A TRAGÉDIA DO LIDUÍNA
Um barco motor até há pouco tempo entregue ao transporte de cargas e passageiros na rota Belém – Macapá, de 240 HP, seis camarotes, confortável, era “Liduina” o seu nome de batismo.
Levava e trazia gente, mercadorias, animais, contribuindo para o desenvolvimento desta região selvagem e fascinante, a Amazônia.
Seu proprietário e os tripulantes são heróis anônimos que emprestam o suor do seu trabalho à navegação mercante, enfrentando corajosamente a formidável natureza destas longínquas paragens.
Como eles, na humildade do seu silêncio, existem muitos outros, caboclos do rio, que fazem a sua vida na água.
O “Liduina” tornava a Belém, vindo de Macapá, com 43 passageiros a bordo e carga variada, no dia 26/01/72.
De madrugada, no trecho onde se cruzam os rios Pracaxi e Jupatituba, próximo à localidade de Breves, deu-se a tragédia, que transcrevo "ipsis literis"da edição de 28/01/72 da “Folha do Norte”:-
“- O proprietário da lancha “Liduina”, Agenor Moreira, vinha efetuando comunicação pelo fonia de bordo com seu representante em Macapá e ao encerrar a transmissão, solicitou a hora exata. Desligou precisamente às cinco horas e desceu para a sala das máquinas, a fim de verificar se tudo corria normalmente. Mal tinha chegado lá, quando o marinheiro que ia ao leme, tentando livrar-se de uma alvarenga de toros de madeira que vinha à deriva, dobrou totalmente a embarcação para bombordo tomando o rumo da beira. Nessa ocasião, as amarras que seguem da “malagueta” ao “leme”, denominadas de “galdrope”, romperam-se e não houve condições de evitar o choque com o barranco da ilha que se denomina Santa Cruz. O barco subiu em terra aproximadamente dois metros e sua frente foi parcialmente destruída. No retorno, a água invadiu os porões, o que provocou o afundamento imediato.
Com a invasão das águas na casa de máquinas, a luz apagou repentinamente e os passageiros ficaram desnorteados, muitos não sabendo como chegar à margem mais próxima do rio. Supõe-se que os oito corpos desaparecidos sejam de pessoas que estavam dormindo na ocasião e, pela rapidez com que se deu o fato, não tiveram tempo de abandonar a embarcação, ficando presos quando esta emborcou.
Uma forte correnteza provocada pela junção dos dois braços de rios contribuiu para que aumentasse o número de mortos, especialmente em se tratando de crianças ou daqueles que se propunham a salvá-las.”
Por que escrevo sobre o episódio? Para levar-lhes um pouco do aspecto selvático da vida amazônica. E para informar, a título de curiosidade, que um ex-funcionário nosso, o Araújo, em outubro do ano passado, foi e voltou a Macapá no barco sinistrado (são quatro dias de viagem, somente ida), em viagem de inspeção e cobrança.
Felizmente, naquela ocasião correu tudo bem. Agora o “Liduina” já não mais existe.
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Belém, 31/01/72
OBS:- artigo para o “IEB”, informativo da “Britannica”, em São Paulo.