Novas eleições é um golpe contra a democracia
Novas eleições é um golpe contra a democracia
Por F. Lopes*
Alguns vereadores de Laranjal do Jari, motivados por convicções próprias, estão defendendo a realização de uma nova eleição para prefeito em Laranjal do Jari. Afirmam, baseado não sabe-se em quê, que a população clama por uma nova disputa. Respeito a opinião dos nobres legisladores, assim como a respeitei quando resolveram colocar a legalização do transporte alternativo de moto-táxi nas mãos dos eleitores, mas sinceramente, reivindicar uma nova eleição é uma afronta a todos os eleitores que foram às urnas no último pleito.
Uma nova eleição é um desrespeito, sobretudo, contra a maioria dos eleitores que reelegeram Euricelia Cardoso prefeita do município. Poderia ter sido eleito Barbudo Sarraff, Meire Serrão, Eliá Conrado, Rosângela ou Oswaldo Makell. Eu teria o mesmo posicionamento, pois aprendi que na democracia deve sempre prevalecer a vontade da maioria, mesmo sabendo que às vezes essa maior parte está seguindo pelo caminho errado.
Os nobres vereadores estão tentando extinguir um dos poucos direitos que o cidadão brasileiro ainda tinha que era escolher os seus representantes através das urnas. Uma nova eleição é um golpe contra a democracia. É um golpe contra o meu sagrado direito de escolher através das urnas o administrador que considero o melhor para o meu município, o Estado e o país. Mesmo tomando decisões erradas ao votar em candidatos que depois me arrependo, nunca abri mão de depositar o meu sufrágio nas urnas. Devo estar arrependido de ter colocado um desses legisladores na posição onde hoje se encontra, mas nem assim exigiria o direito de voltar atrás, pedindo uma nova eleição para vereadores, porque aprendi desde cedo que temos que nos responsabilizar pelas conseqüências dos nossos atos.
Quando me arrependo de ter votado em determinado candidato costumo dar o troco nas eleições seguintes. É assim que faço a correção. É assim que funciona a democracia. Lembro-me dos caras-pintadas que, envenenados pela oposição e pela imprensa em 1992, foram para as ruas exigir o impeachment de Fernando Collor.
A imprensa nos fez acreditar que toda a corrupção do Brasil estaria sendo extinta com a saída do presidente alagoano. Quanto romantismo! O ex-presidente Collor foi considerado um dos mais corruptos da história do país. Infelizmente, coisas piores ocorreram alguns anos depois nos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula. Os jovens pintaram a cara e exigiram novas cassações, mas tudo acabou em pizza. A verdade é que os caras-pintadas serviram de massa de manobra. Não é verdade que Collor foi cassado porque o povo protestou, ele foi cassado porque os deputados decidiram cassá-lo. Collor hoje é aliado de José Sarney e defensor do presidente Lula. É assim que funciona. O mesmo exemplo serve para Laranjal do Jari.
*F. LOPES é professor, pedagogo, acadêmico de Letras e membro da Academia Laranjalense de Letras. (E-mail: f.lopes.vj@bol.com.br).