Advento já!

ADVENTO JÁ

Quando João Batista, às margens do Jordão, recomenda a seus ouvintes que “endireitem os caminhos do Senhor, aplainem os valos e ponham abaixo as elevações, não está apenas se referindo a um momento determinado da história, quando Jesus, o Messias vai chegar. É interessante notar-se que a vinda do Messias não é um instante, mas um tempo, um segmento temporal que tem início com o nascimento de Jesus mas que iria perdurar por todos os tempos, pois mesmo retornando à casa do Pai, Jesus anunciou que ficaria com seu povo, “todos os dias, até o fim dos séculos”.

Na verdade, nesse ficar todos os dias, revela-se todo o mistério do “Deus Conosco” (o Emanuel anunciado), quando Jesus, através da oração, das Sagradas Escrituras, da Eucaristia, dos pobres, dos Sacramentos e da Igreja, decidiu permanecer entre nós. Na parusia, a segunda e definitiva volta de Jesus, será o fim, e aí acontecerá o juízo. Embora algumas literaturas recentes de pouca inspiração e menor credibilidade, teimem em afirmar que a parusia e o fim não serão concomitantes (contrariando as Escrituras).

O Natal, de fato, aconteceu uma só vez. O que se comemora é a memória do Natal, é o grande feito de Deus que, por amar os homens, deu-lhes seu Filho único, para que todos os que nele crerem não pereçam mas tenham vida. A vida cristã iniciada no batismo é simples porém misteriosa. O batismo, dado às crianças, significa morte. Morte para o pecado, morte em Cristo em ordem da ressurreição.

Assim também o Advento que ora se festeja, não é propriamente o advento do Natal, pois o Natal já aconteceu, e o que há, dia 25 de dezembro é como que um aniversário de Jesus, uma comemoração de seu nascimento. Por que então o Advento ?

A despeito do simbolismo natalino, não se pode afirmar que Jesus vai chegar no Natal. Ele já chegou, ressuscitou, subiu aos céus, está, de certa forma, no meio de nós, e há de voltar em sua glória, naquilo que os teólogos chamam de parusia (a visita). Então, o tempo de preparação que se vive no Advento e que a Igreja de forma tão veemente exorta, não é para um novo nascimento de Jesus-menino, mas um tempo de reflexão, contrição e arrependimento.

Deve haver uma preparação para a segunda vinda de Jesus, quando então não será tempo de Natal, mas os “tempos do Reino” que durarão para sempre. Para o Natal a gente compra presentes, pinta a casa, remete carões aos amigos e prepara a “missa do galo”. É uma preparação relativamente simples.

Mas como estamos preparados para o que os antigos “pais da Igreja” chamavam de vere dies natalis (o verdadeiro dia de Natal) ? O advento é sobretudo um tempo de reflexão, restauração e reconciliação. É tempo de varrer o espírito e tirar o pó da alma...

Não adianta fazer uma simples trégua no dia de Natal, como fizeram as tropas francesas e alemãs no Primeira Guerra Mundial (até jogaram futebol). A sociedade só terá paz, acolhida e harmonia, a partir da reconciliação. O advento é um tempo para resgatar esses sentimentos.

A maior ameaça ao Deus-menino, hoje não é Herodes (a violência e o ciúme) mas Papai Noel (o consumo e ao materialismo).

O Advento parece um tempo que antecede uma festa humana; e, de certa forma é. Mas na verdade, no fundo, mesmo, ele é a preparação para a grande festa escatológica, aquela que vai acontecer no Reino, uma festa que, para os que aceitarem o convite, nunca terá fim. Para o advento dessa festa próxima, como está nossa preparação?

Teólogo leigo com Doutorado em Teologia Moral