BARRA DO ARICÁ
A comunidade Barra do Aricá, localizada a 67 km de Várzea Grande -MT, tem sua história viva na figura de Antônio Magalhães , “Seu Magalhães”.
Recentemente estivemos em aula de campo com os alunos da Escola Estadual Professora Nadir de Oliveira, localizada em Várzea Grande no bairro Jardim Glória I ,objetivando colocar em prática o nosso Projeto Meio Ambiente/ Agrinho.
Junto conosco esteve presente os representantes do Sema, Senhor Aristide Soares(Agrônomo) e o Senhor Josué de Deus(Educador Ambiental), ambos foram extremamente importante na nossa pesquisa de campo pois auxiliaram a comunidade local como proceder com o lixo e ainda palestraram com os moradores sobre a importância de preservar o local. Com os alunos, os representantes do Sema fizeram a limpeza do rio Aricá e ainda mostraram os perigos que o lixo pode causar no meio ambiente, e a importância de respeitar a época da Piracema. Toda a ação de nossa aula de campo esteve direcionada ao meio ambiente, cuja comunidade merece uma atenção por parte dos órgãos responsáveis.
Buscamos resgatar a historia da comunidade, visando que é pouco divulgada pela historiografia e quase não se tem acesso a materiais impressos, o artigo baseia-se na historia oral do morador mais antigo da Barra do Aricá, o senhor Magalhães, , e nas pesquisas desenvolvidas em lócus pela equipe pedagógica e comunidade escolar.
Segundo seu Magalhães o nome comunidade provem do rio denominado Aricá e, que este mesmo rio hoje se situa em lugar diferenciado de alguns anos atrás e que o mesmo mudou o seu percurso devido a ação do homem e da própria natureza.
O lugarejo nasceu da compra da terra pelo avô de seu Magalhães, o senhor Antonio Celino de Almeida, nascido na região do rio mutum, próximo a chapada dos Guimarães, o mesmo, era índio que foi capturado no laço e amansado posteriormente.
Seu Magalhães relata que seu avô comprou as terras no ano de 1902 de Mané e que desde então iniciaram o processo de exploração e ocupação.
E que este mesmo fator foi responsável pelas intrigas e disputas pela terra, cujo seu Magalhães nasceu e foi criado e mora ate os dias atuais na comunidade.
A região foi alvo de disputa, gerando violência, morte e prisão. Ele foi acusado de ter matado dois ocupantes e, enquanto esteve na cadeia, só conseguiu a liberdade com auxilio de Bento Porto, embora nega a autoria dos crimes, mas ressalta que a terra foi mantida a sua família com sangue e suor, todos sofreram, mas que ele de fato foi o único que resistiu e permaneceu o tempo todo ali, ate conseguir a escritura que demorou vários anos para ser concluída.
Durante muito tempo, eles sobreviveram da agricultura, plantava batata, arroz, feijão, cana de açúcar e fumo. Geralmente nas proximidades do rio Aricá. E que após certo tempo, as pessoas foram se evadindo do local e pondo fim na agricultura de subsistência e mudando os rumos dos moradores que permaneceram.
Hoje a comunidade sobrevive da pesca, a maioria é pescador profissional, inclusive as mulheres. O peixe é comercializado em Santo Antonio do Leverger e regiões vizinhas.
O comercio local se destaca em mercados pequenos, uma lanchonete, um restaurante e nas festas de São João, Santo Antonio e Nossa Senhora Aparecida que acontecem em meados do mês de junho ate outubro no centro comunitário, que foi construído em reivindicação de seu Magalhães. Durante o período da piracema, os pescadores recebem salário mínimo do governo como ajuda de custo. A renda familiar gira em torno de um a dois salários e a pesca é a principal fonte financeira deles. Sendo o pacu e a Peraputanga, os peixes mais pescados e comercializados. A isca mais usada é a minhoca e o milho, os apetrechos é o anzol, a vara de molinete e os espinheis. Uma das ações da escola foi ensiná-los o processo da vermi-compostagem. A comunidade possui apenas uma escola que oferece o ensino básico do primeiro ao quinto ano e se disponibiliza de duas professoras para o ensino de seriado e ambas moram na barra do Aricá. Quanto à escolaridade da população, a taxa de alfabetização se concentra no ensino fundamental até o sexto ano, o ensino médio ta na faixa mínima. O meio de transporte mais utilizados pelos moradores é o automóvel, moto e o ônibus, a canoa é utilizada para pescaria rio acima e abaixo, há o encontro dos rios Aricá e Cuiabá, ambos precisam de uma área de preservação maior, visando que a estrada é muito próxima ao barranco dos rios e a depredação do homem é visível, a contaminação e proliferação de lixos são consideráveis, principalmente com latas e garrafas pets, outra ação escolar, foi ensinar os moradores a reutilizar essas garrafas no processo de fabricação de vassouras, puff,objetos ornamentais, dentre outros... Os moradores enfrentam este problema, pois não sabem o que fazer, já que a comunidade não se disponibiliza de coleta, acabam colocando fogo e com esta ação, contribuindo também pela contaminação do solo e matando os peixes no processo chamado biguada, alem disso as raízes das árvores são afetadas provocando o assoreamento das margens dos rios Aricá e Cuiabá.
Quanto a moradia, a maioria tem casa própria, comprada ou adquirida pelo programa do governo, em relação à terra, a maior parte é documentada e outros ainda aguardam a escritura. Na comunidade há a presença da construção de uma ponte de concreto que ainda não esta pronta e a obra se encontra parada, ao questionarmos os moradores, disseram que é por falta de verba do governo e apenas poucos responderam que a paralisação da obra se da pelo fato de ocasionar grande impacto ambiental. Quanto aos moradores, uma curiosidade foi percebida, a maioria é membro da família do senhor Antonio Magalhães, incluso o presidente da comunidade que é neto dele.
O senhor Antonio de Magalhães, nasceu na Barra do Aricá no dia 19/08/1922, é viúvo, tem 22 filhos, vários netos e bisnetos, é o morador mais antigo do local, considerado um dos fundadores e pioneiros da região. E se emociona e nos emociona, ao contar sua própria historia que entrelaça com a comunidade e relata o respeito humano ao próximo e, principalmente aos mais vividos. Ressalva que a terra é o motivo de sua existência.
Artigo produzido pelas historiadoras: Adriana Alves de Freitas e Celi Minas Novas.