UMA REFLEXÃO

Pensei em estudar um pouco para escrever este texto. Entretanto, por inúmeras razões, desisti. Já li muitas histórias relativas a casais apaixonados. Gosto da história triste de lady Di. Gosto de outras: Elizabeth Taylor e Richard Burton, Romeu e Julieta; Marisa Raja Gabaglia e Osmani Ramos; Edith Piaff e Marcel Cerdan; Maysa e André Matarazzo; Marylin e tantos; Brigitte e tantos. E tantos e tantos.

É linda essa capacidade de amar e amar. De minha parte, apesar desse gosto por histórias de amores radicais, fui direcionada para o pensamento de “mulher de um homem só”. Que pena! Que falta de experiência e de conhecimento de causa. Saí no prejuízo nesse setor.

Acredito que a poesia tenta suprir essa desconfiança em mim de que eu deveria “ter ousado mais”. E tudo mais. Entretanto, estou certa do quanto é difícil mudar determinadas posições, conceitos e comportamentos aprendidos. Por mais que se deseje mudar de opinião, é uma consumição e um sentido terrível de pecado, de injustiça e de incompetência.

Acredito que as frases de George Sand que escolhi possam traduzir muito do que eu mesma gostaria de dizer. E também me passam uma dimensão muito tênue da mulher que amou Chopin. E outros, e tantos. E foi também amada, isto que mais importa. As frases são: “Nenhum ser humano dá ordens ao amor”. “Há cem mil maneiras de perder o amor de uma mulher, e a única que não se previu é, precisamente, a que se realiza”. “É preciso um trabalho duro e uma grande vontade para transformar a paixão numa virtude”.

Retomando o parágrafo anterior, diria que tanto sou quanto fui amada, mais até do que imaginei. Talvez as incontáveis leituras de tantas histórias cobertas de sofrimento e desfechos infelizes me tenham deixado essa marca. Ou, se é verdade que se acumula bagagens de outras vidas (coisa em que não creio), eu possa ter lembranças de anteriores e supostas vivências. Há em mim um estranho medo com o qual convivo desde a adolescência. Sentia que alguns rapazes se dedicavam demais e exageravam em atitudes para mim inaceitáveis e incompreensíveis. Por exemplo, se dizia a algum desses: não quero mais, vá embora, ele ficava com uma fisionomia trágica. Daquelas do tipo “não serás minha e nem de mais ninguém” E eu já me sentia e via arrumadinha dentro de um caixão, partindo para a Eternidade onde ele prometia me encontrar. Conheço a paixão e a temo. Tanto a que senti do outro, quanto a que senti pelo outro. Eu mato a paixão antes que ela me mate. Ela é capaz de matar e é atiradora de elite. Com isto o leitor não pense que nego o fogo e as delícias da paixão. Declaro que é uma maravilha, mas o ideal é mesmo dar um jeito de se esconder de sua fúria. A paixão é furiosa e eu já olhei cara a cara a sua gana e possessividade. Eu gosto, amo a liberdade e percebo que a palavra paixão deveria aparecer no dicionário como sinônimo de prisão, escravidão.

Vale dizer que, concordo plenamente com George Sand quanto à afirmativa de que não nos é possível dar ordens ao amor. Tenho tanta certeza disto que me apavoro. E me corto, e evito, e fujo. Justamente porque também estou certa de que há um fragilíssimo instante no qual o cristal se quebra e toda a paixão vai irremediavelmente embora e jamais retorna.

As mulheres que citei são: umas belas, outras mais ou menos belas e outras não tão bonitas assim. Vejo, entretanto, que a paixão não se incomoda com isto e nem com outros detalhes. Ela acontece por algum motivo que não vem ao caso estudar agora. Ela acontece como um tiro e ponto final. Perdida está a batalha. Então, já que insiste, procuro como George Sand, trabalhar duramente para transformá-la em algo digno, virtuoso. E por quê? Muito fácil responder. Por que se assim não acontecer seremos ridículos, faremos coisas jamais pensadas, nos humilharemos. Enfim, será o caos e a perdição. Às vezes sentimo-nos seguros quanto às possibilidades de nos perdermos, mas ledo engano, a paixão promove meios para conseguir seus objetivos. E, de repente, ficamos cegos, surdos, mudos, inconsequentes, loucos. Essas histórias mostram muito bem como acontece o caos. Marcel Cerdan abandonou a família por Piaff. E, para piorar a situação, ao chamado de sua cantante amada, vem ao seu encontro num voo fatal.

Que tipo de amizade a paixão terá com a morte? Falo e escrevo sobre a morte, encontro nela uma beleza taciturna, mas não gostaria de morrer cedo, como tantos amantes morreram e morrem, apesar das radicais mudanças nos valores sociais.

Para inserir um pouco de humor diria que penso em providenciar a instalação de sistema de freios em meu cérebro. Daqueles freios que fazem parar uma aeronave do tipo Airbus. Para não morrer de temores e amores. Ama-se com o cérebro, espero que o meu esteja funcionando a contento e dentro da lógica.

OBSERVAÇÃO

Mesmo percebendo nos comentários o entendimento dos leitores quanto à abordagem do tema, faço questão de, cuidadosamente, frisar o que é óbvio neste texto: trata-se de uma reflexão sobre o tema citado, apenas e puramente uma reflexão.