QUANDO UM DIA FOMOS ETERNOS

QUANDO UM DIA FOMOS ETERNOS

Houve já um dia em que cada um de nós foi eterno, ou assim se sentiu. Se já não lembram é porque a memória precisa de ser lubrificada, urgentemente, antes que as engrenagens se quebrem: pelo atrito da mágoa, pelo azedume do humor, pelo nevoeiro da indiferença, pelo frio da solidão, pelos fantasmas da noite, e a descrença no amanhã, que independentemente dos nossos humores haverá de nascer, mais belo e sorridente.

Quando nós éramos imortais os homens ainda não tinham inventado a palavra caos, havia só o cais. E, assim lá íamos nós qual rio de águas cristalinas, sem temores, sem o receio da foz, que por certo haveria de ser motivo de alegria a mais, porque outras águas se juntariam às nossas águas, por onde continuaríamos a singrar, e um rio era já um mar.

No tempo em que nós não éramos deuses, mas apenas seres humanos e joviais, o mundo era outro, feito do tamanho apropriado, ajustado aos nossos ideais, não menos, nem mais, por isso, não éramos deuses, mas éramos imortais.

Naquele tempo sim, o mundo era outro, ah isso eu tenho a certeza! No mundo dos homens que, não são imortais, tais justezas são sinais, no mínimo de mentes pequenas, incongruentes, de crianças... nada mais. O homem para ser homem, tem que ser aguerrido, mostrar que tem poder, que é macho mas no pega pra capar, quem serve de bucha de canhão na guerra é o pobre soldado, covardemente engatilhado, por esses bufões, valentões de araque.

Aquele era e, será, assim se pense, o tempo quando se é criança e ainda adolescente; quando a vida é tão, digamos apetecida, recheada de coisas tais que, nem por sombra ou réstia de pensamento, seremos pobres mortais.

Quem há que não lembre do primeiro amor, ou dos primeiros amores? Quem não fez seus poemas apaixonados à sua amada, escreveu cartas de amor, ainda que tais arrebatamentos de aguda paixão, em sua maioria nunca tenham chegado a seu destino... Ah! sim nós éramos eternos. Quem comandava a vida era o sonho, e nossos sonhos eram puros como as rosas, e tinham dimensões outras que não a dos adultos, mortais.

O homem só começa a morrer quando perde a capacidade de sonhar e de amar, por isso é de lamentar que, tantas pessoas ainda sendo jovens, carreguem dentro de si tanta acrimônia, a desmotivação para a vida, e, tantas vezes afundando-se na droga que escraviza, que o leva à derrocada, antes mesmo das escaramuças com que a vida vez por outra nos costuma brindar.

Por outro lado é maravilhoso, é belo ver pessoas que, apesar da idade cronológica avantajada, não perderam a jovialidade, o brilho do olhar, a ternura, a doçura com que brindam aos que os rodeiam. Esses redescobriram o tesouro que guardavam dentro de si desde sua infância, fazendo-se partícipes dum paraíso que não se perdeu, e que haverá de continuar muito para lá do tempo...

Eduardo de Almeida Farias

Eduardo de Almeida Farias
Enviado por Eduardo de Almeida Farias em 19/11/2009
Código do texto: T1932809