Reflxões sobre a educação na atualidade: tensões e angústias do professor
O mundo atual vive mergulhado num caos de problemas e angústias em consequência das mudanças pelas quais passou nestes últimos tempos, como podemos citar: a revolução tecnológica, a exacerbação religiosa, as mudanças na ordem mundial (como a queda do muro de Berlim, por exemplo), a globalização, entre outros. Tudo isso traz uma grande repercussão para a vida do homem, em todos os setores, inclusive (e talvez principalmente) na educação; consequentemente, isto não tinha como deixar de repercutir na vida dos docentes, já que estes trabalham com a vida humana, com a “produção de sentidos”, com o subjetivismo; o professor está intrinsecamente ligado às coisas do mundo, aos acontecimentos que ocorrem ao seu redor.
Angústias e interrogações “sacodem” o mundo individual do educador atual, que tem uma série de fatores e coisas que funcionam como seus rivais nessa “exaustiva” profissão. Essas angústias são naturalmente normais na vida do professor da atualidade, ou da maioria deles. Segundo Celso Vasconcelos, não podemos afirmar que, no tempo atual, um professor que não tenha um nível razoável de angústia em relação à sua atividade, que não se sinta desacomodado, com certeza não é um professor do tempo atual.
Neste contexto, fica registrado que nem sempre o professor atual se angustia com os acontecimentos do mundo, esse mundo que está vivendo grandes, velozes e profundas transformações. Mas a sociedade dita moderna está em crise. Por isso, é necessário que o professor repense continuamente o seu papel, assuma-se enquanto profissional da educação, enquanto ____________________________________
Mestranda em Literatura e diversidade Cultural – UEFS
Graduada em Letras Vernáculas – UNEB
Especialista em Gêneros Literários - UNEB
profissional humano, social e político, tomando partido, ousando, não se omitindo, engajando-se social e politicamente, sendo não apenas um mediador do conhecimento, mas possibilitando transformações nas estruturas opressoras dessa sociedade classicista em que vivemos.
Entretanto, o professor é um profissional que vem contínua e lentamente sendo desvalorizado e, provavelmente, essa desvalorização está agindo como fator negativo para a vida docente, desestimulando esses profissionais; além disso, estes recebem os piores salários, se formos pensar na relevância dessa profissão. É claro que um erro não justifica o outro, que este fato não pode levar o professor a agir de forma errada em relação ao seu trabalho, principalmente por estar voltado à vida humana, mas um docente é também um ser humano; não é um deus, precisa viver; não é uma enciclopédia, precisa estudar; não é de ferro, precisa de descanso; é de carne e osso, pode adoecer; é humano, por isso pode falhar, e tem necessidades (físicas, sociais, psicológicas, afetivas...). Desvalorizado e à margem, o professor se desencanta com a profissão e, em sua maioria, esses educadores desencantados são também maus profissionais que “alinhavam” o processo de ensino-aprendizagem.
Levando em conta que cada um deve se responsabilizar pela realização do seu projeto pessoal, cabe ao professor, enquanto profissional de educação, independente dos percalços da profissão, realizar os objetivos que esta profissão exige. Para isso, entretanto, faz-se necessário que o próprio professor internalize “sua missão”, faça uma viagem interior e reflita sobre seu papel social e político, sobre sua importância (mesmo que não reconhecida) para a sociedade. É preciso que o professor ainda acredite que é pela educação que o mundo pode melhorar. A escola ainda é o maior veículo transmissor do conhecimento, mesmo com tantos outros que circulam neste novo tempo, um tempo tecnológico.
O ser humano tem que estar preparado para acompanhar a evolução do tempo, as inovações do mundo e é através da escola que ele irá se preparar tanto para seu crescimento pessoal quanto profissional. Se a educação tem papel relevante no desenvolvimento do individuo e das sociedades, o professor é o elemento mediador desse desenvolvimento, tendo papel determinante na formação de atitudes, despertando no aluno a curiosidade e estimulando o intelectualismo, bem como desenvolvendo a autonomia para criar as necessárias condições de sucesso da educação formal.
A escola é um portal do conhecimento. Mas enquanto a educação não for realmente prioridade neste país, não será possível acontecer melhorias nem desenvolvimento. Professor desmotivado e desencantado com a educação não tem possibilidade de ser um bom profissional, portanto, alija o próprio ofício e o processo de buscar e levar o conhecimento. Espremido pelas diversos fatores que o leva à necessidade de atualização permanente, o professor busca meios para redefinir o seu fazer educacional.
Exige-se competência e profissionalismo do professor, fazendo recair sobre ele a grande responsabilidade sobre a educação de qualidade, no entanto, este já traz em si mesmo os graves problemas sociais porque passa ele mesmo e a sociedade, então como poderá resolvê-los na sala de aula? Uma sala de aula onde tantos alunos chegam vindos também de graves problemas sociais como a fome, a pobreza, a violência, as drogas, a família desajustada, a falta de saúde, entre outros; por outro lado, tem alunos que tem excesso de bens materiais e de liberdade, de mimos, de oportunidades. Como equilibrar tantas tensões sociais? O professor é capaz de levar esses alunos a enfrentar seus problemas e, ainda, fazê-lo apreender os conhecimentos planejados?
Neste contexto, é relevante que os governantes revejam seu olhar sobre a educação e, consequentemente, sobre os profissionais de educação. É preciso resgatar o valor do docente enquanto profissional para que este possa encontrar sua identidade. Para isto, é preciso também que este se sinta seguro quanto a importância do seu papel social e profissional. O professor não deve temer sair à luta pela valorização do seu espaço, pois é através da luta pela dignidade, pela cidadania, pela igualdade de direitos, pela ética no convívio social e na política que poderá aprender a importância da formação de sua identidade.
A educação, direito de todos, deve acontecer através de pessoas seguras de seu ofício, do seu valor pessoal e profissional, bem como capazes de entender, ou pelo menos saber gerenciar, as tensões que ocorrem no mundo; a prática educacional deve acontecer de forma natural, sem opressão, pois como diz Sócrates, quem é livre não deve aprender ciência alguma como uma escravatura. E que os esforços físicos, praticados à força, não causam mal algum ao corpo, ao passo que na alma não permanece nada que tenha entrado pela violência. Portanto, A educação deve ocorrer de forma natural e prazerosa.
Discutir sobre o papel do professor acaba nos fazendo enveredar por caminhos diversos, já que a educação está em todo lugar, mas fazê-lo é necessário. Acreditar em mudanças melhores e mais eficazes para esta instancia e para a vida dos profissionais que nela estão inseridos é uma necessidade, pois não se pode deixar levar pela insegurança, pela desesperança. Esperar numa vida melhor, cuidar para que isto aconteça é tarefa de todos, pais e professores, alunos, sociedade, governantes, todos juntos em busca de um bem comum, de certezas, de vitórias, este é o cenário que se deve montar. Em unidade, todos conseguiremos fazer o melhor, mas com os pés no chão, sem utopias, usando as tensões e angústias, os desencontros, as carências, a insegurança e o medo, como motivos impulsionadores dessa luta de todos nós por uma educação de qualidade.
Arlania Menezes
Mestranda em Literatura - UEFS