhar no nosso dia a dia; como se fizessem parte de um livrinho de bolso e de cabeceira. Sim, porque precisamos sempre estar nos questionando, exercitando um diálogo interno, onde somos, ao mesmo tempo, o interlocutor e o entrevistado.
Na rotina do trabalho, na relação com filhos, companheiro(a), colegas de trabalho; no trânsito, ao acordar, ao comer, ao dormir, em todas essas situações diárias comuns, nos deparamos com escolhas a serem feitas. Nem sempre nos damos conta de que temos a oportunidade de realizar escolhas, quando as fazemos de forma mecânica, procurando seguir caminhos conhecidos e mais seguros; embora nem sempre sejam eles os que nos tragam mais a sensação de realização pessoal, ou que expressem a nossa individualidade.
Estamos nos aproximando do Natal e do Reveillon. Para muitos, época de relembrar e sentir saudades de parentes e amigos que “se foram”, o que torna este um período saudoso e pesaroso. E então a lembrança da “morte” parece preencher um espaço vazio dentro do peito e passamos a ter um álibi que nos permite chorar e fazer contato com a nossa própria tristeza. E muitos dizem: “Detesto o Natal”, quando na verdade o difícil é conviver com a nossa própria finitude.
Um ano se finda e com ele se vão muitas lembranças. Um ano novo se aproxima. Se pensarmos no Natal através do símbolo do nascimento, produz-se em nosso psiquismo uma sensação de expectativa e um desejo de recomeço. Enchemo-nos de bons propósitos para o próximo ano. O problema é que essa prazerosa sensação de recomeço quase sempre se esvai depois que terminam as férias e passa o carnaval. Quando a vida toma o seu curso normal e nos deixamos mais uma vez nos arrastar pela sensação esmagadora de rotina.
Guardamos na gaveta os bons propósitos e, principalmente, os questionamentos. Até que alguma notícia de morte nos chegue e mais uma vez voltemos a pensar sobre o que estamos fazendo da nossa vida.
Finalizando, os nossos entes queridos que partiram merecem a nossa honra e não apenas o nosso pesar. O que significa honrá-los? É fazer valer aquilo que deles recebemos. Seja a nossa própria vida – quando se trata dos nossos pais; seja o carinho, a dedicação e amizade no tempo em que convivemos e que encheu a nossa vida de significado; ou até mesmo tudo o que com eles aprendemos através de momentos difíceis de conflitos ou discordâncias – que fazem parte da nossa existência e representam uma válvula para o crescimento.
Somos seres desejantes, pensantes e pulsantes. O sofrimento e a alegria se revezam na nossa existência. Aceitar e permitir o fluir dessas polaridades nos traz a possibilidade de viver de forma plena e saudável. O congelamento representa a morte, enquanto a impossibilidade interna de mudanças, diante do medo do sofrimento. Viver significa enfrentar desafios e atravessar perdas diariamente. Aceitar esse ciclo como parte da nossa vida nos permite fazer o que é essencial. Como diriam as nossas avós, o tempo é milagroso, não há dores que não passem e nada como um dia após o outro. E que venha a vida!
*Psicóloga do Serviço de Saúde do TRT5