UM ARTIGO SOBRE ARTIGOS

O gênero textual que mais gosto de ler aqui no Recanto é o dos artigos. E por quê?

Porque no artigo a pessoa revela a sua opinião sobre como vê o mundo. Por meio do que está escrito no artigo, podemos perceber a ideologia, o preconceito, as pessoas que querem prescrever receitas de vida, seus valores morais, ou seja, escrever um artigo é como se despir intelectualmente para os leitores.

Fico perplexo quando leio artigos em que o autor quer tentar impor seu modo de vida como sendo o ideal de ser humano, como se a receita da sua vida fosse a correta e desse certo com todas as outras pessoas. Pensa ele que está afastado das contingências da vida real, que pertence a uma casta separada, seleta, de gente de bem, de gente de princípios.

O ideólogo é um ser muito perigoso, pois para os incautos é muito fácil cair nas redes da sua ideologia e comprá-la sem perguntar o preço. O que vejo nas análises de alguns ideólogos que na verdade nem são conscientes do que são, são análises políticas e de vida em geral extremamente parciais e dotadas de amplo subjetivismo.

Sempre percebo isso quando alguém critica o governo e os políticos, mas não tem nada de objetivo para dizer ou para apontar. Apenas diz o que lhe vem à cabeça, sem ter o trabalho de colher informações para saber se o que está falando procede ou se é pura leviandade de sua parte.

Já o crítico é um hipócrita contumaz. Digo isso porque aquele que critica sempre exclui sua pessoa daquilo que critica, ou seja, ele é o representante do bem e do bom senso. Quando um crítico fala, ele quer dizer nas entrelinhas assim: “Olhem, é assim que as coisas são, olhem para mim, assim vocês devem ser, assim é que se deve viver, desse jeito é que está certo, pense desta maneira e será bem sucedido e feliz”.

Esquece-se o crítico que para a vida não há receita, não há ideal de vida humana. Sua cartilha do bom senso não passa de idiossincrasias que não funcionam nem com ele mesmo.

O crítico e o moralista têm muito em comum, pois ambos têm como pano de fundo seus valores morais. Valores que querem impor como se fossem os melhores. São os “melhoradores da humanidade”. Sigamo-los e o mundo será tanto melhor.

Mas o caso é que mesmo com eles e depois deles, e de todas as suas admoestações e prescrições, o mundo continua tal e qual. O Salvador, o Messias, O Filho de Deus passou pelo mundo e nada mudou, nada. Há quem diga que piorou muito.

O preconceituoso é o mais tolo de todos. E por que digo isso? Porque ele é tão mau escritor e mau preconceituoso que não consegue escamotear seu preconceito implícito, que fica evidente quando começa a falar sobre outras classes sociais, política, religião e suas visões sobre o mundo em geral.

O problema dos nossos escritores de artigos é que pertencem a uma classe social decadente. A classe média brasileira, que já produziu seus melhores artistas e intelectuais, hoje não passa de um bando de ressentidos que não admitem que um ex-operário esteja no governo. Classe que produz um bando de idiotas consumistas.

Que se ressente por não consumirem tudo o que queriam consumir.

Sua vida econômica decaiu bastante, sua vida intelectual também. A pessoa que há 30 anos lia Jean-Paul Sartre e Albert Camus, hoje forma sua opinião a partir do jornalismo ridículo da revista Veja.

O estudante que lutava contra o regime militar no passado, hoje não passa de alguém que está louco para consumir freneticamente.

A classe média de nossos dias anda tão decadente, que muitos estão até aderindo ao rebanho do Senhor.

Não são poucos os que se filiam às igrejas neopentecostais na tentativa insana de prosperar a qualquer preço.

Então está tudo aí, escrito.

Minha ideologia, meus preconceitos, meus valores morais, minha crítica, minha receita de vida, enfim, estou intelectualmente despido diante de ti, querido (a) leitor (a).

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Frederico Guilherme
Enviado por Frederico Guilherme em 13/12/2009
Reeditado em 13/12/2009
Código do texto: T1975616
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