Que tola eu fui...

Atrasada...a chuva.Sentei no degrau para esperar a chuva passar. Olhei a rua ao longe com o canto dos olhos como quem quer entregar os pontos. Respirei fundo. Olhei as horas. E fiquei a ver o sol se pôr por trás dos prédios. Os pingos caíam pesados, nos telhados, nos carros, na rua. E fiquei a olhar as pessoas correndo da água que caía do céu. Límpida e gelada. Sentada no degrau a me proteger de sei-lá-o-quê me senti tão adulta que tive nojo de mim mesma. E senti vergonha de estar sentada no degrau. De tentar proteger o cabelo. De não querer me molhar. E de resmungar quando os pingos começaram a cair. Percebi que estava virando mesmo um cogumelo ( como diria o sábio Pequeno Príncipe).

Esqueci da delícia de me molhar na chuva. De colocar barquinho de papel no fio de água que corre pelo meio-fio. De ficar com os dedos enrugados. De pular nas poças d'agua. De molhar e sujar a roupa. De rodar com os braços abertos. E de levar bronca da mãe ao chegar em casa.

Me senti pequena por correr da água que caía do céu. E por um instante olhei a chuva com os olhos da infância que ainda há dentro de mim. Olhei somente.Meu corpo não teve forças para novamente tomar banho de chuva, molhar os cabelos e enrugar os dedos. Olhei as horas novamente. Vi os pingos da chuva enfraquecerem quase que por tristeza de ver que a mulher perdera seu encanto. Atravessei a rua correndo com a bolsa sobre a cabeça. Entrei no ônibus com o olhar cansado. E a chuva desistiu de pingar, na tristeza de ver que a mulher, realmente, virara um cogumelo.Aí paro e penso "Que tola eu fui..."