A MAÇONARIA E A POLÍTICA
Quando se fala de maçonaria e política o assunto é mal compreendido e até certo ponto carregado de controvérsias. Muitos Irmãos acham que não se deve falar de política dentro do Templo, pois acabam interpretando automaticamente como político-partidária.
Se analisarmos essa questão com mais profundidade e o rigor que ela merece, à luz da evolução e o desdobramento do conceito de política na maçonaria universal através da história, iremos descobrir que há duas correntes claramente estabelecidas: a Anglo-Saxônica e a Latina.
A Anglo-Saxônica a proibe terminantemente desde a Constituição de Anderson, onde ela é clara "...e sobre tudo deve-se evitar discussões sobre religião, política e nacionalidade", "...nenhuma discórdia ou querela privada deverá transpor a porta da Loja, menos ainda querelas a respeito de religião ou nações, ou política de Estado...".
Na época essa Constituição assim deliberou porque proliferavam pela Europa violências políticas (guerra dos 30 anos), religiosas (dogmatismo e sectarismo extremo entre anglicanos, católicos e protestantes) e reascendia um bárbaro anti-semitismo.
Já a Maçonaria Latina, nas regiões normalmente de regimes coloniais, ditadoriais e autoritários desde a época das primeiras colonizações na América do Sul, só proibe a política partidária ou de facção.
Estudos promovidos por Irmãos Maçons chegaram a conclusão de que "há de se distinguir três faixas de ação política na maçonaria":
A PRIMEIRA, de sustentação obrigatória para qualquer Maçom: Luta e Trabalho contra o "extremismo político e o absolutismo religioso"; pela liberdade e igualdade dos cidadãos perante a lei, pela autodeterminação dos povos; pelo governo representativo, através de eleições períódicas e justas; pelo império da lei que venha de encontro aos anseios do povo que a ele se destina; pela justiça social, diminuindo as distâncias no convívio humano; pelo ensino oficial leigo; pela igualdade jurídica do homem e da mulher; pela igualdade de oportunidades para todos os cidadãos; pela separação entre igreja e Estado; pelo livre exercício do culto religioso; pela supremacia do casamento civil; pelos direitos de petição, reunião e associação; pela inviolabilidade do domícilio; pela defesa dos acusados; pela democratização do capital; pela obrigatoriedade do trabalho, considerando-o como dever social; pela supressão da miséria, da fome e das guerras, pelo direito a prosperidade...".
A SEGUNDA, permissiva a qualquer Maçom: política em defesa dos interesses da comunidade, tendo por base e parâmetro a primeira. Nesta faixa de ação, "para não violarmos a consciência de nehum Irmão, devemos seguir as seguintes normas: a) toda doutrina deve ser exposta em Loja; b) nenhuma doutrina pode ser objeto de um voto ou qualquer medida que implique em uma adesão".
A TERCEIRA, terminantemente proíbida de exposição e debate em loja: política-partidária ou facciosa. "O nome e a bandeira da instituição não pode ser conduzida à luta eleitoral e à competição rasteira das urnas. Toda reunião maçônica, tendo por objetivo discussão político-partidária ou de facção de qualquer espécie ou a luta de partidos políticos entre sí, deve ser sumariamente interditada".
Dizem que a maçonaria de hoje vive de glórias do passado, e até certo ponto esta afirmação é correta. Durante várias décadas a maçonaria brasileira se preocupou mais com cisões internas, omitindo-se das grandes questões que afligiram e ainda continuam a afligir nossa Nação, nosso povo.
Sabe-se que altos corpos maçônicos já estão se movimentando, trabalhando até, pela defesa e aplicação dos princípios basilares da liberdade, igualdade, prosperidade. Mas a grande maiorira das Lojas ainda permanece omissa nas questões políticas da comunidade em que vive.
Isso não deve ocorrer, pois a Maçonaria deve sim participar ativamente no seio da comuna em que vive, seja da forma social, seja da forma política.
Como disse Bertold Brecht,"o pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, não participa dos acontecimentos políticos;não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependa de decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política; ele não sabe que de sua ignorância nasce a prostitua, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e o explorador das empresas nacionais e multinacionais".
Respeitando-se integralmente as Landmarks e os 33 mandamentos da Maçonaria, chega-se a conclusão de que a Maçonaria deve, e tem a obrigação social e moral de participar dos interesses maiores da comunidade. Deve a Maçonaria, por intermédio das Lojas, discutir e avaliar internamente os problemas estruturais da sociedade em que vivemos. Deve ajudar a encontrar soluções e colaborar em suas implantações.
Não importa o tamanho do município em que você Maçom vive. Ele é importante para você, e para o Brasil.
Se cada município, por intermédio de suas entidades de classe buscar encontrar soluções para seus próprios problemas de forma criativa e participativa, certamente a população do Município, do Estado, do BRASIL, ganharão com isto. E muito!
Para arrematar, a moderna sociologia nos diz que em um futuro próximo, as grandes decisões sobre nosso próprio destino (material) passarão, necessariamente pelo Terceiro Setor (ONG's).
E, sei que alguns Irmãos não poderão concordar, mas a Maçonaria é uma das maiores ONG's do planeta.
Que o G.A.D.U. ilumine a todos.