Pitágoras (5)
Pitágoras (5)
Para o discípulo, começava o que se poderia chamar de primeira relação contínua e direta com o mestre. Nasce aí ou se dá aí uma importância maior, ao termo “os de dentro”, popularmente conhecido como esotéricos. Estavam no quintal do mestre.
A ciência dos números era conhecida por diversos nomes no Egito e na Ásia. “Álgebra do Mundo” viera depois, talvez até depois que Pitágoras tivesse escrito o Hieros Logo – Palavra Sagrada. O livro perdido do Sábio de Samos se transmutaria em escritos posteriores de outros sábios, e nomes não faltam nessa lista – Filolau, Platão e Aristóteles são os mais conhecidos. Desse livro, no entanto, costumava-se dizer que os filósofos modernos só o compreenderiam por comparação com as doutrinas esotéricas do oriente. Já aqueles que compartilharam de sua presença teriam nos números o trampolim inicial.
Pitágoras chamava seus discípulos de Matemáticos. Ressalvando no entanto que ali, o número não era uma quantidade mas sim uma virtude, e tal matemática também tinha a alcunha de Ciência dos Princípios ou das Forças Vivas. Para se alinhar com essa ótica da compreensão numérica proposta urgia fazer o acordo entre a inteligência e a vontade. Eis porque o noviciado de 700 dias no instituto pitagórico.
Perto de sua casa e também com o aval do Conselho de Crotona, foi erguido um pequeno santuário com 9 musas esculpidas em mármore. Três para cada seção do mundo, segundo a doutrina: Divino, humano e animal. O discípulo passeava por ali observando Urânia, guardiã da astronomia e astrologia. Polímnia: ciência das almas na outra vida e vinculada a arte da adivinhação nesta vida. Melpône: transformações e renascimentos. Estas são as musas relacionadas ao mundo Divino. Calíope, Clio e Euterpe presidiam respectivamente a medicina, a magia e a moral – o mundo Humano. Terpsícore, Érato e Talia a física terrestre, relacionadas aos elementos, as pedras, plantas e animais.
O discípulo, então, passava do Dia de Ouro para a contemplação e principio da compreensão focada no Universo enquanto organismo. Ele via Héstia, no centro do santuário e “guardada” pelas 9 musas, representada com a mão esquerda protegendo a chama de uma lâmpada e a direita apontando para o céu.
“Essas musas, dizia Pitágoras, são apenas efígies terrestres das potências Divinas das quais vocês contemplarão em si mesmos a imaterial e sublime beleza. Da mesma forma que elas olham o fogo de Héstia, de onde emanam e que lhes dá o movimento, o ritmo e a melodia, vocês devem mergulhar no Fogo central do Universo, no Espírito Divino, para se expandir como ele em suas manifestações visíveis.” Era o momento de Pitágoras arrancar seus discípulos do mundo das aparências, extinguir o tempo e o espaço e lhes fazer adentrar com ele na essência do Ser não-criado.
Ao Ser não-criado cabia o número Um.
“Cardinal dos conjuntos equivalente ao conjunto de um membro”. Essa é a primeira definição do Aurélio para um, unu, em sua forma do latinizada. A primeira de uma série de definições, que dão uma coluna de 32 cm com o tipo e corpo de letra que você está acostumado a ver num dicionário.
Para os pitagóricos, Um = “Fogo macho que atravessa tudo, o Espírito que se move por si mesmo, o Indivisível e o grande Não Manifestado, de que os mundos efêmeros manifestam o pensamento criador, o Único, o Eterno, o Imutável, escondido sob as coisas múltiplas que passam e que mudam”.
Pitágoras havia entendido que a obra da iniciação consistia numa proximidade com o Grande Ser, e como tal, semelhante a Ele, dominar pela inteligência tornando-se ativo como Ele. Não obstante, quando o Divino se manifesta, essa manifestação é dupla: essência indivisível e substancia divisível.
Nessa altura, o discípulo aprendera a calar para raciocinar e sobretudo para intuir. Almoçara com o mestre, conhecera seu quintal, refletira entre as musas e se deparara com o Um. Hora de passar para a Díade, que o Aurélio define como um par, ou grupo de dois, e Pitágoras chamava de Grande Mônada ou Díade Criadora, também conhecida noutras culturas por Esposa de Deus.