CENSURA NO RECANTO DAS LETRAS

“Vamos pedir piedade, senhor piedade, pra essa gente careta e covarde”. (Cazuza)

No mundo das letras não há nada pior do que a censura. Nada.

Concorre com essa excrescência a tolice generalizada da maioria dos leitores.

No Brasil há 50 milhões de analfabetos. Dos que sabem ler, dois terços da população brasileira não sabe ler uma notícia de jornal e interpretá-la. O terço leitor que sobra, está preocupado com leitura de auto-ajuda e com as quinquilharias ditas espirituais que qualquer boçal publica. Recebem espíritos pelo computador!

Justamente dentro desse terço “leitor”, há uma reduzidíssima minoria que tem condições culturais e intelectuais para ler e interpretar a alta literatura. Sabe esse leitor, necessariamente culto e esclarecido, que no papel ou na tela do computador o escritor pode colocar o que quiser.

Veja bem o leitor que não sabe interpretar, o tio aqui vai explicar para você como funciona esse negócio de ficção. É simples, você consegue.

Ficção é assim:

Você inventa uma história, cria, retira da fertilidade da sua imaginação uma história fantástica; seja ela cruel, seja mórbida, seja ela como for. Mas, acalme-se cândido leitor, ficção significa que a historinha que o tio criou é de mentira.

Se o personagem mata alguém ou algum animal ou “incita à violência” na verdade, na verdade, como diria Jesus Cristo, ele não matou ninguém de fato. Não há corpo para incriminar o escritor que mata seus personagens.

Entendeu?

Se alguém quer ser violento ou se tem tendências homicidas, não são os meus escritos que vão incitá-lo a praticar o crime, ele já é por si só um degenerado.

Mais uma vez, pois sei que para você é muito difícil entender as coisas, te avisei que ler auto-ajuda não faz bem à inteligência.

FICÇÂO É UMA HISTÓRIA INVENTADA, É MENTIRA, NINGUÉM MATOU NINGUÉM, NINGUÉM FERIU NINGUÉM. ESTÁ TUDO BEM!

Com minha literatura o mundo continua o mesmo. Não o melhoro nem pioro.

Além de tudo isso, o leitor brasileiro tende a ser piegas. Gosta ele dos finais felizes de novela, dos clichês, dos chavões, dos lugares-comuns. Esse é nosso terço leitor brasileiro.

Literatura de verdade, alta literatura, não foi feita para expor meus bons sentimentos. A literatura de verdade tem esse condão de instigar, de bulir, de mexer com os nervos do leitor. Mostrar o nosso lado sórdido que tanto queremos esconder, mas que sabemos existir.

O consumidor de livros brasileiro, classe-média, invariavelmente, pensa que o mundo é essa redoma do seu condomínio, do seu apartamento. Redoma que pensa estar livre da violência das ruas, das tragédias, das catástrofes e da morte. Pensa ele que isso só acontece com os outros.

Lembro-me agora do Cândido do Voltaire, que pensava viver no melhor dos mundos possíveis.

Alta literatura e filosofia é coisa para poucos, pouquíssimos.

Quando a pessoa é medíocre e sua capacidade de criação é limitada, esta recorre aos meios institucionalizados para que estes reprimam e censurem o artista.

Tal pessoa não consegue criar nada, não consegue vislumbrar nada além da vida monótona que vive. Vê apenas o que o circunda, apenas o seu próprio umbigo.

Pseudo-escritores, censores, reacionários e pior de tudo, muito burros!

Como vamos ter um site que pretende ser um “Recanto das Letras”, mas censura os seus escritores por causa da falta de capacidade leitora de alguns boçais?

Lamentável.

Frederico Guilherme
Enviado por Frederico Guilherme em 21/11/2009
Reeditado em 21/11/2009
Código do texto: T1936323
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