Corrupção no Brasil: infelizmente, a culpa também é nossa

Resumo

Este material traz algumas reflexões sobre um dos maiores escândalos, envolvendo corrupção, já observados na história do Brasil. Igualmente adverte que, se há maus políticos no poder fomos nós que os elegemos e, portanto, temos uma parcela de culpa nisso. Além disso, revela o importantíssimo valor de uma ferramenta da democracia que é capaz de colocar um ponto final na chacota, na roubalheira e no descaramento, o voto.

Palavras – chave

Política, corrupção, povo, voto.

Introdução

Quando imaginamos ter visto de tudo no submundo da política, nesta semana, fomos surpreendidos com mais uma agressão à ética e aos bons costumes por parte dos detentores do poder. O pior é que, agora, as falcatruas ocorreram do lado contrário ao governo; isto é, na oposição - como em uma retrospectiva do “mensalão petista”, só que agora, do lado democrata. Em uma total institucionalização do descaramento e do deboche assistimos às filmagens, nas quais aparece, nitidamente, dinheiro público esboroando-se em cuecas, meias, bolsas e até, via correspondência. Enquanto os astros dos curtas-metragens (governantes) dão gargalhadas, comemorando seus altíssimos lucros, nós, da platéia, choramos por mais um desapontamento.

José Roberto Arruda - Governador de Brasília - foi protagonista de um dos maiores escândalos, envolvendo corrupção, já observados na história do Brasil, no qual, representantes do povo foram filmados corrompendo, sendo corrompidos e, no final, agradecendo a Deus por toda graça alcançada. Os promotores responsáveis pelo caso calculam que a “quadrilha do panetone” tenha desviado a formidável soma de 500 milhões de reais dos cofres públicos.

Entendendo um pouco mais sobre o caso...

“No dia 4 de setembro de 2006, no auge da eleição para o governo do Distrito Federal, José Roberto Arruda encaminha-se até o escritório do delegado aposentado Durval Barbosa, então secretário do governo e seu coordenador de campanha. Ele aperta a mão de Durval e lhe dá um tapinha nas costas: "Meu presidente!". Arruda acomoda-se gostosamente no sofá, dá um profundo suspiro e pede um chazinho à secretária. Tira do bolso um papelzinho e diz a Durval: "Queria ver quatro coisinhas com você. Só posso pedir para você porque é algo pessoal". Arruda começa pela corrupção miúda, pedindo a Durval que consiga emprego para o filho dele numa das empresas que mantêm contratos com o governo. Depois abusa um pouquinho mais e recomenda que o delegado "ajude" a empresa de um amigo. Finalmente pergunta sobre o financiamento para a campanha. "Estou medroso com esse troço", diz Arruda. Durval tenta tranquilizá-lo: "A gente só não pode internalizar o dinheiro". Ato contínuo, Durval abre o armário, pega um pacote com 50 000 reais e o entrega a Arruda. "Ah, ótimo", agradece o candidato. Num lapso de 23 minutos e 45 segundos, com o equipamento do ladino Durval e a desfaçatez de Arruda, produziu-se o primeiro capítulo da mais devastadora peça de corrupção já registrada na história do país”. (Revista Veja, ed. 2142 – 09/12/2009).

Quiçá dominado pelo espírito natalício e contanto uma versão que, talvez, nem Papai Noel acredite, “Arruda veio a público na semana passada para dizer que, sim, ele recebeu o pacotão de dinheiro que aparece no vídeo - mas que, por nobreza de coração, usou os recursos na compra de panetones para os pobres que habitam a periferia de Brasília”. (Revista Veja). Seria cômica se a situação não fosse tão trágica, os mesmos veículos de comunicação que anunciaram a tal roubalheira generalizada em Brasília, também informaram sobre as tragédias ocasionadas pelas fortes chuvas em todo país. Será que o dinheiro desviado pelos representantes do povo não seria suficiente para realojar estas famílias que, atualmente, habitam em áreas de altíssimo risco? Somente em São Paulo - em 48 horas - houve 11 mortos por soterramento. (Fonte: Estadão)

“A implosão do esquema de corrupção montado no governo do DF provocou um abalo sísmico no DEM. Diante das cenas chocantes, os democratas concluíram que a única saída para minimizar o prejuízo eleitoral do partido com o escândalo seria a expulsão imediata do governador. A estratégia, porém, precisou ser alterada após uma reunião na qual Arruda ameaçou revelar segredos que aparentemente não podem ser expostos à luz do sol. "Se vocês radicalizarem comigo, eu radicalizo com vocês", avisou o governador.” (Revista Veja, ed. 2142 – 09/12/2009). Com isso, podemos concluir que há mais coisa a ser revelada. Quais segredos serão esses que levaram a oposição (DEM) a retroceder (por medo de que viessem à tona) no que diz respeito à expulsão imediata do governador de Brasília - DF?

Em uma rápida análise da vida política do país, já nos deparamos com os “Anões do orçamento”, com os “Vampiros da saúde”, com a “Mc Fraude”, com a “Pizzaria das CPI’s” etc. Escândalos que, infelizmente, foram absorvidos e esquecidos pela maior parte da população brasileira. Infelizmente, o povo tem a memória muito curta para esses assuntos, especialmente em época de comemoração pela conquista do Rio de janeiro para sede das Olimpíadas de 2016 ou quando se têm as atenções roubadas por uma perspectiva sobre a Copa do mundo ou pela final do campeonato brasileiro de futebol.

Faz-se imperativo ressaltar que vivemos em um país democrático cuja Constituição, em seu art. 1º, parágrafo único, solidifica que: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. (Constituição da República Federativa do Brasil). Democracia quer dizer governo do povo e para o povo, isto significa, mais explicitamente, que é o próprio povo que escolhe quem irá representá-lo. Portanto, temos uma importantíssima ferramenta democrática em nossas mãos: o voto. Democrático, pois, trata-se da manifestação da vontade popular, tem mesmo peso para todos, independentemente de cor, sexo, religião, escolaridade etc. O voto de um analfabeto vale tanto quanto o voto de um professor, por exemplo. Nas urnas somos todos iguais, homossexuais e heterossexuais, brancos e negros, ricos e pobres. Vejamos, a título de exemplo, como a nossa Magna Carta, em seu art. 14, caput, trata do assunto: “A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com igual valor para todos...” Mas por outro lado, se assistimos a tanta desonestidade por parte de nossos representantes, infelizmente, uma parcela de culpa também é nossa. Não estamos elegendo bem nossos governantes, se existem maus políticos no poder, fomos nós que os escolhemos. Não estamos participando do arcabouço político do país e, portanto, não gravamos os nomes dos envolvidos em falcatruas. Em 2010 teremos uma grande oportunidade de colocarmos um ponto final na roubalheira, no descaramento, na chacota; afinal de contas, haverá eleições para presidente da República, Governador, Senador, Deputado Federal e Deputado Estadual. Consequentemente, mais uma vez, a escolha será nossa: renovação ou mais quatro anos no esquecimento?

Referências

http://www.estadao.com.br/noticias/geral,numero-de-mortes-em-sp-pela-chuva-chega-a-11,477240,0.htm - acesso em 05/12/2009

http://veja.abril.com.br/091209/poder-dinheiro-corrupcao-p-076.shtml - acesso em 05/12/2009