A natureza do sucesso...

A natureza do sucesso

Assisti dia 30/11/2009 a uma boa palestra do professor Pachecão, catedrático de Física de Belo Horizonte/MG que atrai milhares de alunos com suas aulas entremeadas ao toque de violão e canto. Ele tem uma habilidade incrível para palestras no nível comercial que faz pelo Brasil afora. Chamou-me atenção para escrever estas linhas porque seu passado, na infância, é parecido com o meu. Como exemplo, tomar banho de bacia. Portando me emocionei durante toda a palestra que é feita com bastante dramatização e comicidade dentro de objetivo de “atingir o foco”, ou seja, despertar no ouvinte “qual é o seu foco”, numa história com algumas semelhanças a minha. O foco de sua palestra é a motivação empresarial, onde o sonho é o combustível para o empreendedorismo.

Então, dando uma volta no túnel do tempo, escrevo: de origem de família numerosa, sendo o primogênito, logo se sabe das responsabilidades que recaem sobre os mais velhos e que soma mais ainda, onde os sete primeiros irmãos são homens, como no nosso caso. Nós somos de uma família de treze irmãos.

Automaticamente, recai sobre nós muitas tarefas que são mais femininas, como ter que ajudar a pajear as crianças, os irmãos mais novos, ajudar a lavar as louças ou talheres e ajudar no preparo das refeições. Estou falando de família classe média, morando na roça. Se recusasse a ajudar corria o risco de apanhar. Bem entendido, enquanto éramos crianças, porque um pouco maiores, além de ajudar a mãe tínhamos que ajudar também na roça. O amor e a harmonia familiar eram reinantes em nossa família.

Com o desenvolver dos tempos, passando já para a adolescência, nome que nem sabíamos que existia, aconteceu comigo o que ocorre com os filhotes das águias que têm o maior cuidado com as pequenas aves. Ela costuma tirar do próprio peito as mais finas penas para fazer a proteção aos mesmos. Faz revoada e traz alimentos que regurgitam no bico dos filhotes, até que consigam mais maturidade, comecem a criar penas e quando já vão se transformando em adolescentes, como falam os humanos, a águia mãe já começa a retirar as partes macias e deixando só os gravetos, para que o filhote comece a aprender a voar. Não dá moleza. Então começa a derrubar o filhote nos penhascos, mas quando vê que correm risco voa por baixo, para protegê-lo e evitar que caia. É assim a vida das águias.

Comigo não foi diferente, pois meu pai começou a pensar e achar que eu ia ser o “Zé Mole”, por ser muito magro e franzino, por já ser meio alto. Nesta época eu tinha problemas digestivos devido à refeição da roça ser bastante forte, com bastante carne de porco ou de vaca, feita na gordura animal. Sempre tinha que usar remédios amargos digestivos e também era muito comilão. Comia em excesso, mas engordar não acontecia, porque não dava tempo devido a muitos afazeres.

Como estava falando de meu pai, ele quando solteiro, era chefe de peões de trabalho agrícola, função conhecida como empreiteiro. Tinha peões que eram beberrões, comilões, preguiçosos. Na minha adolescência não deixou para menos e começou a não tratar mais pelo nome e, sim, pelo nome daqueles peões que lhe tinha causado problemas como: Felição, Luizão, Perna de Pau, Cavalo de Pau, entre outros.

Para mim era um martírio e, muita vezes, calava. Noutras respondia, porque nunca fui de levar muito desaforo, mesmo nesta idade. Pensava: ele tem razão de estar nervoso com este número de filhos para cuidar, porém nunca o deixamos sozinho e para todo lado estávamos ajudando. Eu, um pouco mais mole que os outros, estava sempre ajudando e não esquecendo de estar sempre lendo ou estudando algo. Eu pensava que meu pai também não estava sabendo discernir bem as coisas. Na verdade ele não sabia o que está fazendo e acabava não guardando nenhuma mágoa.

Pouco tempo depois consegui estagio de office boy em uma oficina mecânica e, pouco tempo depois, fui para a ferramentaria e almoxarifado de peças da mesma. Quatro meses adiante, fui contratado por outra empresa já como vendedor profissional de auto peças.

Sempre só tive que agradecer, agradecer, agradecer ao meu pai, por ter batido no tambor para ver se saía algum som. Batido no tambor é bom asseverar que ele nunca relou a mão num filho para bater, pois sua batida era em palavras. Esse meu agradecimento é por eu não ter tornado e Zé Mole ou Zé Franzino, como falava, graças à ressonância do tambor.

Relembrando o apoio da mãe águia, lembrei que ele também fez esta proteção comigo, pois me elegia para fazer os trabalhos mais responsáveis e mais atraentes, como a semeadura nas épocas de plantios, dado a achar e comprovar que eu tinha, como diziam os antigos, a mão boa para plantar e pontaria para fazer o arruamento com linhas bem retas. Os trabalhos mais refinados recaiam sobre mim. Talvez também por ser muito magro e franzino, era mais poupado na escolha das tarefas. Eu fazia as minhas tarefas com muita responsabilidade e seriedade.

Meu grande sonho quando ainda era criança era ser motorista de caminhão. Não consegui, porém já tive caminhão, vários tipos de carros e utilitários diferentes e sou empresário de sucesso.

Como disse, levando uma vida séria, com trabalho, trabalho, trabalho, nunca me rebaixando diante de prepotência, porém hoje ter aprendido viver mais diante das asperezas que a vida nos oferece, transformando as dificuldades em facilidades e felicidades perante as nuances da vida.

Presenteado com ótima família que Deus nos confiou, eis me aqui com as graças d’Ele.

E por isso é que falo da ressonância das cordas do instrumento, quando acionadas.

José Pedroso

Frutal, 01 de dezembro de 2009

Josepedroso
Enviado por Josepedroso em 01/12/2009
Reeditado em 07/12/2009
Código do texto: T1955351
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