Drogas...Um bicho de sete cabeças?? Tentando entender...
"Não é tarefa do historiador dar receitas para mudar a sociedade, assim como não é tarefa do poeta melhorar o mundo. Mas, como o poeta, ao fazer da realidade uma metáfora, nos ajuda a reconhecer o sentido e a manter a distância e a liberdade necessárias na luta para melhorá-la, também o historiador e o sociólogo, pelo fato de revelarem como andavam e como andam realmente as coisas na sociedade, já começaram a mudá-la."
Drogas...como entender?
Está tomando corpo uma nova visão sobre o problema da droga no Brasil, em que tanto o usuário quanto o traficante, são colocados sempre como parte diabólica de um processo de destruição social.E a droga é sempre vista como a causa maior deste processo, quando se tem um outro lado desta moeda que não é discutido pela maioria dominante deste cenário globalitário, como diria Nilton Santos, o geógrafo brilhante (não o jogador brilhante),que tinha como tese , que a globalização não era o problema, mas sim o seu uso e sua manipulação, dai ter criado o termo "globaritarismo".
Desta visão atual sobre a droga, eu concordo com muita coisa e discordo de outras.
Mas indiscutivelmente estamos avançando neste processo de tirar a capa de única vilã, deste objeto que Freud chamou de "amortecedor de tristezas". Existem aqueles que defendem o uso da droga como escolha e direito de escolha ,como direito ao próprio corpo e é verdade, é um direito de todos. Mas o que determina esta escolha?
E as questões dos laços familiares?Onde se discute sua deterioração neste mundo consumista, até que ponto isso influencia?
E aos que defendem a total repressão, da droga, como ficará a sociedade, quando ela for legalizada?Já pensaram que isto pode acontecer? Como foi com o alcool, cigarro e a cafeína, esta última que ainda hoje para ser comprada precisa de autorização.Quem será o bode espiatório, que ocupara este lugar de vilão do século?
Quem, vai preencher este "buraco negro", que absorve as vergonhas e medos sociais e emocionais de cada um, e que nós não queremos ver.
Hoje uma nova visão proporciona um tratamento em que a pessoa e não a droga é o foco, em que a abstinência não é imposta, mas é oferecida, e colocada como consequencia, a diferença está na liberdade de escolha, liberdade esta que não acorrenta a pessoa ao medo do fracasso, que leva ao abandono do tratamento a cada recaída, e então pode proporcionar um tratamento mais real, menos manipulador de culpas, e com mais sucesso. E paralelo a ele, o tratamento de riscos e danos, de doenças e situações que vem junto com a drogadição.Esta é a grande "novidade", se é que se pode falar assim, no Brasil, pois a maioria dos estados não usa este método de redução de riscos. Ou seja quem é tratada é a pessoa, não a droga e a dependência, esta é repensada, e colocada em seu real lugar, o de escolha. E isto melhoraria bastante o "drama" que algumas famílias vivem, se este peso dramático fosse retirado, colocanto apenas a idéia de entendimento e apoio . Sem dramatização mas com limites rígidos e afetos. Parar de ver o usuário como parceiro financiador de crimes ou como coitadinhos. Ver as escolhas pessoais, porque há escolhas, ninguem usa droga ou faz tráfico por última alternativa. O usuário não pode tudo, mas pode o que quer para sí. O traficante tem e terá sempre a alternativa de outros trabalhos, e se este não satisfaz, tem a alternativa do estudo, inclusive porque o traficante nem sempre é pobre. A realidade de um país que não tem a legalização da droga, como o Brasil, faz com que não se veja além da droga, vendo que ela existe desde que o mundo é mundo, desde relatos bíblicos, e que droga é uma camada imensa de objetos, não é só cocaína, crack, etc...e que hoje a relação das pessoas com este objeto, é tão mais intensa e problemática para grande maioria, do que no passado, alguma ferida social e emocional não está cicatrizando, porque o que mudou foi a forma de uso e de eleição.E o surgimanto de variedades de droga que acompanham este cenário. Tapar o sol com a peneira resolve?
Dizer que não usamos drogas e por isso não somos culpados, é verdade?Se somos a sociedade, então é justo dizer que não somos parte disto? Deste este caos social?
Aumentar as prisões e as penas resolvem?
O que se faz por aqueles que lá estão e que um dia voltarão ao chamado convívio social "normal'.
As prisões são meros depósitos!!
O que fazer por nós, aqui fora daqueles muros...
Vc usa droga?Não... será?
Tomou chopinho esta semana?Bebeu quantas xícaras de café?
Sabia que para comprar cafeina tem que ter autorização?
Fumou quantos cigarros?Usou quantos analgésicos e inibidores de apetite, tomou quantas colheres de xarope?
E...etc...etc...
Já sei, vc faz uso social de drogas lícitas, não é?Isso não faz de vc um marginal.
Mas pode fazer de você um dependente, igual ao usuário de drogas ilegais.
Se você usasse as ilícitas, vc seria um marginal.
Então o que fez vc optar pelas drogas legais? Por que vc gosta delas? O que faz o outro optar pela ilegal?
Gostar dela?
E também....
Ser um "depende" de droga legal ou ilegal, torna vc usuário melhor??
Quem é bandido?
Então....
A droga é a grande questão social?
Vale falar só em dor, sofrimanto, dependência?
Ou investir mais em relações humanas não rotuladas?
Repensar o "Divino Mercado", que faz de qualquer produto nossa droga e do consumo nossa dependência, é fato urgente.
Estamos ficando sem identidade em seu lugar agora temos o "código de barras".
A sociedade precisa deixar cair as máscaras, e entender sem medo, que todos nós ao fazer da drogadição um drama, estamos contribuindo para seu sucesso, repansar e investir em relações humanas, em qualidade de vida em entendimento sobre drogas é o que se deve fazer antes de pensar em fazer do "problema", uma cruzada, contra ou a favor. A droga está aí, na rua, nos lares, na escola, na vida, e dizer que não vemos é cruel, é desumano, ela está a nosso lado, seria melhor tentar entender que se investirmos nas relações familiares e sociais e não tratarmos o usuário como coitados ou vilões, mas como pessoas que fizeram escolhas, poderemos nos aproximar mais deles e se eles desejarem poderemos oferecer a ajuda que eles precisarem.
A droga dos tempos da bíblia não era tão davastadora, quanto as de hoje, não por ser menos química, mas por que o homem tinha seus níveis de desejos ao alcance dos limites.
A legalização levanta questões como, melhoria na qualidade da droga, legalização da venda, empregos, mas inocentemente alguns acham que o tráfico vai acabar, claro que não, vai diminuir, pois num país onde não há emprego para todos e renda satisfatória, muitos vão para clandestinidade vender e outros comparar.
Outros defendem a total proibição, e isso inviabiliza o tratamento de muita gente que está tendo problemas com o uso e passa a ter medo de procurar ajuda.
Sei que tudo neste mundo passa pela educação e apoio social, e que nosso país ainda engatinha nisto, escola de qualidade, boas condições de vida, ainda estão faltando, então vamos meter a mão nesta cumbuca pelo lado que é possível, por que este, vai demorar muito.
A sociedade tem que começar a cobrar das "autoridades", um levantamento de opiniões, e antes, o conhecimento do assunto , que tem que ser aberto, fora dos consultórios e clínicas, afinal como opinar e decidir sobre o que não se conhece?
Então antes de dizer sim ou não, procure saber porque.
Augusta Melo
CRP:8463-RJ
Fonte de pesquisas:
Fonte de pesquisas:
Alexandro Baratta
“Divino Mercado – A Revolução Cultural Liberal”, de Dany-Robert Dufour
Mal estar da Civilização Sigmond Freud
**Ineressantes trechos para ler e pensar:
"...passados dois séculos da proclamação do direito penal do fato - isto é, de um direito igualitário para todos os infratores -, o sistema de justiça criminal continua a funcionar como um direito penal do tipo de autor; "
"...existem duas características constantes neste processo específico de criminalização: a designação do papel de consumidor ara o jovem da classe média e de traficante para o jovem das favelas e bairros pobres do Rio; a seletividade da justiça juvenil. "Nos processos escolhidos ao acaso, entre 1968 e 1988, só jovens pobres e não-brancos foram indiciados por porte de pequena quantidade de droga para consumo próprio". E não é certamente por acaso que adolescentes da classe média apareçam em apenas 11% dos processos."
"...Se nos referimos às drogas pesadas, o Brasil é um país periférico que, na economia da droga ilegal, tem o papel dos países centrais: o consumo. Mas não tem o papel dos países periféricos: o cultivo da substância base por parte dos camponeses pobres e a produção e a exportação operada pelas máfias locais. Por esta razão, a guerra contra a droga no Brasil não é uma guerra internacional comandada pelos Estados Unidos e por outros países centrais; não é uma guerra contra um inimigo externo; é uma guerra contra o inimigo interno; um assunto, como se viu acima, de segurança nacional e urbana."
"...no Brasil, o problema da droga, simplesmente, assume a forma da relação entre as duas nações em que está dividida a sociedade brasileira: os ricos e os pobres. Assim, aos jovens consumidores das classes média e alta se aplica o paradigma médico, enquanto que aos jovens moradores de favelas e bairros pobres se aplica o paradigma criminal."
"...O "mito da droga" aumenta o quinhão eleitoral da ilusão de segurança que estes governos e estes políticos vendem com a ajuda maciça dos meios de comunicação. De tal modo, a economia da droga, além de ser elemento de legitimação do sistema criminal, é também, através deste sistema (mas não somente através dele),um elemento da economia política do poder."
"...A justiça para menores representou, em sua - relativamente breve - história, o que há de melhor e o que há de pior da justiça dos adultos. Mas a relação entre norma e realidade, nos dois setores, se modificou profundamente nas últimas duas décadas: as normas do direito penal dos adultos pioraram cada vez mais, enquanto que as da justiça juvenil, e de todo o sistema que engloba o direito da criança e do adolescente, melhoraram cada vez mais."
"...Todavia, quanto mais se aumentou o nível qualitativo das normas, maior o atraso da realidade em relação ao mesmo, dada a lentidão e os obstáculos materiais e ideológicos com os quais se realiza..."
Alessandro Baratta
Augusta Melo
Rio de Janeiro
LDA 9.160