Lágrimas que teimam em não secar
A geração dos nossos pais e avós notabilizou-se pela extrema crueldade com que a maioria de seus componentes “educou” os seus filhos. Como conseqüência direta, nós, os filhos, trazemos dentro de nós as seqüelas das violências que sofremos a título de educação.
No contexto acima descrito entendemos a proliferação de regimes autoritários na América Latina durante os anos 60 até meados dos 80 (século XX) em que a violência era moeda corrente e institucionalizada.
A grande maioria das pessoas com quem mantenho conversação, em busca de mais subsídios sobre o assunto, faz relatos pungentes dos maus tratos sofridos: vão de violência física (espancamentos em crianças, independente de faixa etária, com todos os instrumentos imagináveis e com requintes de crueldade, causando-lhes constrangimentos terríveis) até a agressão psicológica, tanto vindo de pais como de mães e permeando todas as classes sociais.
Atualmente, felizmente, não se concebe atitudes como as vividas em nossa infância (quem tem mais de quarenta anos sabe bem do que estou falando), pois as mesmas seriam classificadas de monstruosidades, e o praticante das mesmas sofreria as penas da lei para que não mais reincidisse em atitudes tão torpes. A evolução dos costumes possibilitou-nos outras ferramentas para que eduquemos os nossos filhos sem necessidade de recorrer ao uso de violência física, e menos ainda a violência psicológica, muito mais danosa, permitindo-nos interagir com as nossas crianças, buscando compreender as suas fragilidades e dando-lhes sustentação para que adentrem a vida adulta sem as dores que nós trouxemos, (dores que sempre nos atormentam, criando-nos dificuldades para que vivenciemos o amor em sua plenitude de beleza e harmonia) e que sejam preparados para construírem lares voltados para vivenciar a felicidade, objetivo final de todo ser humano. Entender e exorcizar os sofrimentos que sofremos em nossa infância é um passo importantíssimo para que não venhamos a cair no círculo vicioso de repetição acima descrito, evitando repassar a quem amamos, mesmo que de forma inconsciente, os traumas que nos atormentaram. Para nos livrarmos desta carga nefasta de ódio e ressentimento devemos perdoar os nossos pais e compreender que o estágio de evolução deles não facultava outras maneiras de lidar com as dificuldades que a vida lhes apresentava. Para tanto, o melhor caminho para exercer este perdão é sermos pais compreensivos e presentes, fazendo com que os nossos filhos não olhem para nós com o mesmo olhar com que hoje vasculhamos os “armários” de nossos antepassados.
Sempre me portei como eterno crítico de ditaduras e imposições, para mim, a democracia (em todos os níveis: governamental, familiar e etc.) é o menos danoso dos sistemas de governo criados pela humanidade.
Vale do Paraíba, Março de 2007