Agressões a Berlusconi

Somos agredidos diariamente por um sem-número de malfeitores travestidos de homens de bem; somos agredidos constantemente em nossa liberdade de viver, em nossa liberdade de agir, em nossa liberdade de pensar e, principalmente, em nossa liberdade de nos indignar.

Somos agredidos no rosto, na mente, na alma... – temos maculado até a imagem de nossos queridos e dignos antepassados, pois nossa atual apatia e ausência de vontade frente a reiterados golpes a que nos submetem, privam-nos da luta renhida, do enfrentamento.

Quando nos batem e não reagimos nada acontece. Eles podem bater. Eles podem enganar. Eles podem burlar leis. Eles podem usurpar. Eles podem tudo! Para eles, as leis funcionam – principalmente as brechas; para eles, o discurso é atraente – principalmente o falso discurso, o maquiavélico, o leviano, insidioso; para eles, cuecas e meias podem ser bancos – principalmente se considerarmos a proximidade com as fedidas áreas que encobrem, num corpo imundo, as máscaras de uma pobre e desprezível criatura humana.

Quando reagimos e batemos, surgem médicos preocupados que nos assustam, tamanho o zelo para com o cidadão de bem agredido. Quando batemos, eles ‘sofrem lesão importante no maciço facial... E fraturam dentes’. Quando batemos, eles são submetidos ‘a tomografia computadorizada que mostra fratura de um elemento ósseo do septo nasal... E por isso precisam ficar hospitalizados’.

Eles, os coitadinhos, são tão sensíveis que se preocupam com o clima de agressão e de ódio que assola o país que governam. Eles temem que essa onda de agressão e de revolta ameace a democracia e certamente se empenharão para que esses atos de violência sejam exemplarmente apurados e os culpados devidamente punidos. Eles, expressamente, externam firme condenação a esse tipo de ação criminosa, a esse ato de violência injustificada que parte de um cidadão comum.

Eles podem tudo! E nós... Não podemos sequer nos indignar?

Quando reagimos e agredimos, somos criminosos, fora-da-lei. Quando eles nos privam de saúde, quando nos sujeitam à nossa própria sorte, quando nos tiram o direito ao lazer, o direito ao bem-estar familiar e a tantos outros direitos que temos por garantias individuais, o que eles são? Esse descaso com o social seria mero esquecimento de homens tão assoberbados?

Quando agredimos, praticamos atos inaceitáveis, inqualificáveis e nossas ações colocam em risco a democrática convivência social... E quando somos agredidos por eles, não existem adjetivações? Claro que existem... Eles, os homens de bem, não fazem muito mais por todos nós porque não podem! Eles, coitadinhos, precisam de atenção, precisam do nosso incondicional e inquestionável apoio. Não podemos agredi-los nunca. Devemos, isso sim, em nome da manutenção da democracia, aceitar, caladinhos, todas essas aberrações que vemos e lemos, todos os dias nos jornais, na TV e nas relações à distância que temos com cada um deles, os coitadinhos.

O povo cansa. Um dia a gente cansa.

Nijair Araújo Pinto

Crato-CE, 13 de dezembro de 2009.

21h37min

Nijair Araújo Pinto
Enviado por Nijair Araújo Pinto em 13/12/2009
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