SABER OUVIR, UMA CIÊNCIA
SABER OUVIR – UMA CIÊNCIA
Há neste mundo alguém capaz de ensinar algo que ainda não aprendeu? Eu afirmo que sim! Todos nós sabemos que “saber ouvir” é uma ciência de milenar importância para o ser humano, praticada e levada a sério, principalmente, nos países orientais. Dir-se-ia psicológico e próprio do ser humano afogar no orgulho aquilo que não sabe. Mas reza a filosofia que o homem só é sábio quando reconhece que nada sabe. Disso se depreende que está na humildade do conhecimento a verdadeira sabedoria, pois ninguém é tão sábio que nada tenha a aprender ou tão estulto que nada saiba ensinar. É nessa linha filosófica que se instala a verdade de que mais se aprende ouvindo que doutrinando. O idioma latino (morto) nos orienta que “dicendo diccere”, quer dizer: é ensinando que a gente aprende. Prova essa máxima que os lentes, que tem por missão passar aos prosélitos seus conhecimentos, estão em constante aprendizado enquanto ensinam. Na prática, aprendem através das objeções do aluno e, consultando os livros, retornam seu próprio aprendizado.
Alguém que ponha suas escutas de tocaia frente a um interlocutor para que recolham dados e os armazenem no cérebro, esse alguém está demonstrando ser, no mínimo, um ser com tendência ao aprendizado.
Disseram-me certa vez que sou um filósofo. Não o sou porquanto a filosofia requer que ele – o filósofo – abranja conhecimentos de todas as áreas científicas. Isto é, que tenha o aprendizado abrangente de todas as causas e efeitos do conhecimento humano, seja ele acadêmico ou não. Ninguém se impute em causa própria conhecimento suficiente para opinar sobre toda a longitude do conhecimento humano, ainda que seu aprendizado tenha sido aprendido em salas acadêmicas e/ou vivido e aprendido nas amplas galerias da universidade da vida.
Saber ouvir também está na capacidade de “escutar” (lendo), a opinião de todos os que já externaram seus conhecimentos nas páginas dos livros. Isso esbarra numa das qualidades necessárias para o aprendizado – a humildade de reconhecer a própria ignorância, pelo menos naquela área. Porque escrever é impor. E impor a própria opinião, mesmo estando em dúvida quanto ao seu erro ou acerto, é o orgulho de arvorar-se em conhecedor da causa cujos efeitos poderão demonstrar, cedo ou tarde, o erro a que, levianamente, induziu o leitor. Por isso, escrever para domínio público sem o devido conhecimento de causa, é induzir quem não faz uso da razão para separar o trigo do joio, a abastecer seus celeiros mentais de mercadoria estragada.
Pincelo este assunto, não porque domino a arte de “ouvir” e sim, porque reconheço que estou longe de dominar meu orgulho no sentido de escutar para aprender. Falo o tempo todo somente para impor minha opinião (a tal de lavagem cerebral) e, creio, para esconder – como se isso fosse possível – a minha ignorância. Trago comigo um grave defeito – meus interlocutores raras vezes conseguem falar – falo demais e escuto pouco e, porque não domino essa arte, sugiro que todos a aprendam. Eu, principalmente, que falo demais e escuto "de menos". vou envidar todos os esforços para dominar o meu falso orgulho, para adquirir a humildade e, com ela, o maior conhecimento que me for possível. E é por isso que posso afirmar que há coisas que se ensina sem tê-las aprendido. Erro meu. Ensino a ouvir, antes mesmo de ser um mestre nessa arte.