Nunca te vi, mas sempre te amei...
Nunca te vi, mas sempre te amei.
Li, há alguns anos, um livro intitulado "Tia Júlia e o Escrevinhador", escrito por Mário Vargas Llosa, um escritor peruano que abordava no dito livro o romance entre uma tia e seu sobrinho.
Pego, bem a propósito, o título desse livro como mote para afirmar que escrever é como jogar a alma em forma de palavras.
Na maior parte das vezes, ao nos dispormos a colocar eventos através da escrita, fazemos uma exsudação, uma catarse dolorosa em que não olvidamos nada, por mais chocante que seja, daquilo que temos de reportar.
Nestes tempos em que a superficialidade predomina, lembro-me com nostalgia dos amores que se eternizaram através das missivas: Anais Nin, escritora francesa, nos deixou relatos maravilhosos, contidos em seus diários, Que foram transformados em livros, do amor e admiração que devotava a seu pai, além da devastadora paixão pelo escritor Henry Miller, formando posteriormente um triângulo amoroso com a esposa deste (o supramencionado) June, fatos contados por ela em um livro que escreveu: "Henry, June and me".
Adentrando o reino da telona, o filme "Nunca te vi, sempre te amei", baseado em acontecimentos reais, nos fala sobre outra maravilhosa relação, esta ocorrida entre uma escritora americana e um livreiro britânico, mantida através de cartas trocadas a atravessar o Atlântico, entre a Inglaterra e os Estados Unidos.
Guardo ainda em minhas recordações um outro filme sobre Anais Nin, “Delta de Vênus”, que também me prendeu a atenção, fazendo-me viajar no imaginário erótico dessa mítica mulher...
Vemos hoje um misto de abandono e encantamento quase infantil que toma conta das pessoas de todas as idades quando se põem diante de uma tela de computador e entram nos "chats" de relacionamento. É o mesmo processo da troca de correspondência que se fazia outrora, mudando apenas a velocidade de interação que o meio tecnológico proporciona.
Apesar do modernoso recurso das webcams, que nos permite ver ao vivo e em cores com quem estamos interagindo, ficamos fascinados em querer saber como é na realidade (em carne e osso) aquela pessoa que temos diante de nós, mas, em realidade, ainda distante.
O nível de adrenalina sobe bem mais alto, deixando-nos em suspenso, presos por uma ansiedade que só faz aumentar e tornar muito mais interessante o (a) personagem que nos atrai de forma praticamente irresistível.
(Escrevendo sobre a evolução das formas de contato entre pessoas que se encontram distantes umas das outras.)
João Bosco