Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza.
Fiz o curso primário na Escola Municipal do Distrito de Ibitu (município de Barretos/SP), em 1958, distante 11 quilômetros de casa percorridos a cavalo. Na prova final da quarta série me lembro que a professora pediu para fazer uma dissertação sobre o tema “Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza”. Achei o assunto pesado naquela época, mesmo sendo um dos melhores alunos da classe, pois éramos crianças da roça com pouco contato e o único veículo de comunicação era o rádio ligado, somente algumas horas à noite, nas emissoras Nacional, Tupi ou Record tocando músicas sertanejas.
Fiquei divagando e deixando assustados os colegas que sempre recorriam a mim para resolver questões. Indaguei à professora sobre o significado do tema. Ela explicou, mas comecei a escrever ainda com dúvidas. Lembrei-me que minha família, durante três meses do ano, ficava envolvida na fabricação de rapadura e melado. Era um serviço pesado porque o canavial ficava abaixo do engenho e a subida era penosa, pois tínhamos que carregar a cana nos ombros. Deduzi que, para comer o melado, havia de se lambuzar. Na redação expliquei, então, como se fazia o melado. Os colegas silenciaram e não sei como se saíram, mas a maioria passou de ano.
Hoje, numa visão mais ampla, podemos comparar este tema (Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza) com os políticos. Já começando pela eleição onde usam todos os artifícios para ganhar. Ganhando, tomam posse e, no desenvolver do cargo, acabam enxergando as facilidades da corrupção que envolve a maior soma dos ativos públicos desviados em grande parte das atividades sociais.
Efeito da democracia, ou seja, da vontade do povo, é a riqueza da liberdade, porém a corrupção fica como um nó na garganta da população brasileira onde podemos considerar que 50% das verbas públicas são corrompidas no Brasil que hoje é o 75° dentro de uma roda de 180 países. Melhorou, pois recentemente era a 80ª nação mais corrupta.
Cadê as instituições brasileiras? Onde está Rui Barbosa que disse que “de tanto ver triunfar as nulidades, prefiro me recolher”? Não concordo, também lembrando que “somente uma andorinha não faz verão”.
José Pedroso
Em 29/11/09