Psicanálise e Educação - II
Capitulo II - EDUCAÇÃO
1 EDUCAÇÃO
A educação é um ato contínuo de aprendizagem e desenvolvimento.
Ensina o dicionarista Aurélio Buarque de Holanda:
Ato ou efeito de educar(-se). Processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social: educação da juventude; educação de adultos; educação de excepcionais. [1]
Rui Barbosa, jurista e pensador brasileiro, nascido na Bahia em 1849 e falecido em Petrópolis em 1923, sabendo que o século XX não acolheria o vergonhoso instituto da escravidão e ciente de que teríamos uma expressiva mão-de-obra despreparada, envidou todos os esforços no sentido de convencer o Imperador D. Pedro II a criar o ensino básico obrigatório. Tinha como escopo preparar e educar o jovem brasileiro e os filhos de escravos, para enfrentar os novos tempos que viriam depois da abolição e a concorrência com a mão-de-obra estrangeira que começa a chegar no país, notadamente nas cidades serranas do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.
Não conseguindo lograr êxito, num de seus discursos, assim defendeu a educação e a necessidade de promover a formação dos jovens e adultos brasileiros :
“A chave das desgraças que nos afligem é esta e só esta: a ignorância popular, mãe da servilidade e da pobreza.”
Ressalte-se que essa assertiva aconteceu no final do século XIX. Estamos no século XXI e ainda não temos muito a comemorar em termos de ensino no Brasil. Os nossos governantes ainda não se sensibilizaram plenamente para essa importante realidade e para seus deveres constitucionais.
2 A IMPORTÂNCIA DO ENSINO
O plenário do Senado deu sinais que reconhece a importância do ensino quando aprovou no dia 4 de julho de 2006, por 50 votos a favor e uma abstenção,a proposta de emenda constitucional que cria o Fundo da Educação Básica (FUNDEB). Como sofreu alterações, a PEC retornará à Câmara.
Uma das principais mudanças trata da liberação de recursos, que será feita de forma gradual até atingir o valor máximo que os Estados, municípios e a União terão de depositar no fundo. Os deputados haviam estipulado o prazo de quatro anos. Mas os senadores reduziram para três, atendendo a demandas apresentadas nas audiências públicas.
O novo fundo é destinado a financiar os ensinos infantil (incluindo creches), fundamental e médio, ou seja, o ensino básico como um todo, a educação de jovens e adultos também está prevista.
O FUNDEF, em vigor atualmente, financia apenas o ensino fundamental.
O FUNDEB vai vigorar por 14 anos, ou seja, de 2006 a 2020, se for aprovado rapidamente pela Câmara e a estimativa é de que atenda cerca de 47 milhões de pessoas.
Nas sábias lições de Aurélio Buarque de Holanda:
[…Ensino:Transmissão de conhecimentos, informações ou esclarecimentos úteis ou indispensáveis à educação ou a um fim determinado; instrução: ensino público; ensino técnico; ensino religioso. Os métodos empregados para se ministrar o ensino. Esforço orientado para a formação ou a modificação da conduta humana; educação: Esqueceu o ensino que os pais lhe deram. Polidez, urbanidade, educação; boas maneiras: "Homem mesmo escandaloso, / Pois não mata, / Pois não furta, / Pois não mente, / Não engana, nem intriga. / Tem preceito, tem ensino " (Manuel Bandeira, Estrela da Vida Inteira, p. 329)…] [2]
Nas palavras do pensador grego Pitágoras:
“Educando as crianças, não será necessário castigar os homens.” [3]
Estamos convencidos de que o ensino é o melhor caminho para alcançarmos o desenvolvimento intelectual, moral, pessoal e material do cidadão. O ensino desperta e alicerça os direitos do cidadão, fazendo dele uma pessoa livre, isenta de subserviência e coerente em seus atos, estando cientes de seus deveres , sobretudo, de suas obrigações.
E tanto isso é verdade, que os legisladores brasileiros estabeleceram as diretrizes e bases da educação nacional, positivadas na Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
3 ALUNO E ESTUDANTE
O pensador espanhol Emilio Mira Y Lopes, escritor de vários livros, muitos deles publicados no Brasil, fazia uma clara distinção entre aluno e estudante, sendo:
Aluno aquele que está regularmente matriculado em uma escola, que vai às aulas e aprende o necessário para aprovação.
Estudante aquele que está regularmente matriculado, vai à escola regularmente, estuda e aprende tudo que é possível, objetivando uma boa formação.
4 FAMÍLIA
Aproveitando a metáfora da introdução, podemos afirmar que os pais são os artistas, os personagens com quem os filhos contracenam diariamente. Na maioria das vezes, são eles seus maiores heróis, os personagens principais de suas histórias. São eles os atores e diretores dos seus primeiros filmes, que terão reprises por toda a sua existência, considerando que até os 7 anos, período em que a criança mantém uma certa distância do mundo exterior, estando longe da influência dos ensinamentos de rua, da escola e de outros meios sociais, tem nos pais a principal fonte de influência.
O diálogo abaixo publicado na Revista Jurídica Consulex exemplifica bem a importância dos pais na vida escolar de seus filhos. E para mensurar a importância do ensino, basta observar a influência que a Grécia vem exercendo em toda a humanidade, bastando citar Sócrates, Platão e Aristóteles.
Por volta de 500 a.C. um homem perguntou a Aristides, o Justo, general e estadista ateniense (540 – 468 a.C.), quanto lhe cobrava para instruir um filho.
- Mil dracmas – respondeu Aristides.
- Quê?! Isso é um dinheirão para ensinar uma criança! – Replicou o homem. Por mil dracmas compro um escravo!
- Pois bem – tornou Aristides – ficarás com dois escravos: teu filho e o que comprares!...[4]
No início do século XX ensinou-nos Humberto de Campos [5], visto pelo notável médico, educador e humanista itaunense Dr. José Campos [6], como o nosso Voltaire [7], quando asseverou:
“O melhor livro para crianças não será, acaso, aquele em que se conte a vida heróica dos grandes homens?” [8]
Portanto, senhores pais, nessa nobre missão de colaborar na formação de seus filhos, comecem ou continuem a ler para eles o livro de suas vidas.
É importante que os pais falem diariamente com os filhos da importância do ensino e os motivem, ainda que possa lhes parecer improdutivo a princípio.
Peço permissão, para neste momento, nesta modesta pesquisa, prestar uma breve homenagem à minha saudosa mãe, MARIA MADALENA DE SOUZA, que mesmo não alfabetizada, dizia-me freqüentemente:
“O estudo é a maior riqueza de uma pessoa, não ocupa lugar, não envelhece e ninguém tira.” [9]
Confesso que, a princípio tive dificuldade para entender esta grande sabedoria, foi-me necessário ouvi-la muitas vezes. Hoje lhe agradeço e reverencio-a com saudade e gratidão. Se não fossem estas palavras tão constantes e incentivadoras, provavelmente, hoje não estaria aqui, prestando minha modesta colaboração, para construirmos uma sociedade mais feliz, justa, eqüitativa e saudável.
5 FUNCIONÁRIOS DA ESCOLA
O que seria da escola sem os seus zelosos funcionários? Do intransigente porteiro, que não entende que os atrasos são justos e necessários. Das faxineiras que mantêm tudo limpo. Das secretárias que escrituram toda a vida escolar, construindo um banco de dados que será eternamente útil. Sem olvidar das cantineiras, elas assim como uma bondosa mãe, todos os dias preparam o lanche, sem o qual faltaria a energia necessária para aprender durante as aulas, brincar, pular e gritar nos corredores quando dos intervalos.
Como pensar na escola sem a presença destes notáveis funcionários?
Impossível.
Todos eles colaboraram decisivamente para o aprendizado dos alunos, que certamente tornar-se-ão estudantes, principalmente fazendo com carinho e dedicação suas atividades e, sobretudo, acolhendo as crianças e jovens com a atenção e sorriso. Igual àqueles que acolheriam seus filhos, dando assim a todos os estudantes a sensação de que eles estão em suas casas.
6 PROFESSORES
Depois dos pais, os professores são pessoas que mais exercem influência na formação das crianças e dos adolescentes. Os bons mestres nunca são esquecidos e seus exemplos são sempre seguidos.
Ademais, é fácil encontrar, pelas salas e corredores, alunos imitando professores, na forma de falar e de vestir e nos frontispícios dos livros homenagens de carinho, gratidão e respeito aos ex-professores.
Conforme já prelecionou o pensador Henry Adams:
“O professor se liga à eternidade; ele nunca sabe onde cessa a sua influência.”
Cabe-lhe, portanto uma parcela significativa de responsabilidade. Lembrando sempre do lema popular:
“O que merece ser feito, merece ser bem feito”
Ciente disso, o professor precisa sempre dar bons exemplos para os alunos, estar sempre presente em sala de aula, ser coerente com os conteúdos programáticos e justo nas avaliações. E, sobretudo, mostrar aos alunos que estudar e aprender são privilégios e não um castigo ou um simples compromisso com os boletins escolares.
É dever do professor preparar-se para melhor ensinar e, sobretudo, fazer despertar no aluno o desejo de ser estudante.
A título de exemplo cito uma jovem professora de história e acadêmica de Direito da Faculdade de Direito da Universidade de Itaúna TATIANA OZANAN, que leciona na Escola Estadual Leonardo Gonçalves, Bairro Jadir Marinho, Itaúna – Minas Gerais, que nas suas aulas de história, vai além do conteúdo dos livros e com o apoio incondicional da Diretora YVETTE DE SOUZA MOREIRA, orienta os alunos para o debate, ajuda-os na elaboração de cartazes alusivos à matéria e ainda, convida pessoas para ministrar palestras abordando a matéria estudada, fazendo assim, da sala de aula uma tribuna de debates convergida para a formação dos jovens; e a matéria que a princípio podia parecer complexa e histórica, do passado, torna-se atual e interessante.
7 DIRETORES
Os diretores são os regentes das escolas, além do atendimento pedagógico e administrativo, cabe-lhes ainda a difícil tarefa de administrar conflitos que vão além das salas de aulas, presentes nos problemas familiares e pessoais de docentes e discentes.
8 DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Ao ler as “Memórias”, de Goethe, constato. Infância feliz, despreocupada, e tranqüila, de menino rico. Nenhuma preocupação de ordem econômica. Excelentes professores, bons livros, ambiente aristocrático e artístico. Saúde, carinho, distinção. Os elementos, enfim, para a formação física e mental de um semideus. [10]
Segundo a ciência, a faixa etária mais relevante na formação das pessoas é aquela compreendida entre zero a sete anos, pois é nesse período que é formado o caráter e baseado neste aprendizado e nas influências recebidas a criança delineará o seu futuro.
Ciente dessa premissa, a função da escola sofreu alterações através dos séculos. A escola da idade Média acolhia da mesma maneira crianças, jovens e velhos; ela acolhia aqueles interessados nos hábitos escolares. Os pedagogos da Idade Média, não privilegiando medidas educacionais no período da infância e da adolescência, estendiam-na a toda duração da vida humana. [11]
Portanto, nessa fase decisiva na formação da criança é importante que os educadores tenham sempre em mente os ensinamentos do historiador, filósofo e pensador eclesiástico francês Ernest Renan:
“O essencial, com efeito, na educação, não é a doutrina ensinada, é o despertar.”
Art. 29 – A educação infantil, primeira etapa da evolução básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físicos, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.
A boa formação é uma ferramenta essencial até para fazer frente a uma enfermidade. Se esta é crônica, a necessidade de conhecer pormenorizadamente suas características é vital. Para não começar a casa pelo telhado, várias instituições têm colocado em marcha projetos lúdicos e educativos destinados à população infantil afetada por transtornos crônicos. A meta é conseguir que os pequenos se familiarizem rapidamente com a doença, aprendam a conviver com ela, neste propósito vem conjuntamente trabalhando o governo e empresários espanhóis. [12]
Art. 30 – A educação infantil será oferecida em:
I – creches , ou entidades equivalentes, para crianças até três anos de idade;
II – pré-escolas para crianças de quatro a seis anos de idade.
Art. 31 – Na educação infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental.
9 ENSINO FUNDAMENTAL
Art. 32 – O ensino fundamental, com duração mínima de oito anos, obrigatório e gratuito na escola pública, terá por objetivo a formação básica do cidadão mediante:
I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
II – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamentam a sociedade;
III – o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores;
IV – O fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social.
Sabemos que os delinqüentes do Brasil são representados, notadamente, por pessoas que não tiveram acesso à escola. Embora essa realidade não ocorra somente no Brasil, conforme ensina a jornalista argentina Laura Hojman escudada em informações do Ministro da Educação, em artigo publicado no Jornal La Capital:
Desde tiempos remotos, diversos pensadores asociaron la esclavitud, el delito, la exclusión y la marginación con el grado de acceso a la educación.
Hoy los datos son significativos. El ministro da Educación Daniel Filmus rastreó entre las más de 40 mil personas que están en la cárcel y solo un 5 por ciento de ellos tiene el nivel medio o superior finalizado.
Ello traduciría que hay un gran porcentaje de la población en alto riesgo de vulnerabilidad, que con sus escasas herramientas no puede insertarse en el mercado laboral, ni posee habilidades ni aprestamiento ni autonomía suficientes para capacitarse a fin de ingresar e un empleo. [13]
Ainda nas palavras da articulista, citando o Ministro da Cultura argentino Daniel Filmus:
“Creemos fuertemente que la educación tiene un papel central en la prevención de la violencia y la criminalidad y que una de las mejores inversiones que puede hacer el Estado, en este sentido, es la que posibilite incluir absolutamente a todos los chicos del país en el sistema educativo” [14]
10 ENSINO MÉDIO
No Brasil, corresponde ao Ensino Médio, etapa do sistema de ensino equivalente à última fase da Educação Básica, tem como finalidade o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental e a formação do cidadão para a vida social e para o mercado de trabalho, oferecendo o conhecimento básico necessário para o estudante ingressar no ensino superior. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação estabelece sua regulamentação específica e uma composição curricular mínima obrigatória. Pode ainda ser realizado em paralelo com a Educação Profissional de nível técnico.
É composto de um conjunto de componentes curriculares obrigatórios e uma parte optativa. A parte obrigatória do Ensino Médio é composta pelo ensino da língua nacional (o Português e sua literatura), de uma língua estrangeira moderna (tradicionalmente o inglês ou o espanhol), das ciências naturais (Física, Química e Biologia), da Matemática, de estudos sociais e humanos (normalmente História e Geografia, mas a LDB coloca como opcionais o ensino de Sociologia, Psicologia ou Filosofia), de Artes, de Informática e de Educação física.
11 ENSINO SUPERIOR
Também conhecido como curso de graduação é destinado aos alunos que tenham concluído o segundo grau e obtido classificação no vestibular.
Em passado recente era privilégio de poucos o acesso às faculdades e universidades. Hoje temos outra realidade com a criação de novos cursos e novas faculdades em todo território nacional, condicionando assim que os nossos jovens tenham acesso a mais esta importante etapa de sua formação.
Ressaltando que, com a criação de novas vagas têm condicionado o acesso de jovens que ainda não estão devidamente amadurecidos para cursar a faculdade e exercer a profissão escolhida, fazendo assim necessário o apoio e esclarecimento dos familiares e professores desde a escolha até o inicio do exercício da profissão.
12 PÓS-GRADUAÇÃO (LATO SENSU E STRICTO SENSU)
Os cursos de Pós-graduação stricto sensu, também chamados de Mestrado e Doutorado têm a finalidade de formar docentes e pesquisadores, qualificados para o exercício do magistério superior e de atividades de pesquisas, bem como de formar profissionais aptos a resolverem questões de alta relevância, resultantes das exigências do mercado e da sociedade brasileira, objetivando acompanhar o ritmo dos países desenvolvidos do atual mundo globalizado.
A característica dos programas de mestrado é que o mestrando assista às aulas presenciais de acordo com a instituição e elabore uma dissertação, que será defendida em uma banca constituída de três doutores, presidida pelo orientador.
É necessário também que o mestrando além do curso de graduação compatível com o programa escolhido, também tenha domínio de uma língua estrangeira, podendo ser em algumas instituições o espanhol, francês, inglês, alemão ou italiano.
Os programas de doutorado seguem os mesmos princípios, porém exigem do doutorando que apresente uma tese, com assunto inédito a ser defendida em uma banca constituída de 5 doutores, presidida pelo orientador e que tenha o domínio de duas línguas estrangeiras, dentre as citadas.
Nos programas Lato sensu, o participante terá que apresentar uma monografia, não exige o conhecimento de língua estrangeira, embora seja recomendado para facilitar as pesquisas e concluído o curso apresentado a monografia recebe o titulo de especialista.
Notas:
1. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio eletrônico. Direção de Carlos Augusto Lacerda. São Paulo: Nova Fronteira, 1999. 1 CD-ROM. Produzido por MGB Informática.
2. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio eletrônico. Direção de Carlos Augusto Lacerda. São Paulo: Nova Fronteira, 1999. 1 CD-ROM. Produzido por MGB Informática.
3. PITÁGORAS. Filósofo e matemático grego da metade do séc. VI a.C.
4. Cf. Artigo publicado na coluna Almanaque Revista Jurídica Consulex. Brasília. Ano VIII – Nº 174. p. 21, 15 de abril de 2004.
5. CAMPOS, Humberto. Escritor e jornalista. Nasceu em Miritba, 1886, hoje Humberto de Campos – Maranhão e faleceu no Rio de Janeiro em 1934.
6. CAMPOS, Dr. José. Médico, professor, humanista, nascido em Pitangui, no dia 23/10/1916, formado pela Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, sediada no Rio de Janeiro, então Capital do Brasil, em 1939 e radicado em Itaúna desde 1941, onde vem prestando à comunidade relevantes serviços.
7. VOLTAIRE, François Marie Arouet. Nasceu em Paris, 1694 onde faleceu em 1778. Notável escritor e pensador, foi o ídolo da burguesia liberal e anticlerical, permanece até hoje como um dos maiores mestres da narrativa de estilo vivo e espirituoso. Escreveu mais de 100 obras dentre elas: romance, filosofia, história, poesia e teatro.
8. CAMPOS, Humberto. Diário Secreto. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora O Cruzeiro S. A., 1954. v. 1. p. 134.
9. SOUZA, Maria Madalena. Nascida em São José dos Salgados, Distrito de Carmo do Cajurú em 22 de julho de 1928, radicou-se Itaúna em 1945, prestando relevantes serviços à Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Sousa Moreira. Faleceu no dia 11 de maio de 1994.
10. Cf. CAMPOS, Humberto. Diário Secreto. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora O Cruzeiro S. A., 1954. v. I1. p. 135.
11. COELHO, Lais Neusa. Psicanálise e educação. Disponível em :
< http://www.escutaanalitica.com.br/psicanalise2.htm > Acesso em 12/09/04.
12. Cf. RODRÍGUEZ, Alejandra. Educación. Disponível em :
< http://www.elmundo.es/salud/2004/579/1088805606.html > Acesso em 07/07/04.
13. HOJMAN, Laura. Educación e delito. La capital.
Disponível : < http://www.lacapitalnet.com.ar/diario/hoy/op > Acesso em 04/05/04
14. HOJMAN, Laura.Educación e delito. La capital.
Disponível : < http://www.lacapitalnet.com.ar/diario/hoy/op> Acesso em 04/05/2004
Capitulo III – PSICANÁLISE
1 PSICANÁLISE
Podemos de forma sintética definir psicanálise como um sistema dinâmico de psicologia criado e desenvolvido pelo médico e psiquiatra austríaco Sigmund Freud, que atribui a conduta a fatores reprimidos do subconsciente. Para investigação destes fatores desenvolveu uma complexa técnica, utilizada especialmente nos transtornos nervosos e mentais da personalidade e também na interpretação de vários fenômenos culturais.
Nas palavras de Henri Piéron:
[… Método psicoterápico criado por FREUD, que se funda essencialmente (embora não exclusivamente) na interpretação da resistência e transferência …] [1]
2 PERSONALIDADE NO CONCEITO PSICANALÍTICO
Personalidade é um conjunto biopsicossocial dinâmico que possibilita a adaptação do homem a si mesmo e ao meio, numa equação de fatores hereditários e vivenciais.
A primeira concepção tópica do aparelho psíquico foi apresentada por Sigmund Freud em 1900.
O sistema inconsciente foi concebido como representante dos instintos e das pulsões.
O sistema consciente foi concebido com um órgão sensorial localizado no limite entre os mundos externo e interno, cuja função é recepcionar as informações deles provenientes.
O sistema pré-consciente está ligado ao inconsciente e à realidade. Funciona como um pequeno arquivo, onde os conteúdos podem ser recuperados por um ato de vontade.
A partir de 1920, Freud elaborou outra concepção de personalidade, denominada segunda tópica, constituída também de três instâncias, embora não homólogas. São o ego, o superego e o id. [2]
ID: Podemos entender id como a instância pulsional do psiquismo. Seu conteúdo é totalmente inconsciente. Ele é o grande reservatório de impulsos e instintos. É irracional, ilógico e amoral.
Consiste no conjunto de reações mais primitivas da personalidade humana, que compreende os esforços para conseguir satisfação biológica imediata, sem avaliar conseqüências. [3]
O indivíduo nasce puro e vazio, o meio e as influências é que o lapidam.
EGO: O ego funciona como a sede de quase todas as funções mentais. Toda consciência cabe ao ego, que se responsabiliza, portanto, pelo contato com o ambiente e com a realidade externa. O ego, nesse sentido, é um simples feixe de funções: percepção, atividade, juízo. Entretanto, o ego não é só consciência, existem funções inconscientes dele representadas pelos seus famosos mecanismos de defesa. Em resumo, se o id é puro inconsciente, o ego está ligado estreitamente ao sistema pré-consciente-consciência.
SUPEREGO: na estrutura teórica da personalidade descrita por Freud, o superego é a mais recente formação ou componente do sistema de energias mentais e foi correlacionado com o declínio e a dissolução do complexo de Édipo.
A noção de superego foi inspirada nos estudos de introjeção de Dandor Ferenczi (a progressiva introjeção,[4] pela criança, dos eventos em seu meio vital e suas relações com o desenvolvimento de uma intuição moral a partir do ego). O superego é o representante de uma natureza superior: “Eu”. Atua no sentido de evitar punições por transgressões ou fomentar idéias moralmente aceitas. Assim, tanto pode reprimir e criticar as idéias, impulsos e sentimentos inconscientes que afetam o comportamento moral e judicativo da personalidade (atividade que dá o nome de consciência), como pode apoiar a realização de uma natureza superior (ego ideal).
Muito do que existe no superego encontra repercussão no id. O superego desempenha uma espécie de papel intermediário entre o id e o mundo exterior, reunindo as influências do passado e do presente. [5]
3 COMPORTAMENTO
Palavra utilizada por Blaise Pascal e reintroduzida na linguagem psicológica por PIÉRON em 1907 como equivalente a behavior. Designa as maneiras de ser e agir dos animais e seres humanos, as manifestações objetivas de sua atividade global. PIERRE JANET designou por condutas certas formas particulares do comportamento humano (conduta de espera, de triunfo ou fracasso)
O comportamento constitui o objeto de estudo da psicologia objetiva.[6]
Howard C. Warren, utiliza o vocábulo conduta para definir comportamento:
“1. Nombre genérico para todos los modos de reacción muscular o glandular del organismo frente al estímulo. 2. Porciones de reacciones orgánicas susceptibles de observación. 3. Comportamiento del individuo en sus aspectos éticos. 4. comportamiento de un individuo tal como puede preverse. 5. comportamiento exterior de los animales, el hombre inclusive.[Término empleado también el las ciencias físicas para designar el modo de actividad de cualquier sustancia, y en psic. Introspectiva para designar modos de actividad mental; estas dos acepciones crean confusiones, y se recurre poco a ellas. Sin. Comportamiento. Cf. behaviorismo.] Ingl. (1,2 ) behaviour, behavior, (3,5) conduct; fr, comportement, conduit; al. (1, 5) Verhalten, (3) Betragen. “ [7]
4 SAÚDE
Estar com saúde é quando o indivíduo encontra-se com as funções orgânicas, físicas e mentais em situação normal, ou seja aquele que se encontra com o corpo e a mente sãos, conforme a já conhecida assertiva do poeta latino Juvenal.
Peço licença ao poeta latino Juvenal para divagar sobre seu célebre provérbio ''mens sana in corpore sano''. Nada como estar de bem com a vida para que a gente se sinta saudável e disposto, alegre. Obviamente que, sem saúde, ninguém consegue viver em paz, mas quanto mais eu penso no estresse e nas ansiedades do cotidiano, mais eu me convenço de que a maioria das doenças tem origem emocional, e podem ser curadas. [8]
Um bom exemplo de que a força da mente e a vontade de vencer obstáculos transformam as pessoas é a do SR. FRANCISCO CHAGAS NETO, residente na região da Serra da Canastra, nascente do Rio São Francisco. Um problema de saúde o tirou dos trabalhos do campo e o fez entalhador. Suas obras de rara beleza são vendidas aos turistas que visitam a região e muitas foram para o exterior.
O mais importante é que muitos turistas que adquirem suas obras levam junto com a escultura entalhada em madeira um bálsamo para o espírito, nas palavras fortes e otimistas de um homem simples que superou as barreiras impostas pela fragilidade da saúde física com a força da saúde mental, confirmando que quem quer faz e querer é poder. [9]
4.1 Saúde Mental
Ainda hoje muitas pessoas quando escutam o termo saúde seja ausência de enfermidade mental.
Tem relação intrínseca com a nossa vida cotidiana, estando no convívio com a família, na escola, no trabalho, no esporte, nos relacionamentos amorosos, na comunidade.
Saúde mental pode ser traduzida como a presença de felicidade, tranqüilidade de espírito, capacidade de prazer.
Existem muitos mitos e realidades acerca da saúde mental, que os profissionais da psicanálise, psicologia, psiquiatria e educação precisam conhecer e combater, dentre eles:
Mitos: “Os transtornos mentais e cerebrais não são mais que um produto da imaginação.”
“Devemos nos limitar a isolar as pessoas que sofrem uma enfermidade mental.”
Realidades: “São enfermidades reais que causam sofrimento e incapacidade.”
“As pessoas portadoras de uma enfermidade mental podem desenvolver suas funções e não devem ser abandonadas.”
Muitas vezes a existência de um transtorno mental ou cerebral se mantém ignorado, por vontade do portador, auto preconceito ou porque a família não reconhece como uma enfermidade.
As enfermidades mentais provocam sofrimentos e incapacidade, podendo reduzir o tempo de vida e a capacidade para vivê-la, como se pode observar nos períodos de depressão, na dependência do álcool, levando o portador ao crime e às vezes ao suicídio.
Ensina a Dra. Glória Llaza Loayza
Poca gente sabe lo que realmente es salud, en cambio todos sabemos lo que es enfermedad; si partimos del concepto de salud de la OMS, entendida como 'El completo estado de bienestar físico, mental y social, y no solo la ausencia de dolencias o enfermedad' percibiremos que solo la variable biológica - física, corresponde estrictamente al campo médico, y que otras variables requieren la necesaria colaboración de otros sectores, prácticamente de todos los sectores que se vinculen con el quehacer humano; de esta manera salud reclama para su atención un enfoque multiprofesional y multisectorial.[10]
Aristóteles também, com invulgar sabedoria, lecionou ''Psique (alma) e corpo reagem de modo complementar uma com outro, em meu entender. Uma mudança no estado da psique produz uma mudança na estrutura de corpo, e à inversa, uma mudança na estrutura de corpo produz uma mudança na estrutura da psique''.
Na Grécia clássica, os modelos de Saúde Mental se revelavam como: Eutimia (paz da alma), Eudaimonia (felicidade) e Sophrosyne ou ataraxia (moderação ou sobriedade) .
Para Hadfield: 'Saúde mental é o funcionamento pleno e harmonioso de toda a personalidade”.
Para S. Freud: 'Saúde Mental é capacidade de amar, trabalhar e sorrir.”
Ensina-nos Carlos Estevam:
“Um dos aspectos mais interessantes da doutrina de Freud é o fato de considerar que não existe uma grande separação entre a vida normal que levamos todos os dias e a vida anormal dos doentes mentais. Para Freud há uma perfeita continuidade ligando o que é normal e o que é anormal. Ser capaz de mostrar essa ligação e essa continuidade foi um dos grandes méritos de Freud, pois, ao afirmar que o anormal não é tão anormal como se pensa, Freud não estava querendo dizer que o mundo é um hospício e que existe um louco no fundo de cada ser humano. Ao contrário, mostrando que o anormal está mais próximo de normal do que supomos, Freud está chamando nossa atenção para o fato de que a cura do anormal e o restabelecimento da normalidade é muito mais fácil do que supomos.” [11]
5 INTELIGÊNCIA
É a faculdade de aprender, apreender ou compreender; percepção, apreensão.
Ensina-nos o psicólogo francês Henri Piéron:
Este termo de uso comum pode ter, em Psicologia, quatro significados diferentes:
1. Na antiga psicologia das faculdades, a inteligência, a sensibilidade e a vontade correspondiam a todo um conjunto de funções, compreendendo todos os aspectos da vida mental.
2. No estudo do desenvolvimento e sua medida, designa-se muitas vezes, por inteligência o nível mental, globalmente considerado. Dever-se-ia especificar sempre, nesse caso, que se trata de inteligência “global” (CLAPAREDE)
3. O termo “inteligência geral” tem sido muitas vezes empregado para designar um fator geral, comum a todas as operações mentais ( “fator G” de SPEARMAN; “fator inato das atividades cognitivas” de C. BURT).
4. Em Psicologia Comparada e Diferencial, inteligência designa (com especificações variáveis) a capacidade de resolver problemas, de encontrar soluções para situações novas, de qualquer espécie. Opõe-se às capacidades instintivas ou aprendidas, mais ou menos automatizadas. Essa capacidade, de natureza complexa, dependeria, essencialmente, de uma aptidão hereditária. [12]
6 APRENDER
É o ato de aquisição do conhecimento de alguma coisa por meio de estudos ou pela experiência. Podemos adquirir o aprendizado pela forma científica ou empírica.
7 APREENDER
É o ato de assimilar mentalmente, entender, compreender alguma coisa.
Notas
1. PIÉRON, Henry. Dicionário de Psicologia. Tradução para o português de Dora de Barros Rio de Janeiro: Edi tora Globo S.A. 1987. p. 432.
2. Cf. TRINDADE, Jorge. Manual de psicologia jurídica para operadores do direito, p. 60.
3. Cf. TRINDADE, Jorge. Manual de psicologia jurídica para operadores do direito, p. 61.
4. Introjeção: Termo originário da filosofia para designar as representações do mundo exterior englobadas no psíquico ou na projeção de representações interiores os objetos do mundo exterior. Em psicanálise, é utilizado para designar a incorporação dos objetos pelo ego como fonte de prazer.
5. COSTA, Sérgio Fernandes da. Teoria psicanalítica I. material didático para a disciplina – psicanálise, p. 2.
6. CF. PIÉRON, Henry. Dicionário de Psicologia. Tradução para o português de Dora de Barros Rio de Janeiro: Edi tora Globo S.A. 1987. p. 100.
7. WARREN, Howard C. Diccionario de psicología.. Traducción y revisión de E. Imaz, A. Alatorre y L. Alaminos. México, D. F: Fondo de Cultura Económica. 1948, p. 62.
8. Cf. ORSINE, Paula. Mente sã em corpo são. Disponível em : < http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/colunas/orsini/2004/11/20/jorcolors20041120001.html > Acesso em 03/07/06.
9. Cf. Programa “Terra de Minas” apresentado pela Rede Globo, sábado dia 22 de julho de 2006.
10. LOAYZA, Dra. Gloria Llaza. Salud Mental. Disponível em :
< http://www.ucsm.edu.pe/ciemucsm/pages/salme.htm > Acesso em 09/07/06.
11. ESTEVAM, Carlos. Freud : vida e obra. 7. ed. Rio de Janeiro: José Álvaro, Editor S.A. , 1967. p.47.
12. PIÉRON, Henry. Dicionário de Psicologia. Tradução para o português de Dora de Barros Rio de Janeiro: Edi tora Globo S.A. 1987. p. 290.
11 CONCLUSÃO
Concluímos a nossa pesquisa confirmando que a psicanálise e a educação estão intrinsecamente ligadas uma a outra.
A conclusão supra resultou do somatório de conhecimentos, auferidos em boas leituras, cuja bibliografia parcial segue em anexo, das experiências vividas em salas de aulas na condição de aluno e de professor e também nas análises feitas na condição de psicanalista, envidando todos os nossos esforços para bem aplicar a psicanálise em benefícios de nossos educandos.
Somando ainda, o aprendizado nas aulas assistidas e proferidas no curso de Psicanálise Clinica na ESFLUP – Escola Fluminense de Psicanálise Clinica – Nova Iguaçu – Rio de Janeiro.
Nos ensinamentos auferidos com a participação em palestras e congressos, em especial no II SEGUNDO CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO, realizado em Belo Horizonte – Minas Gerais nos dias 08 a 10 de abril de 2005 e no VI FORUM MINEIRO DE PSICANÁLISE, com a temática: A ÉTICA DA PSICANÁLISE: DO PARTICULAR AO COLETIVO, realizado nos dias 02 a 04 de junho de 2006 em São João Del Rei – Minas Gerias.
Afigurando-me assim a imprescindibilidade da participação de todos, na formação de nossas crianças, adolescentes, jovens e adultos, inclusive com a interligação das ciências.
Sabemos que não existem fórmulas já pré-estabelecidas e eficazes para educar, considerando também que não existem duas pessoas iguais e, na dinâmica da vida, o ontem é diferente do hoje, assim como o amanhã certamente apresentará suas novas peculiaridades.
E o que dizer então das crianças e adolescentes, cujos sonhos e vontade de ser e aprender modificam-se com maior intensidade, num constante buscar de novas realidades e na maioria das vezes, cercados pela incerteza e pelo medo do futuro, e sobretudo, pela vulnerabilidade comum, àqueles que estão em processo de formação?
Precisamos, então, participar cotidianamente de suas vidas, oferecendo-lhes o melhor de nossas experiências vividas e aprendidas ao longo do tempo. Fornecer o exemplo, praticar o dialogo constante, materializado na prática diária da tolerância, com paciência franciscana, sem, contudo deixar faltar e exercitar a hierarquia e o respeito recíproco.
Não importa a condição em que nos encontrarmos sendo: pais, diretores, professores, secretários, serventuários, psicólogos, psicanalistas. É nosso compromisso e dever oferecer-lhes o que temos de melhor. Ainda que o nosso melhor não seja o suficiente, mas que seja tudo que tivermos e pudermos.
E, para começar, podemos guiar-nos pelos ensinamentos daquela professora mexicana, com 101 anos de idade e completando 86 de magistério, ainda em atividade no ano de 2004, que asseverou:
“Eu não expulso, eu não condeno. Eu convenço.”
Sabemos que desde o nosso nascimento, muitas pessoas passam por nossas vidas, compartilham das nossas alegrias, das nossas tristezas, dos nossos encontros, desencontros, momentos, emoções, ações e omissões. Enfim, ajudam-nos a ser o que somos, colaborando com nossa formação física, emocional e intelectual. Unamos então, nossas forças e nossas habilidades e, com a colaboração de todos, seremos fortes e esta união refletirá em resultados positivos para as futuras gerações.
Ademais, se não temos em mãos todos os instrumentos necessários, façamos bom uso destes que temos e que são básicos e essenciais: a oportunidade de educar, estando em sala de aula e a oportunidade de compreender e motivar quando estivermos com o analisando no consultório.
Enfim, a psicanálise e a educação, juntas e bem administradas muito poderão fazer para a formação do cidadão, confirmando a insofismável assertiva do poeta latino Juvenal “ Mens sana in corpore sano” .
Anexo 1
O LIVRO E A AMÉRICA (Ao Grêmio Literário)
CASTRO ALVES, Antônio Frederico – Muritiba, 1847- Salvador, 1871
O LIVRO E A AMÉRICA
'Talhado para as grandezas,
P'ra crescer, criar, subir,
O Novo Mundo nos músculos
Sente a seiva do Porvir.
--Estatuário de colossos--
Cansado doutros esboços
Disse um dia Jeová:
'Vai, Colombo, abre a cortina
'Da minha eterna oficina...
'Tira a América de lá'.
Molhado inda do dilúvio,
Qual tritão descomunal,
O continente desperta
No concerto universal.
Dos oceanos em tropa
Um--traz-lhe as artes da Europa,
Outro-- As bagas do Ceilão...
E os Andes petrificados,
Como braços levantados,
Lhe apontam para a amplidão.
Olhando em torno então brada:
'Tudo marcha!... Ó grande Deus!
As cataratas -- P'ra terra,
As estrelas -- para os céus
Lá, do polo sobre as plagas,
O seu rebanho de vagas
Vai o mar apascentar...
Eu quero marchar com os ventos,
Com os mundos... co'os firmamentos!!!'
E Deus responde -- 'Marchar!'
'Marchar!... Mas como?... Da Grécia
Nos dóricos Partenons
A mil deuses levantando
Mil marmóreos panteons?...
Marchar co'a espada de Roma
-- Leoa de ruiva coma
De presa enorme no chão,
Saciando o ódio profundo...
-- Com as garras nas mãos do mundo,
-- Com os dentes no coração?...
'Marchar!... Mas como a Alemanha
Na tirania feudal,
Levantando uma montanha
Em cada uma catedral?...
Não!... Nem templos feitos de ossos,
Nem gládios a cavar fossos
São degraus do progredir...
Lá brada César morrendo:
'No pugilato tremendo
'Quem sempre vence é o porvir!'
Filhos do sec'lo das luzes!
Filhos da Grande Nação!
Quando ante Deus vos mostrardes,
Tereis um livro na mão:
O livro -- esse audaz guerreiro
Que conquista o mundo inteiro
Sem nunca ter Waterloo...
Eólo de pensamentos,
Que abrira a gruta dos ventos
Donde a igualdade voou!...
Por uma fatalidade
Dessas que descem de além,
O sec'lo, que viu Colombo,
Viu Gutemberg também.
Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A ave da imprensa gerou...
O Genovês salta os mares...
Busca um ninho entre os palmares
E a pátria da imprensa achou...
Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto --
As almas buscam beber...
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe -- que faz a palma,
É chuva -- que faz o mar.
Vós , que o templo das idéias
Largo -- abris às multidões,
P'ra o batismo luminoso
Das grandes revoluções,
Agora que o trem de ferro
Acorda o tigre no cerro
E espanta os caboclos nus,
Fazeei desse 'Rei dos ventos'
-- Ginete dos pensamentos,
-- Arauto da grande luz!...
Bravo! a quem salva o futuro
Fecundando a multidão!...
Num poema amortalhada
Nunca morre uma nação.
Como Goethe moribundo
Brada 'Luz!' O Novo Mundo
Num brado de Briaréu...
Luz! pois, no vale e na serra...
Que, se a luz rola na terra,
Deus colhe gênios no céu!...
Anexo 2
DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO: 26 DE AGOSTO DE 1789
PREÂMBULO: O Povo Francês, convencido de que o esquecimento e o desprezo dos direitos naturais do Homem são as únicas causas das infelicidades do mundo, resolveu expor numa declaração solene estes direitos sagrados e inalienáveis, a fim de que todos os cidadãos, podendo comparar sem cessar os atos do Governo com o fim de toda instituição social, não se deixem jamais oprimir e aviltar pela tirania; para que o Povo tenha sempre distante dos olhos as bases da sua liberdade e de sua felicidade, o Magistrado, a regra dos seus deveres, o Legislador, o objeto da sua missão.
Em conseqüência, proclama, na presença do Ser Supremo, a Declaração seguinte dos Direitos do Homem e do Cidadão.
I A finalidade de qualquer sociedade é a felicidade comum. O governo é instituído para garantir ao homem o gozo destes direitos naturais e imprescritíveis.
II Estes direitos são a igualdade, a liberdade, a segurança e a propriedade.
III Todos os homens são iguais por natureza e diante da lei.
IV A lei é a expressão livre e solene da vontade geral; ela é a mesma para todos, quer proteja, quer castigue; ela só pode ordenar o que é justo e útil à sociedade; ela só pode proibir o que lhe é prejudicial.
V Todos os cidadãos são igualmente admissíveis aos empregos públicos. Os povos livres não conhecem outros motivos nas suas eleições a não ser as virtudes e os talentos.
VI A liberdade é o poder que pertence ao Homem de fazer tudo quanto não prejudica os direitos do próximo: ela tem por princípio a natureza; por regra a justiça; por salvaguarda a lei; seu limite moral está nesta máxima: - "Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti".
VII O direito de manifestar seu pensamento e suas opiniões, quer seja pela voz da imprensa, quer de qualquer outro modo, o direito de se reunir tranqüilamente, o livre exercício dos cultos, não podem ser interditos. A necessidade de enunciar estes direitos supõe ou a presença ou a lembrança recente do despotismo.
VIII A segurança consiste na proteção concedida pela sociedade a cada um dos seus membros para a conservação da sua pessoa, de seus direitos e de suas propriedades.
IX Ninguém deve ser acusado, preso nem detido senão em casos determinados pela lei segundo as formas que ela prescreveu. Qualquer cidadão chamado ou preso pela autoridade da lei deve obedecer ao instante.
XI Todo ato exercido contra um homem fora dos casos e sem as formas que a lei determina é arbitrário e tirânico; aquele contra o qual quiserem executá-lo pela violência tem o direito de repelir pela força.
XII Aqueles que o solicitarem, expedirem, assinarem, executarem ou fizerem executar atos arbitrários são culpados e devem ser castigados.
XIII Sendo todo Homem presumidamente inocente até que tenha sido declarado culpado, se se julgar indispensável detê-lo, qualquer rigor que não for necessário para assegurar-se da sua pessoa deve ser severamente reprimido pela lei.
XIV Ninguém deve ser julgado e castigado senão quando ouvido ou legalmente chamado e em virtude de uma lei promulgada anteriormente ao delito. A lei que castigasse os delitos cometidos antes que ela existisse seria uma tirania: - O efeito retroativo dado à lei seria um crime.
XV A lei não deve discernir senão penas estritamente e evidentemente necessárias: - As penas devem ser proporcionais ao delito e úteis à sociedade.
XVI O direito de propriedade é aquele que pertence a todo cidadão de gozar e dispor à vontade de seus bens, rendas, fruto de seu trabalho e de sua indústria.
XVII Nenhum gênero de trabalho, de cultura, de comércio pode ser proibido à indústria dos cidadãos.
XVIII Todo homem pode empenhar seus serviços, seu tempo; mas não pode vender-se nem ser vendido. Sua pessoa não é propriedade alheia. A lei não reconhece domesticidade; só pode existir um penhor de cuidados e de reconhecimento entre o homem que trabalha e aquele que o emprega.
XIX Ninguém pode ser privado de uma parte de sua propriedade sem sua licença, a não ser quando a necessidade pública legalmente constatada o exige e com a condição de uma justa e anterior indenização.
XX Nenhuma contribuição pode ser estabelecida a não ser para a utilidade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer ao estabelecimento de contribuições, de vigiar seu emprego e de fazer prestar contas.
XXI Os auxílios públicos são uma dívida sagrada. A sociedade deve a subsistência aos cidadãos infelizes, quer seja procurando-lhes trabalho, quer seja assegurando os meios de existência àqueles que são impossibilitados de trabalhar.
XXII A instrução é a necessidade de todos. A sociedade deve favorecer com todo o seu poder o progresso da inteligência pública e colocar a instrução ao alcance de todos os cidadãos.
XXIII A garantia social consiste na ação de todos, para garantir a cada um o gozo e a conservação dos seus direitos; esta garantia se baseia sobre a soberania nacional.
XXIV Ela não pode existir, se os limites das funções públicas não são claramente determinados pela lei e se a responsabilidade de todos os funcionários não está garantida.
XXV A Soberania reside no Povo. Ela é una e indivisível, imprescritível e indissociável.
XXVI Nenhuma parte do povo pode exercer o poder do Povo inteiro, mas cada seção do Soberano deve gozar do direito de exprimir sua vontade com inteira liberdade.
XXVII Que todo indivíduo que usurpe a Soberania, seja imediatamente condenado à morte pelos homens livres.
XXVIII Um povo tem sempre o direito de rever, de reformar e de mudar a sua constituição: Uma geração não pode sujeitar às suas leis as gerações futuras.
XXIX Cada cidadão tem o direito igual de concorrer à formação da lei e à nomeação de seus mandatários e de seus agentes.
XXX As funções públicas são essencialmente temporárias; elas não podem ser consideradas como recompensas, mas como deveres.
XXXI Os crimes dos mandatários do Povo e de seus agentes não podem nunca deixar de serem castigados; ninguém tem o direito de pretender ser mais inviolável que os outros cidadãos.
XXXII O direito de apresentar petições aos depositários da autoridade pública não pode, em caso algum, ser proibido, suspenso, nem limitado.
XXXIII A resistência à opressão é a conseqüência dos outros direitos do homem.
XXXIV Há opressão contra o corpo social, mesmo quando um só dos seus membros é oprimido. Há opressão contra cada membro, quando o corpo social é oprimido.
XXXV Quando o governo viola os direitos do Povo, a revolta é para o Povo e para cada agrupamento do Povo o mais sagrado dos direitos e o mais indispensável dos deveres.
Anexo 3
O PROFESSOR DA ROÇA
Humberto de Campos
Há seis ou sete anos obteve grandes aplausos, e foi objeto de simpáticos e numerosos comentários, a idéia de erigir-se, no Rio de Janeiro, um monumento à Mãe-Preta, cujos braços envelheceram e nunca se fatigaram de embalar o filho do branco, e que privaram do leite o próprio filho para amamentar o filho do seu senhor. A lembrança era, porém, generosa demais para passar da imaginação à realidade. E como a dívida era mais da raça do que da geração, a nossa geração a deixou para ser liquidada pelas que vierem depois, resultando, certamente, daí, o seu adiantamento perpétuo. Os povos, como os indivíduos, são, sempre, maus pagadores de contas velhas.
Dívida mais sagrada, ou, pelo menos, tão sagrada quanto essa, é, talvez, a que o brasileiro da cidade, o espírito urbano do nosso tempo, tem a saldar com o mestre-escola da roça, o professor de primeiras letras que exerce o seu apostolado, anônimamente, há quatro séculos, nos arraiais e povoados. A Mãe-Preta, se não teve a sua estátua monumental, foi, e continua a ser celebrada pelos homens de letras, no romance e no verso. Quem fala, porém, com reconhecimento, ou mesmo com respeito, ou sequer, sem respeito nenhum, no pequeno e obscuro professor do sertão?
E, no entanto, é êle, pode-se dizer, o adubo singelo da árvore, boa ou má, da nossa democracia. Onde se acha o eleitorado brasileiro, a multidão de votantes que elegia os estadistas do Império e da primeira República e elegerá, bem o mal, os deputados e presidentes de amanhã? Está nas vilas, nos povoados, nos miúdos centros de população espalhados pelo Brasil inteiro, e que reunidos formavam e formarão, com êsse elemento eleitoral, a grande fôrça política da nação. E quem prepara êsse eleitor? Quem semeia o trigo do alfabeto nesses cérebros virgens de trato humano, para que êle se transforme, de futuro, no pão de uma idéia, de uma vontade, de uma opinião? É o mestre-escola sertanejo; é o professor da roça; é o colaborador humilde da grandeza nacional, que, nos pequenos e tranqüilos núcleos do Brasil brasileiro, toma conta dos filhos do lavrador, do vaqueiro, do pescador, enquanto o pai, a enxada ao ombro, a rédea à mão, a vela ao vento, procura, na terra amiga ou no mar agitado, o sustento de cada dia!
É preciso ter viajado os remotos sertões, ou as praias inaccessíveis do norte e do centro, para compreender e admirar o mestre-escola, e a obra patriótica e anônima que êle realiza. Geralmente, é o professor particular. Uma vez ou outra, vai ao seu encontro o Estado, oferecendo-lhe uma subvenção insignificante, paga sempre com atraso, e às vezes acumulada durante meses, para ser negociada com os agiotas da cidade mais próxima. Na maioria dos casos, porém, vive das mensalidades que lhe pagam os pais que podem pagar, e que não atingem, em alguns lugares, a três mil réis por aluno.
E as instalações dessas escolas são comovedoras na sua primitividade. Conhecí uma, no povoado de Morros, no Piauí, a qual, coberta de palha e cercada de troncos de carnaúba, tinha o chão de barro batido, e possuía, para os alunos, bancos de tronco de carnaubeira, rachados ao meio. Mas funcionava, e tinha frequência sem o menor auxílio oficial. E outra, em condições ainda mais precárias. Eu viajava em tôrno à baía de Tutóia, no Maranhão, quando cheguei, a cavalo, em companhia de um parente, o engenheiro Álvaro Veras, ao arraial de Carnaubeiras, no delta do Parnaíba. Anoitecia. Procuramos uma casa para nos hospedar, e fomos levados a uma, de palha, e cercada de carnaúba, como a de Morros. Apenas, não tinha portas, e o chão era de areia sôlta.
À nossa chegada, acompanhados pelo caboclo prestimoso que nos ia armar as redes, fugiu da casa um porco, que alí dormia. Outros foram expulsos à fôrça e uma cabra com os seus cabritos. Noite escura e fresca. Pela manhã, erguemo-nos para continuar a viagem.
- Sabes que casa é esta, em que dormimos? – perguntou-me o meu parente.
- E à minha resposta negativa …
- Isto aquí é a escola … Uma escola particular … Neste buraco há gente que sabe ler …
Comoveu-me a notícia. E nunca mais me saiu da lembrança, envôlta por uma névoa de gratidão e de simpatia, a escola de Carnaubeiras.
Aí, nessas oficinas sem dístico, preparam-se trabalhadores, cidadãos para o Brasil. E o artífice, o lapidador do diamante bruto, é o mestre-escola, o mestre da roça, o obscuro professor do sertão.
Admiremos, pois, êsse herói. E celebremo-lo.
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