A polonaise
A POLONAISE
Eu recordo que, quando criança, minha mãe falava muito na “Polonaise” de F. F. Chopin e eu, como bom neocolonizado achava o máximo, não só escutar a música, tocada no piano, como soletrar as sílabas, como eram pronunciadas: po-lo-né-se. O máximo!
Mais tarde, quando me aventurei pelo interland do país, conheci a polonaise como uma dança de salão, em geral dançada nos clubes e também nos CTGs. A dança, embora se refira e uma polonesa, é oriunda da França. Aqui no Brasil foi introduzida por volta dos séculos XVIII e XIX, quando por emulação da família real do Segundo Império tornou-se moda falar francês. Recordo que no segundo grau, lá por 1957, não havia intelectual ou pseudo, que não falasse alguma coisa de francês, nem que fosse o voulez vous coucher avec moi a ce soir?
Meu francês, que me deu a aprovação num vestibular, vem dessa época. No Brasil, por obra do Conde D’Eu, a língua de Lamartine se tornou oficial na corte e repartições do Rio. No Maranhão, especialmente em São Luís, por conta da invasão dos franceses, comandados por Daniel De La Tôuche, Monsieur de La Ravadiére, o francês instalou-se. Hoje, muitas ruas da capital maranhense têm nomes em francês e em português, assim como se vê negrinhos, cafuzos e bugres chamados de Michel, Louis ou Marie-Therése.
Para não fugir do assunto, volto à polonaise. Pois foi em Ibirubá, RS, que voltei a interagir com a citada dança. Era talvez 1973 ou 74, e houve um baile beneficente, no salão paroquial católico, em benefício da banda que se ia fundar. Eu, inclusive, fui o tesoureiro da campanha, qual um proto-PC. Pois naquele baile, recordo que se dançou a polonaise. É uma dança meio complicada, onde, a exemplo dos soldados polacos, os pares, lado-a-lado, marcham pelo salão.
É algo semelhante à “quadrilha” caipira (não é a de Brasília), com a figura de um coordenador que vai dando as dicas para os passos, onde os casais fazem passos, ora se adiantam ora se atrasam, trocam de par, numa curiosa coreografia.
É para ver como a gente é neocolonizado. Até hoje, em todo o sul do Brasil, Rio Grande, Santa Catarina e Paraná, se marcha a polonaise, como dança de salão. Em Bagé, o índio velho que, mais xucro e mais sem rodeios, dispensa tantos eufemismos, preferiu traduzir. Lá não se dança a polonaise, mas a “polaca”, que no fim, dá no mesmo.
o autor é escritor e filósofo