Meu sertão já virou mar
Os principais personagens místicos do Nordeste, entre o final e início dos séculos XIX e XX, como Antônio Conselheiro, Padre Cícero e Frei Damião já diziam que “o sertão vai virar mar e o mar virar sertão.” Aproveitando-se de alguns dos seus conhecimentos sobre visão futurista do homem, procuravam aumentar o fanatismo religioso em torno deles, por meio de suas profecias. O padre Cícero, que chegou a ser prefeito de Juazeiro do Ceará, recebia jornais do Sul, através dos quais tomava conhecimento de algumas previsões de fenômenos astrológicos, como eclipse solar e lunar, atribuindo a si o poder de vidência. Ao ocorrer o fenômeno, caracteriza assim a sua profecia.
Muito embora estejamos confiantes de que o mar não vai virar sertão, a previsão de que o sertão viraria mar, numa linguagem figurada, já se concretizou ao longo do rio São Francisco, onde foram construídas barragens com fins hidrelétricos, formando grandes lagos, com armazenamento de até 12 bilhões de metros cúbicos de água, numa superfície que alcança mais de 800 quilometos quadrados, a exemplo do Lago de Itaparica, que inundou três cidades, duas em Pernambuco e uma na Bahia, tais como: Petrolândia, Itacuruba e Rodelas. Comparando o gigantesco lago com o leito natural do rio, onde a maior largura não ia além de um quilômetro, mesma na época das grandes cheias, podemos dizer que o lago representa um verdadeiro mar.
Hoje, somente por meio de fotografias, podemos fazer um passeio pelas antigas cidades, onde as nossas casas foram transformadas em moradas de peixe, pois estão submersas em grandes profundidades, há 21 anos, quando ocorreu o enchimento da barragem. Felizmente, antes da inundação total, algumas pessoas registraram o fato através de fotos e filmagem, possibilitando-nos rever aqueles lugares onde vivemos a nossa infância. Eis aí a concretização da profecia: “O nosso sertão virou mar”.