Psicanálise e Educação - I

ARNALDO DE SOUZA RIBEIRO

PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO

Rio de Janeiro

Escola Fluminense de Psicanálise Clínica

2006

A Deus, pela constante proteção.

Ao meu avô, mestre Manoel de Souza Ribeiro (1868-1922). Mesmo sem conhecê-lo, sua vida serviu-me de exemplo.

Aos meus pais, Maria e João de Souza Ribeiro (in memoriam), pela atenção, carinho e exemplo.

À Professora Maria Magdalena de Jesus Carneiro, pelo exemplo e pela influência ao exercício do magistério.

Aos meus irmãos, José, Oliveira, Maria, Luzia, Olívia, Ana e Geni, pela amizade e pelo exemplo.

Ao Prof. Dr. Sérgio Fernandes da Costa, pela amizade e pelo exemplo.

Ao Dr. José Campos e Sr. Ernani José dos Santos, amigos e conselheiros; meus eternos professores.

Aos meus alunos do passado, do presente e do futuro, razão de todas as minhas pesquisas.

“A estatura herdei-a de meu pai

E isso de encarar sério a vida.

Essa alegria, que em toda alma me vai,

Co’a fantasia da mãe foi recebida.

Um avô meu era das belas o tesouro,

E o seu fantasma acorda em mim de vez em quando.

Uma avó minha amava o luxo e o ouro,

E o seu sangue em minhas veias vai passando.

Mas se nada desse variado material

Do todo consegue separar-se,

No fim das contas, que há de original,

No sujeitinho que em mim vós estais a falar?”

Johann Wolfgang Goethe, em Poemas.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ……………………………………………… 08

Capítulo I – CULTURA ……………………………………… 11

1 Cultura …………………………………………………………… 11

.

2 Antropologia ………………………………………………… 12

3 Filosofia ……………………………………………………… 12

4 Antigüidade …………………………………………………… 12

5 Idade Média …………………………………………………… 13

6 Idade Moderna ……………………………………………… 14

7 Idade Contemporân………………………………………… 15

8 Freud e a cultura …………..……………………………… 16

9 Bases da Cultura Brasileira do século XVI ao XVII…....… 17

Capítulo II – EDUCAÇÃO …………………………………………………… 17

1 Educação……………………………………………………………………… 17

2 A importância do ensino ……………………………………………… 18

3 Aluno e estudante ………………………………………………………… 19

4 Família ………………………………………………………………………… 19

5 Funcionários da escola …………………………………………… 21

6 Professores ………………………………………………………………… 21

7 Diretores……………………………………………………………………… 22

8 Educação infantil ………………………………………………………… 22

9 Ensino fundamental ……………………………………………………… 23

10 Ensino médio....................................................... 24

11 Ensino superior …………………………………………………………… 24

12 Pós Graduação – Lato sensu e strictu sensu ……..……… 25

Capítulo III – PSICANÁLISE ………………………...…………………… 25

1 Psicanálise …………………………………………………………………… 25

2 Personalidade no conceito psicanalítico …………………………… 26

3 Comportamento …………………………………………………………… 27

4 Saúde …………………………………………………………………………… 28

4.1 Saúde mental …………………………………………………………… 28

5. Inteligência ………………………………………………………………… 30

6. Aprender …………………………………………………………..………… 30

7. Apreender …………………………………………………………………… 31

CONCLUSÃO …………………………………………………………………… 31

ANEXOS ........................................................... 33

Anexo 1 O livro e a América – Castro Alves ………………………… 33

Anexo 2 Direitos do homem e do cidadão ……...............……… 34

Anexo 3 O professor da roça – Humberto de Campos.....……… 36

REFERÊNCIAS ……………………………………………………………………… 37

INTRODUÇÃO

Esta monografia é o resultado das pesquisas feitas quando redigi o plano de aula da matéria PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO, que ministro na ESFLUP – Escola Fluminense de Psicanálise Clinica – Nova Iguaçu – Rio de Janeiro, atendendo ao honroso e gratificante convite feito pelo Professor e psicanalista Dr. Sérgio Fernandes da Costa. Posteriormente será ampliada e aprimorada, com novas pesquisas e experiências adquiridas em sala de aula e também com outras pesquisas externas ouvindo estudantes, pais, serventuários, professores, diretores, psicólogos, psicanalistas e outros profissionais da saúde e educação, para ser transformada em livro e, assim alcançar um número maior de pessoas interessadas e que acreditam que o ensino aliado à saúde poderá conduzir a sociedade a um convívio mais fraterno em condições mais equânimes.

Esta crença no ensino como fator de desenvolvimento pessoal e o desejo de colaborar com este desenvolvimento acompanha-me desde os tempos de criança; ainda não alfabetizado, as primeiras e marcantes influências adquiri quando ouvia as histórias contadas em família, informando que o meu avô paterno Manoel de Souza Ribeiro exerceu por longos anos o magistério, sempre com zelo, inteligência, austeridade, sem, contudo, faltar-lhe o exercício diuturno da compreensão, da bondade e do equilíbrio.

Nas palavras do Professor e genealogista Oswaldo Diomar:

“Manoel de Souza Ribeiro (Mestre Manezinho) nascido em 08 de outubro de 1868 em Santana do Rio de São João Acima e falecido na então fazenda Ribeiros, hoje povoado de Carmo do Cajuru, no dia 24 de agosto de 1922 foi o primeiro professor do atual povoado de Ribeiros, quando ali era uma fazenda, por voltas de 1901. Foi o “mestre de primeiras letras”. [1]

Outra influência indelével encontrei nos atos e nas palavras de prima Maria Magdalena de Jesus Carneiro, que dedicou toda sua vida ao exercício do magistério, na árdua, porém gratificante função de lecionar matemática e português.

Certa vez, ainda na adolescência, acompanhei-a em visita a uma de suas ex-alunas que se encontrava hospitalizada. Quando retornávamos, dentre as muitas coisas que falamos, marcou-me profundamente o diálogo abaixo:

- Percebo que a senhora já lecionou para muitas pessoas, afirmei.

- É verdade Arnaldo, devo dizer que consagrei toda minha vida ao magistério, tive muitos alunos e alunas, nas salas de aula passei a maior parte de minha vida, mas com os frutos dali auferidos, colaborei com a educação de meus filhos, e participei na formação dos filhos de muitas famílias. Hoje muitos dos meus ex-alunos exercem funções de destaque na sociedade, ajudando outras pessoas, inclusive muitos deles são professores, tenho a impressão que colaborei um pouco com o progresso da humanidade e por isso me sinto feliz, gratificada.

Naquele dia, silenciosamente, ao ouvir aquelas palavras fiz minha opção pelo magistério e nunca me desvinculei daquele propósito, ciente que era só uma questão de tempo e estudos, pois, para ensinar é necessário primeiro viver e aprender.

Passei então a observar atentamente as pessoas no exercício de suas profissões, a seguir os conselhos de familiares, amigos e professores; apesar dos poucos recursos da época, acompanhei também o que acontecia, no Brasil e no mundo e não tive mais dúvidas, escola é o melhor caminho para formar homens livres, bons cidadãos e assim, construir uma sociedade mais justa, equânime e fraterna, tão sonhada desde o século XVIII, por aqueles heróis enlouquecidos de liberdade que circularam pelas ruas de Paris, Vila Rica, Tiradentes, São João Del Rey, Parati e Rio de Janeiro, pregando os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade preconizados pelos iluministas, tão bem sintetizados na “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 26 de agosto de 1789.

Freud também acreditava na educação como forma de evolução e combate à barbárie, conforme podemos constatar nas palavras de Maria Joana de Brito D’Elboux Couto:

Freud, no fim de sua vida, sob o impacto da guerra e do nazismo, escrevia que a educação e a cultura não conseguiram impedir a barbárie. Mas, a experiência cotidiana permite-nos afirmar que sem a educação e a cultura, a barbárie se faz mais presente. É o que estamos vivendo desde dimensões internacionais até o âmbito familiar, desde a guerra, em grande e pequena escala, até os suicídios, a droga, a melancolia, a violência. [2]

Sem perder aquele propósito inicial em 1989 iniciei minha carreira de professor no Colégio João de Cerqueira Lima e posteriormente na Escola Municipal Celuta das Neves, Escolas de Segundo Grau.

Em 1995 iniciei minhas atividades de professor catedrático na Faculdade de Direito da Universidade de Itaúna e em 2003 na Faculdade de Direito das Escolas Reunidas do Centro Oeste de Minas Gerais Fadom em Divinópolis.

No ano de 2005 iniciei o magistério na ESFLUP – Escola Fluminense de Psicanálise Clínica – Nova Iguaçu – Rio de Janeiro.

Graduado em DIREITO, iniciei meu curso nas Faculdades Franciscanas de Bragança Paulista – São Paulo e o conclui na Faculdade de Direito da Universidade de Itaúna.

Fiz o curso de PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU EM METODOLOGIA E DIDÁTICA DO ENSINO SUPERIOR, nas Faculdades Claretianas – São José de Batatais – São Paulo e o MESTRADO STRITU SENSU EM DIREITO PRIVADO, na Universidade de Franca – Franca – São Paulo.

Consciente dos desafios da nova escola e do novo perfil dos alunos do século XXI ingressei-me no curso de PSICANÁLISE CLÍNICA, tendo como objetivo entender um pouco do desconhecido e vasto subconsciente e assim, acompanhar melhor o pensamento e anseios de meus alunos para oferecer-lhes uma melhor formação.

Seguindo os ensinamentos de um notável pensador, podemos comparar a nossa vida a um filme, no qual cada um de nós é, individualmente, o ator principal, além do diretor e do roteirista. A história de nossa vida como indivíduos é um filme único, raro, pessoal e exclusivo. Além da grande responsabilidade que temos por ele, também somos personagens importantes dos filmes de outras pessoas, colocadas ao longo de toda nossa vida, em nosso caminho pelo destino; e muitas são pessoas que o destino coloca na vida e no caminho dos professores, que devem dar a estes alunos, a estes personagens o melhor de si. [3]

No exercício do magistério, antes de interpretar conceitos, livros e técnicas de ensino, o professor é um importante elo entre o ser que aprende, que procura encontrar-se e, sobretudo, preparar-se para uma nova vida, e na maioria das vezes estes alunos são crianças, jovens e adolescentes, embora não podemos desprezar os adultos que retornam aos bancos escolares, com seus anseios e problemas peculiares.

Lecionar antes de repassar técnicas e conceitos é administrar conflitos, é orientar futuros profissionais e auxiliar na preparação das novas gerações.

Por não existirem duas pessoas iguais no universo, o professor precisa estar preparado para acompanhar, entender e orientar os educandos em suas particularidades, e neste mister, os caminhos ditados pela psicanálise são de fundamental importância.

Pude constatar isto em dois momentos distintos, no II CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO E NO VI FORUM MINEIRO DE PSICANÁLISE.

No II SEGUNDO CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO, realizado em Belo Horizonte nos dias 08 a 10 de abril de 2005, das 20 (vinte) palestras apresentadas por educadores brasileiros e europeus, dentre elas 7 (sete) fizeram menção direta à importância da saúde mental e ao indispensável apoio da psicologia e da psicanálise, com especial atenção para as palestras abaixo destacadas:

- A relação dos alunos com o saber.

Bernard Charlot – França.

- Os temas na prática escolar.

Rafael Yus – Espanha.

- Lidando com as emoções e sexualidade dentro da escola.

José Roberto – Brasil.

- A importância do Registro Reflexivo na formação do professor.

Madalena Freire - Brasil

Nos dias 02 a 04 de junho 2006 em São João Del Rei, Minas Gerais, durante o VI FORUM MINEIRO DE PSICANÁLISE, com a temática: A ÉTICA DA PSICANÁLISE: DO PARTICULAR AO COLETIVO, dos 68 (sessenta e oito) trabalhos apresentados 9 (nove) destacaram de forma direta a importância do estudo na evolução humana e, seguindo os caminhos da psicanálise, quando necessário, alcança-se um melhor aproveitamento e apreensão dos conteúdos, com especial atenção pelos trabalhos apresentados pelos psicanalistas e pesquisadores abaixo destacados:

- A impostura do mestre: declínio e ética em tempos modernos.

Dr. Marcelo Ricardo Pereira.

- Indisciplina e subjetividade na sala de aula.

Dra. Catarina Angélica S. Santos.

- Reflexão sobre as formações.

Dra. Norma J. Abrão

- Do exemplar ao incomunicável – Um olhar sobre a literatura africana.

Dra. Suzana Márcia Braga Camargos.

Sabemos que munidos de saúde e vontade é possível aprender e a aprender mais rápido, a ser mais inteligente, a ler, escrever, falar e se apresentar melhor, a raciocinar, a criar e imaginar soluções. Este é o caminho para mudar a nossa história pessoal e, conseqüentemente, a história da Humanidade. [4]

O cidadão do século XXI, está vivendo em um mundo globalizado, subordinado diretamente à influencia dos meios de comunicação que encurta distâncias e afasta pessoas, sendo imprescindível uma sólida formação intelectual, cumulada com a formação ética, moral e pessoal. E esse desiderato somente será plenamente atingido com a união e colaboração de todos: pais, professores, funcionários, psicólogos, psicanalistas e a efetiva participação do poder público, cumprindo os deveres com a educação, direito garantido na Constituição Federal, a rainha de todas as leis.

Notas

1. DIOMAR, Oswaldo. Genealogia de Carmo do Cajuru. Divinópolis: Gráfica Sidil, 2004. p. 590.

2. COUTO, Maria Joana de Brito D’Elboux . A sedução e a tarefa de educar. Disponível em : < http://www.avercamp.com.br/livros/psica.htm > Acesso em 12/09/04.

3. Cf. MOGGI, Jair. Prefaciando o livro: Assuma o comando do seu destino de Gudrun Burcchard. São Paulo: Editora Gente, 2001.. p. 10.

4. Cf. DOUGLAS, William. Como passar em provas e concursos e nuca teve a quem perguntar. 6. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 199. p. 33.

Capitulo I – CULTURA

1 CULTURA

Entende-se por cultura o processo ou estado de desenvolvimento social de um grupo, um povo, uma nação, que resulta do aprimoramento de seus valores, instituições, criações, civilização, progresso.

O pensador alemão Goethe [1]de forma simples e até bem humorada, conforme poesia na folha três deste trabalho, definiu este evoluir de um ser agregando os valores e defeitos de seus ancestrais, e conforme já definiu Rui Barbosa “A Pátria é a família ampliada”.

Nos ensinamentos de Howard C. Warren:

“Fase o grado de avance del individuo o del grupo social en conocimientos generales y en conducta social coordinada, debido al progreso de la organización social, que se acompaña de un aumento de conocimientos y de evolución de los costumbres, actos, creencias y formas sociales integradas que practica un grupo o tribu determinados; por ejemplo la cultura de los indios iroqueses” .[2]

2 ANTROPOLOGIA

Antropologia é o conjunto complexo dos códigos e padrões que regulam a ação humana individual e coletiva, tal como se desenvolvem em uma sociedade ou grupo específico, e que se manifestam em praticamente todos os aspectos da vida: modos de sobrevivência, normas de comportamento, crenças, instituições, valores espirituais, criações materiais.

Como conceito das ciências humanas, especialidade da antropologia, a cultura pode ser tomada abstratamente, como manifestação de um atributo geral da humanidade ou, mais concretamente, como patrimônio próprio e distintivo de um grupo ou sociedade específica.

3 FILOSOFIA

Filosofia é a categoria dialética de análise do processo pelo qual o homem, por meio de sua atividade concreta (espiritual e material), ao mesmo tempo que modifica a natureza, cria a si mesmo como sujeito social da história [3]

4 ANTIGÜIDADE

Compreende o período histórico também conhecido como Idade Antiga, ocasião em que a humanidade viu despontar, embrionariamente, o desenvolvimento das primeiras civilizações orientais, com o surgimento das sociedades socialmente organizadas e das primeiras legislações que exerceram influências no Ocidente, entre elas a egípcia, a hebraica, a fenícia, a persa e a helênica. Ensina a história que elas tiveram início com o aparecimento da escrita, cerca de 4000 anos a.C., e que se estenderam até o ano de 476, com a queda do Império Romano do Ocidente, no século V.

Naquele período incipiente da civilização, já se apresentavam os vestígios da divisão das sociedades em classes e organização religiosa.

Sabe-se também que Hammurabi reinou na Babilônia entre 1728 e 1686 a.C., sob cujo reinado elaborou-se o Código de Hammurabi, uma das mais antigas recopilações de leis, escrito em caracteres cuneiformes, em língua babilônica, tida como o melhor dos textos de leis do Oriente Antigo.[4]

Também entre os hititas, povos procedentes da Capadócia, o rei centralizava o poder: era juiz supremo, sacerdote e chefe do exército. Possuíam também normas de Direito, nas quais eram previstas penas pecuniárias, privação de liberdade e escravidão.

Os hindus também colaboraram com suas regras sociais, ditadas pelo Código de Manu, elaborado pelos sacerdotes.

Outro grande destaque da Idade Antiga foi a cidade de Alexandria, no Egito, com sua biblioteca, contendo um acervo com 400 mil obras, incentivando um novo florescimento da ciência, da arte, da filosofia.

Não podemos também olvidar que os princípios basilares orientadores da democracia moderna nasceram também no século V a.C., na Grécia, que dois séculos depois, viu nascer Aristóteles, o mais brilhante gênio da filosofia e um dos formadores das bases de todo conhecimento científico.

Assim afirma Vandick Nóbrega de Araújo:

A Filosofia de Aristóteles é o marco fundamental da Ciência e seus ensinamentos persistem a despeito daqueles que pensaram ter sido erradicado definitivamente o aristotelismo em sua função de captação do real. A ilusão de Galileu e de Giordano Bruno e de seus seguidores teve curta duração. As aporias do conhecimento exigem a cada passo a volta ao aristotelismo e o reexame de seus princípios. [5]

Outro dado importante oriundo da Idade Antiga foi a colaboração de Roma, com seu alfabeto latino, que deu origem a várias línguas contemporâneas.

5 IDADE MÉDIA

Período compreendido entre o começo do século V até o século XV, marcado pelo fim do Império Romano no Ocidente, em 476, e pela conquista de Constantinopla pelos turcos, em 1453.

Trata-se de um período visto pelos historiadores como “a longa noite de mil anos”, marcado por muitas guerras, perseguições, mudanças de poderes e início da formação e consolidação de classes.

Com a morte do imperador Carlos Magno, o Império Romano se divide. Sua porção oriental forma o Sacro Império Romano-Germânico, em 962, o período da formação do feudalismo, [6] “regime resultante dum enfraquecimento do poder central, e que une estreitamente autoridade e propriedade da terra, estabelecendo entre vassalos e suseranos uma relação de dependência”. Esse período foi marcado pela ruralização da economia e pela retração do comércio e da vida nas cidades.

A partir do século X, com a crise do feudalismo, caracterizada pelo fortalecimento do poder real e pelo enfraquecimento da Igreja, aparecem as monarquias nacionais, marcadas por revoluções, guerras civis, disputas territoriais e conflitos com a Igreja, que ocasionaram a criação de leis escritas em substituição às leis feudais, marcando o nascimento da burocracia moderna.

6 IDADE MODERNA

Período histórico assinalado entre a conquista de Constantinopla pelos turcos, em 1493, e pela Revolução Francesa, em 1789.

A crise vivida pelo Ocidente europeu no século XV é compensada por um período de expansão marítima e comercial. A sociedade da época mantém os traços feudais, com a divisão em ordem ou estamento: clero, nobreza e, em terceiro lugar, camponeses, burguesia mercantil e manufatureira, artesãos e os trabalhadores assalariados.

Esses trabalhadores assalariados destituído do poder político, porém responsáveis pela produção da riqueza dos Estados Modernos, representam as forças transformadoras que levarão ao final do absolutismo, que se caracterizava pelo poder centralizado na mão do monarca, criando inclusive, uma organização judiciária nacional, a justiça real.

Com a evolução das leis a partir do estudo do Direito romano, surgem teorias que justificam o absolutismo, representadas pelos pensadores Nicolau Maquiavel, Jean Bodin, Jaques Bossuet e Thomas Hobbes.

Surgem também em alguns Estados absolutistas europeus no século XVIII os déspotas esclarecidos. Inspirados pelo racionalismo iluminista, limitaram o poder da Igreja Católica, reduziram os privilégios da autocracia e do clero, centralizaram o poder, favorecendo o progresso econômico e estimularam as artes e a ciência.

Com a Revolução Industrial, no início do século XVIII, o mercantilismo é substituído pelo liberalismo, que defende a não-intervenção do Estado na economia.

É importante ressaltar que muito antes da Revolução Industrial a reforma calvinista, em 1534, na França, já considerava o homem livre de todas as proibições não explicitadas nas Escrituras, o que tornava as práticas do capitalismo lícitas, em especial a usura.

7 IDADE CONTEMPORÂNEA

Período histórico compreendido entre a Revolução Francesa e os dias atuais. Nesses 217 anos, a humanidade e os meios de produção e comunicação sofreram grandes e expressivas transformações.

Os revolucionários franceses eram adeptos do Iluminismo, corrente de pensamento dominante no século XVIII que defendia o predomínio da razão sobre a fé e estabelecia o progresso como destino da humanidade. Alcança maior repercussão na França, onde se opõe às injustiças sociais, às intolerâncias religiosas e ao privilégio do absolutismo.

Na economia, é premissa do Iluminismo que a terra seja a única fonte de riqueza de uma nação. O liberalismo econômico defende o não-intervencionismo do Estado na economia.

Napoleão Bonaparte participa da redação do Código Civil e do Código Comercial, defendendo os princípios da Revolução Francesa.

Esses princípios do Código Civil francês influenciaram várias legislações européias e americanas, inclusive a do Brasil, notadamente quando da elaboração do Código Comercial, de 1850, parte dele revogado pela Lei 10.406 de 10/01/2002, e do Código Civil, de 1916.

Desde o início do século XVIII, uma série de mudanças consolida o capitalismo, sistema econômico e social caracterizado pela propriedade privada dos meios de produção, pelo trabalho livre e assalariado e pela acumulação de capital, estabelecendo a ordem burguesa.

A Idade Contemporânea também assistiu ao ressurgimento do comunismo, doutrina e sistema econômico e social baseado na propriedade coletiva dos meios de produção, priorizando o interesse comum da sociedade sobre o indivíduo isolado.

O comunismo [7] surgiu na Antigüidade com “Platão (429-347 a.C.), filósofo grego, e seus seguidores, caracterizado principalmente pela teoria das idéias (q. v.) e pela preocupação com os temas éticos, visando a toda a meditação filosófica ao conhecimento do Bem, conhecimento este que se supõe suficiente para a implantação da justiça entre o Estado e os homens.”

Ressalte-se também que a Idade Contemporânea presenciou o surgimento do neoliberalismo, política econômica com ênfase no livre mercado. Os neoliberais defendem que a vida econômica é regida pelas leis naturais, resultantes da livre associação entre os indivíduos, promovendo a redução do papel do Estado na esfera econômica.

Também no final do século passado presenciamos a Globalização:

Processo típico da segunda metade do século XX que conduz à crescente integração das economias e das sociedades dos vários países, especialmente no que toca à produção de mercadorias e serviços, aos mercados financeiros, e à difusão de informações. As novas tecnologias de comunicação e de processamento de dados contribuíram enormemente para a globalização. [8]

Ainda sobre globalização, ensinam os professores Paulo Roberto Colombo Arnoldi e Luciana Bullamah Stoll:

Com a globalização, um novo paradigma se delineia em todos os setores da vida do ser humano, seja no trabalho e na competitividade pela mão-de-obra, seja no mercado de consumo, da economia, cultura, tecnologia, ciência, afetando não só os Estados, mas todos os indivíduos de um modo geral. [9]

Durante a Idade Contemporânea, houve o desaparecimento do absolutismo, o retorno do comunismo e o fortalecimento da democracia, com a consolidação dos Direitos do Homem e do Cidadão, já previstos na Revolução Francesa.

Ensinam os professores Paulo Roberto Colombo Arnoldi e Luciana Bullamah Stoll:

Sabemos que o Estado Democrático de Direito foi erigido ao longo da história e da evolução de conceitos que nasceram com a Revolução Francesa e legaram aos países da atualidade sistemas político-institucionais garantidores da autonomia, soberania e democracia, sendo o Poder Executivo, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário, coordenados através da Constituição, que é a expressão maior dos Estados organizados. O modelo de Estado Liberal do século XX igualmente passa por transformações com a globalização. [10]

O vetusto Código Napoleônico, de 1804, que com a Revolução Francesa veio trazer nova orientação à vida e cultura dos povos, até então inspirada em instituições em declínio, marcadas pelo absolutismo.

8 FREUD E A CULTURA

Desprezando qualquer separação entre o conceito de cultura e o de civilização, Freud afirma que a cultura designa a soma das produções e instituições que distinguem nossa vida da de nossos antecessores animais e que serve a dois fins: dominar a natureza extraindo dela os bens para satisfazer as necessidades humanas, e regular as relações dos homens entre si, especialmente no que se refere à distribuição dos bens conseguidos. Ao longo da história, o objetivo de dominar a natureza tem alcançado êxitos inegáveis, mas às custas de elevado preço. A questão é que a cultura repousa na imposição coercitiva do trabalho e na renúncia à satisfação das pulsões (sexuais e destrutivas), sacrifícios que cada indivíduo experimenta como peso intolerável, o que o torna, virtualmente, um inimigo da civilização. A imposição é inevitável, devido a duas características amplamente difundidas entre os homens: a falta de amor ao trabalho e a ineficácia dos argumentos contra as paixões. Indolentes e pouco lúcidas, as massas não aceitam espontaneamente os esforços e privações imprescindíveis à perduração da cultura. Justifica-se, assim, a impressão de que a civilização é algo que foi imposto a uma maioria contrária a ela por uma minoria que soube se apoderar dos meios de poder e coerção. [11]

9 BASES DA CULTURA BRASILEIRA DO SÉCULO XVI AO XVIII

No Brasil português, do século XVI ao XVIII, a economia era eminentemente rural: a produção era a extrativa – madeiras tensoriais ou para construção, plantas de todo tipo, a procura de ouro, prata ou pedras preciosas existentes na superfície, com métodos rudimentares, por falta de conhecimentos técnicos e capital para investir em minas; e o mais expressivo como renda era a agricultura, seja na lavoura ou na pecuária. A riqueza por excelência dos três primeiros trezentos anos foi a cana-de-açúcar, atividade agroindustrial – mais agro que industrial - geradora de consideráveis recursos para a coroa, bem mais do que o ouro. Sob a égide do Mercantilismo – política econômica dominante no Ocidente ao longo da Idade Moderna, do quinhentos ao oitocentos - o poder só visava ao lucro imediato, sem cuidar de assistência às práticas usadas, de modo a prejudicar-se pelo imediatismo da visão. [12]

Obs. Este texto continua com a segunda parte, denominada: Psicanálise e Educação 2, publicada neste Site.

Notas

1. GOETHE, Johann Wolfgang Von, escritor alemão, em Fracoforte sobre o Meno, 1749 e morreu em Weimar, 1832

2. WARREN, Howard C. Diccionario de psicología.. Traducción y revisión de E. Imaz, A. Alatorre y L. Alaminos. México, D. F: Fondo de Cultura Económica. 1987

3. Cf. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Eletrônico. Direção de Carlos Augusto Lacerda. São Paulo: Nova Fronteira, 1999. 1 CD-ROM. Produzido por MGB Informática Ltda.

4. Cf. AZEVEDO, Álvaro Villaça. Prisão civil por dívida. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 15.

5. ARAÚJO, Vandick Nóbrega de. Fundamentos aristotélicos do direito natural. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1988. p. 9.

6. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio eletrônico. Direção de Carlos Augusto Lacerda. São Paulo: Nova Fronteira, 1999. 1 CD-ROM. Produzido por MGB Informática.

7. Cf. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio eletrônico. Direção de Carlos Augusto Lacerda. São Paulo: Nova Fronteira, 1999. 1 CD-ROM. Produzido por MGB Informática.

8. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio eletrônico. Direção de Carlos Augusto Lacerda. São Paulo: Nova Fronteira, 1999. 1 CD-ROM Produzido por MGB Informática.

9. ARNOLDI, Paulo Roberto Colombo, STOLL, Luciana Bullamah. Globalização – Realidade e perspectivas. Revista Jurídica da Universidade de Franca. Franca. v. 7. p. 102, jul./dez. 2001.

10. ARNOLDI, Paulo Roberto Colombo, STOLL; Luciana Bullamash. Globalização – Realidade e perspectivas. Revista Jurídica da Universidade de Franca. Franca, v. 7. p. 110, jul./dez. 2001.

11. Cf. BARRETO, Francisco Pais. Psicanálise e violência urbana. Estado de Minas, Belo Horizonte, 24 jun. 2006, Nº 23.546. Caderno Pensar. p. 1.

12. Cf. IGLESIAS, Francisco. Prefaciando o livro: Tiradentes: retrato de uma cidade de Lélia Coelho Frota. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Bem-Te-Vi Produções Literárias Ltda., 2005.. p. 21.