O Senhor Vilão
Findei a leitura do romance O Senhor Embaixador, do grandioso Érico Veríssimo, lá do Rio Grande do Sul. É uma obra que trata de uma época em que a América Latina sofria de uma doença chamada “Golpe Militar”, asfixiadora das vias democráticas do continente. O personagem central é Gabriel Heliodoro, embaixador nos EUA da República fictícia de Sacramento. Filho de prostituta, conseguiu vencer pela revolução, apoiando um golpe de estado conquistado na base das armas. Após 36 anos é preso. Seu amigo presidente não consegue segurar as forças revolucionárias. Corajoso, ao invés de fugir das margens do Potomac, em Washington, para o Sena, em Paris, foi socorrer os amigos em Cerro Hermoso, capital de Sacramento. Sucumbiu heroicamente e foi julgado pelo tribunal revolucionário. Um ex-colega de embaixada, Pablo Ortega, agora revolucionário, o defendeu, mas a sentença de morte foi decretada. Ele completou a lista de 500 executados na “Plaza de Toros”. Morreu sem lamentações, sem pedido de misericórdia, gentilmente oferecendo “los cojones” ao Museu Nacional.
Uso esta obra para analisar costumes da política no interior da Bahia, notadamente na região nordeste do estado. Aqui, região onde ficam localizadas as cidades de Serrinha, Ribeira do Pombal, Euclides da Cunha e Paulo Afonso, está a minha Heliópolis. Em nossa região, há uma infinidade de políticos que vêem a atividade como um negócio. De posse do poder, querem recuperar o investimento que fizeram. É típico. O idealismo é uma prática em vias de extinção. Até mesmo na esquerda, o ideal foi substituído por um falso vamos dar as mãos e lutar, ou pela disputa entre pequenos grupos, próximos a comportamentos da idade média. Um esquerdista disse a mim uma vez: nossa luta é para mudar a sociedade. Hoje vejo os mesmos que chegaram ao poder afirmando: nossa luta é para vencer. Ou seja, vencer é prioridade. Mudança é uma possibilidade. Isso não é uma generalização, mas uma predominância.
Sem abusar muito dos meus três ou quatro leitores, vou falar do que conheço melhor: Heliópolis. Melhor dizendo: os políticos de Heliópolis. Quero usar o digno vilão Gabriel Heliodoro para rebater o comportamento dos políticos daquela cidade. Gabriel era fiel ao que acreditava e gostava de sê-lo. O embaixador teve um fim trágico. Vou usar tal fim como metáfora para o que se aproxima: ou os políticos do sertão da Bahia mudam o comportamento ou o fim deles será trágico, mas sem brilhos. Até para ser vilão tem que ter caráter. Eles só pensam em ter mais e mais poder. Querem lambuzar-se na fartura do poder. Pouquíssimos são os que pensam diferente. Para eles política é puro comércio. Fosse real, Gabriel Heliodoro sentiria nojo do atual prefeito de Heliópolis, filiado ao PC do B, e de todos aqueles que o apóiam.