O RAPAZ CHOROU NA TV

O RAPAZ CHOROU NA TV

Assisti pela TV, estarrecido, ao choro de um rapaz bonito, por conta de ter perdido a compra de um ingresso para ver a partida de futebol entre Flamengo e Grêmio pelas finais do campeonato brasileiro deste ano de 2009.

“Por quem os sinos dobram”?

“Não chore por mim Argentina”...

– Por quem choras rapaz?

– Pelo meu time de futebol que não verei jogar nesse domingo no Maracanã!

Não se nega que aquele moço é produto de sua geração, mas não podemos deixar de dizer que essa geração carece, urgentemente, de rumos mais estruturados, de valores mais firmes. Sem querer teorizar, valores é o substrato das sociedades, é o que mantém a convivência social razoavelmente estabelecida. Encontrar um parâmetro para essa relação não é fácil, mas outros processos se interpõem e contribuem para que se torne possível o estabelecimento de relações interpessoais respeitosas e efetivas. O sistema político democrático é bem nessa linha, um ideário moderno de convivência política em seu sentido mais abrangente em que os diferentes devem interagir respeitosamente. Garante-se, em tese, a opinião de todos em seus vários níveis de direção e complexidade.

Por outro lado, o neoliberalismo que tem investido pesadamente em seus projetos de dominação, utiliza-se muito bem de valores frouxos para sua instalação e manutenção. Se considerarmos o processo de globalização, esses mesmos valores parecem tomar conta de todas as nações – umas mais outras menos.

Neste sentido, seria muito difícil não utilizar nossos jovens para essas incursões, posto que os menos jovens tudo indica que já tem condutas estruturadas, visão crítica do mundo e da vida, salvo algumas exceções.

Compreender que os nossos jovens se prestam para essas manobras não é, de forma alguma, diminuir a capacidade deles. Talvez essa capacidade esteja minada pela ausência de outros valores que os pais e a escola, provavelmente já minados por outro viés dessa globalização, estimulam. Basta tentar compreender o comportamento de muitos jovens e observar a linearidade de suas atitudes em diversos outros aspectos. Exemplo disto, pode ser o de fumar, beber, não pagar a conta do barzinho, desrespeitar os professores em sala de aula, dormir tarde, não ter hora para sair da internet, etc.

Temos a compreensão de que qualquer pessoa pode ser apaixonada por um time de futebol. Mas quando se chega ao ponto de matar ou morrer, chorar e se descabelar, incendiar ônibus, torna-se perigoso. Denota uma série de outros motivos embutidos no processo de socialização transmitidos pelas instituições que para isto existem.

Imagino que os “sinos dobrem” por quem não se dobra à falta de respeito, a discriminação das minorias raciais, sexuais, religiosas, etc.. Penso que “Argentina” não deve chorar por “Evita”, mas por ela mesma. Como se vê, o choro está sempre no liame dos processos de liberação interior, ou não.

Retornando aos valores, não poderia ser diferente para os “dominadores”. O que seria do capitalismo? O que seria dos produtos de consumo se fossem feitos para durar? O que seria dos conglomerados empresarias internacionais e brasileiros? Por que não se dá bolas para o controle efetivo da Amazonas e do ecossistema como um todo?

Claro que essas questões não vendem produtos, nem carreiam pessoas em função do que delas se depreende, tampouco proporcionam status social elevado. Desmata-se com facilidade, a camada de ozônio vai aos poucos se acabando. O mais importante parece ser os produtos industriais que são produzidos à custa dos desmatamentos e outras agressões a natureza. Imaginar que uma sacola plástica dessas que a gente leva compras no supermercado dura 30 anos na natureza, não é fácil. Mas muitos nem se tocam para esta responsabilidade, inclusive os formadores de opinião como professores, pais, etc.

O choro que vi me deixou triste. Pensei: – por que aquele bonito rapaz não guarda suas lágrimas para chorar por um grande amor? Ou para quando um familiar falecer? Será que ele vai chorar se um dia não passar no vestibular? Será que chorará se um dia souber que um novo “índio Galdino” foi incendiado nas “Brasílias” da vida? Será que no dia em ele falecer (ninguém é eterno), o Grêmio ou o Flamengo lhe mandará uma coroa de flores?

“Prefiro não comentar”, como diz Copélia, no Toma Lá Dá Cá.

Prefiro esperar o tempo dar suas respostas e me permitir, sempre que não puder fazer a minha parte. Porque na situação em que nos encontramos, fazer a parte que podemos é pouco, diante do acúmulo de inversão de valores que nos cerca.

Rogo a Deus que nos ilumine. E que o prenunciado fim do mundo em 2012 não aconteça, pois enquanto há vida há esperança, bastando que cada um esteja consciente do hoje, porque o “dia de amanhã não nos pertencerá”, desde que tenhamos fé e sejamos, para todos os sempre, homens de boa vontade.