O SOCIALISMO NOS HORIZONTES DO HUMANISMO ÉTICO: uma proposta para as políticas na América Latina do séc. XXI

Quando se recorre ao conceito de "socialismo", em suas objetivações históricas, é necessário, em primeiro lugar, explicitar de que socialismo estamos falando. Os socialistas pré-marxianos, geralmente, são caracterizados como utopistas; o socialismo real teria sido o socialismo da União Soviética, e regimes congêneres. Um socialismo na América Latina, ou para a América Latina, do séc. XXI, não pode, simplesmente, querer repetir, de forma histórica tardia, as experiências dos socialistas utópicos, nem do socialismo real.

Para propor uma forma política estatal de socialismo para a América Latina deve-se partir dos fundamentos humanitários da ideia socialista, que são o "o homem como ser social" da filosofia clássica. Isto resultaria num socialismo humanitário, necessariamente ético. Neste humanismo se encaixa o que de melhor conhecemos antropologicamente do ser humano na sua descrição existencial. E nesta sua existência o homem exige a realização de duas dimensões: a individual e a social.

Pelo aspecto individual, deve-se possibilitar a todo sujeito humano a afirmação de sua personalidade, com liberdade, imaginação e emoções; pelo aspecto social, ele não pode isolar-se, ignorando o que acontece a qualquer outro ser humano. Neste sentido, o preconceito capitalista contra os socialismos acentua que o estado socialista, de forma ditatorial, suprime as dimensões individuais, e apenas valoriza as dimensões sociais; o preconceito socialista contra os capitalismos caracteriza os sistemas capitalistas como sistemas que supervalorizam o individual, ignorando as demandas sociais. Estes preconceitos provocam os confrontos entre os socialismos reais e os capitalismos reais da história da humanidade. Confrontos que já resultaram em guerras, reais e frias. E continuam a produzir conflitos, que, muitas vezes, acabam em violências. Na América Latina, quando se fala em socialismo, muitos ainda entendem a questão na polaridade acima referida. Por isto, em primeiro lugar, as mentes latinoamericanas deveriam ser conceitualmente despoluídas. Não se pode entender uma convivência humana sem que o indivíduo organize sua mente socialmente. O que resultará num sistema estatal social (socialista!), que só se legitima se trabalhar pelo bem comum, pela dignidade e bem-estar de vida de todos, portanto, pelo social. É somente neste viver social que o indivíduo poderá adequadamente desenvolver as suas aspirações e seus talentos individuais. Neste sentido, todo sistema capitalista é antropologicamente parcial: estimula a dimensão individual, desligando e alienando o sujeito de sua responsabilidade e realidade social. Por isto, um sistema verdadeiramente humano só poderá ser social (socialista), no sentido de um socialismo humanista ético. É nestecaminhar que devemos estimular as sociedades latinoamericanas.

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