Harmonia da unidade na diversidade
Observemos a magnitude e a diversidade da Criação. Meditemos por um tempo, eis que as elucubrações e inspirações vão se sobressaindo diante do encantamento e da desconcertante reflexão contemplativa.
Particularmente, abstraio um princípio recorrente na Criação, tanto no âmbito da matéria, como no campo metafísico. A estruturação celestial, sob a ótica da transcendência, é constituída por uma multiplicidade unificadora do Criador, manifesta pela Trindade, expressiva por excelência, Centro e Razão da magnífica ordem do universo, capilarizando-se na hierarquia celeste que inclui os santos e os anjos em suas categorias.
Focando o campo astronômico, vejamos a existência evidente da multiplicidade, em profusão tal, que causa perplexidade na comunidade científica... são planetas, estrelas, cometas, asteróides, buracos negros, a enigmática matéria escura, etc. tudo isso bailando no cosmo, num espetacular entrelaçar de leis da física, princípios inicialmente científicos, mas que ensejam a transcendência.
Utilizando a metáfora do planeta Terra, pondero sobre a abundância da diversidade da Criação, constelação de criaturas tão próximas de nós humanos, mosaicos determinados e ligados pelo mesmo "cimento" unificador, muito embora nosso "mundo" lamentavelmente quebre a "lei" da harmonia da unidade na diversidade, mais especificamente, no tocante à interferência maléfica humana, por sua faceta decaída e tudo o que advém dela.
Nosso planeta é constituído por uma ampla diversidade de elementos químicos, os quais combinam-se infinitamente transformando a matéria e dando suporte à vida. A lei biológica do equilíbrio da Natureza é a prova retumbante da harmonia da dinâmica entre a biodiversidade e os biomas nos quais estão contidas, revelando uma infindável teia de relações entre os seres viventes, a biodinâmica.
Contemplemos a diversidade das árvores, tão sublimes existências do reino vegetal, atentemos para a variedade de suas famílias botânicas, caracteres como tipos de flores, folhas, frutos, sementes, caules, porte, colorações...
Há o magnífico exemplo do natural equilíbrio entre as espécies animais em sua extraordinária biodiversidade... milhões de criaturas multifacetando o reino animal, cujo representante da redenção desse atributo é o Ser humano, capaz de elevar-se ao plano espiritual por ser dotado de uma parcela do Criador e ter a potencialidade de exercer e conservar essa vivência divinal, porisso ser denominado como "à imagem e semelhança de Deus". Curiosamente e propositalmente, nós humanos simbolizamos o objetivo do Pai Criador, justamente por personificarmos a multiplicidade e a diversidade, seguindo o desígnio bíblico: "Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a Terra". Com efeito, praticando a constante da "equação" da Criação. Somos dotados de personalidades ímpares, diversas, etnias variadas, povos distribuídos pela face da Terra evidenciando multiplicidade e diversidades de regionalismos, idiomas, linguagens, culturas, etc.
No campo da individualidade humana, notemos o corpo de uma pessoa, são inúmeros órgãos trabalhando em conjunto em prol da harmonia, bom funcionamento e sobrevivência do organismo que, por si só é ícone de unidade na diversidade. Cada célula do corpo é composta de um rol de elementos, uma reprodução em escala reduzidíssima da lógica do organismo humano. O DNA alocado no núcleo celular é diversidade por excelência, capaz de condensar microscopicamente imensa quantidade de informações genéticas de um indivíduo, muito mais complexas e personalizadas do que uma impressão digital... tal DNA tem sua diversidade manifesta pelas combinações moleculares que geram desdobramentos ao longo de toda a vida útil do organismo, e cada molécula também tem sua diversidade de átomos, e os átomos por sua vez estão incluídos significativamente no princípio da diversidade: prótons, elétrons e nêutrons variando permanentemente.
Conclusão, seja no microcosmo, seja no macrocosmo, sob a perspectiva da matéria ou da metafísica, constato a existência eterna, constante e dinâmica de uma diversidade convergindo para a Unidade, pois a natureza desse princípio é a Harmonia, regida e resguardada por Deus Criador, mas que no gênero humano, fica exposta à corruptibilidades e fragilidades inerentes à essa vivência, mas cuja volta à concepção original e perfeita, só foi possível por meio do Deus-Filho - Jesus - o Verbo Criador feito carne, o Centro da história e alicerce unificador do universo, algo tão acima da capacidade de compreensão humana, que conseguimos vislumbrar frações da Plenitude do Infinito, uma forma de interagirmos com o Elo emblemático da unidade na diversidade da Criação.
Ao Homem foi concedida a capacidade criadora, o ato de criar implica conceber, trazer à existência novas coisas, ou seja, diversidade. Estamos invariavelmente envolvidos nessa questão, de uma forma ou de outra.
Carlos Augusto de Matos Bernardo