Papai Noel do dízimo não existe

Papai Noel do dízimo não existe!

Autor : Marcos Paulo

“De que forma o homem rouba a Deus? Não dando o seu dízimo”. Será que existe algo mais bem explicado na igreja? Desde que entramos pela porta pela primeira vez, ouvimos falar de dízimo, mesmo que ainda não entendamos o que é. Mas não demora muito tempo até sermos instruídos nas práticas da nossa religião e, incluso nisso, o ensino sobre o dízimo. É ensinado com aquela famosa pergunta: “Como o homem rouba a Deus?” E se você já participou de uma escola dominical, também já sabe a resposta. E já sabendo a resposta, sabemos também que isso é algo que devemos levar a sério, pois roubar de um homem é uma coisa, ta lá no Código Penal no art. 157

a pena de reclusão de 4 a 10 anos de prisão, e multa: mas, e roubar de Deus qual a pena? Me parece ser ainda mais grave as conseqüências. Dizem: Não pagar o seu dízimo é o pior “pecado” que existe na igreja. Ninguém me disse isso diretamente, mas deduzi depois de 10 anos na igreja vendo qual é o “pecado” mais abordado, tipo: infidelidade para com Deus! recentemente ouvir de um pastor que se ele fosse falar de fidelidade ele teria que falar em dízimos.

No entanto, outros pecados quase nunca são mencionados. Então, de tanto ouvir, a gente acaba achando isso uma verdade incontestável.

Lembro-me bem, ao passar por algumas igrejas ou mesmo de visita em algumas – daqueles irmãos “abençoados”, sabe, aqueles que acabaram de receber uma grana louca ou compraram um carro zerado de uma forma milagrosa e sempre iam a frente dar um testemunho, e todos sempre tinham uma coisa em comum: dízimo. Nunca ouvi ninguém lá na frente dando um testemunho de prosperidade que não se dizia um dizimista fiel, e esse “detalhe” conta muito. Não era algo tão subliminar, mas estava, com certeza, escrito nas entre-linhas: “Se você quer ser ‘próspero’ e ‘abençoado’ pague seu dízimo”. Pregações nesse sentindo é o que não falta nas igrejas.

Na boa, parece que a galinha dos ovos de ouro da igreja – o dízimo(título de um livro que fala sobre o assunto) é um bom negócio mesmo. Dar 10% a Deus, ficar com 90% e Deus ainda vai te dar mais do que você deu a Ele. É um bom negócio mesmo, e ainda tem aquela parte, depois do “ser ladrão”, em Malaquias, que fala de provar Deus

nisso e ver se Ele não abre as janelas do céu e derrama sobre você bênçãos sem medida. Você teria que ser burro para não entrar nessa, não é verdade?

Mas o que me marca mais ainda é o testemunho daqueles que tudo deu errado e eles sempre eram as pessoas que não davam o dízimo. Assim que comecei a trabalhar e comecei a receber meu salário mirrado e suado, eu tinha um pavor de ser amaldiçoado,principalmente por Deus. Lembro-me do comentário que li sobre uma irmã que teve três acidentes de carro numa semana e depois ela descobriu que não estava pagando seu dízimo, e isto poderia ser a causa dos acidentes. Isso já era o bastante para eu nem atrasar o pagamento.

“Eu era feliz e não sabia” no meu ritmo de cristianismo. Não sei o que aconteceu, mas, uns anos atrás eu me vi me tornando um daqueles velhos que questiona tudo e não acredita em nada. Não sou tão ao extremo, mas com certeza sou bem mais cético. Eu acho difícil engolir a maioria das coisas que saem dos púlpitos nesses dias. Quero saber onde está escrito na Bíblia e se não está lá, não quero nem saber. “Sola Scriptura!”. Mas aconselho: se você é mais amante da Paz do que da Verdade, então não procure mexer nesse assunto, porque você irá mexer com gente poderosa e talvez você provavelmente irá ser excomungado. Se você fizer como Martinho Lutero desafiando o

credo e o clero estabelecido por centenas de anos, com muita probabilidade você irá ser punido com excomunhão da unidade da igreja. Outro dia em uma reunião da minha igreja(Batista) mencionei o fato de que Papai Noel não existe, e esse fato causou um reboliço, chegando ao ponto de alguém afirmar que eu estava arranjando desculpas para não ser fiel a Deus!

Quero deixar claro aqui que eu não sou contra a contribuição que o cristão deve fazer para a manutenção da obra de Deus sobre a terra. Os cristãos devem com suas ofertas contribuir generosamente e na medida do possível e de acordo com o seu poder aquisitível fazer doações, ofertas, trabalhos voluntários, manutenção e sustento daqueles que se dedicam em tempo integral à obra de pregação, pastoreio e evangelismo.

No Novo Testamento encontramos sim apoio para a generosidade do coração em ajudar os irmãos e manter a obra de Deus sobre a terra. A questão toda aqui se resume no fato de se taxar um quantia mínima, a décima parte de um todo, e cobrar como se fosse um tributo, imposto, lei de Deus em vigor a todos os membros, sob pena destes estarem sendo ladrões – roubando aquilo que é de Deus! enfim, verdadeiros infiéis.

Mas os que estão prestando atenção e velam pela verdade, quero convidá-los para fazerem algo meio louco, vamos tocar no bezerro de ouro da igreja, o dízimo, e perguntar, “É BÍBLICO???”

Dízimo é ensinado na igreja moderna como se fosse algo do mesmo nível que a redenção dos homens. Algo que parece ser tão importante quanto o entendimento de ser uma nova criatura. Então vamos olhar na Bíblia para achar e ler todos os versículos que ensinam sobre o dízimo no Novo Testamento. Opa; esqueci, não tem nenhum. Sim, é

verdade, não existe nenhum versículo no Novo Testamento que ensina sobre dízimo. Sei como você está se sentindo. Parece com aquele dia que seus pais te pediram para sentar na sala de estar, pois eles tinham algo importante pra te falar.

-- “Papai Noel não existe!”.

Vou te dar um minuto para enxugar as lágrimas dos olhos. Sei que foi algo difícil de se ouvir ... e se isso te consola, foi para mim também ... ainda dói só de lembrar. Ahh pra que eu foi lê aquele bendito livro “Desmistificando o Dízimo” daquele português rebelde! Mas Deus escreve certo por linhas tortas...

Dízimo é algo achado quase exclusivamente no Velho Testamento. Ele só é mencionado quatro vezes no Novo Testamento (Mt 23.23, Lc 11.42, Lc 18.9-14, Hb 7.7-15) e não é ensinado nenhuma vez. Ou seja, os versículos não dão apoio para o estabelecimento de uma obrigação para o cristão. Nestes quatro textos o ponto central sempre é outro assunto. Nestes textos o dízimo é mencionado para ensinar assuntos que não tem nada haver com o dízimo.

Tanto em Mateus quanto em Lucas, Jesus disse que os fariseus deviam dizimar sem, porém, deixar de praticar a fé, a justiça e a misericórdia. Quando eu fazia parte de uma certa igreja, o pastor dizia que nestes dois textos nós encontraríamos a base no Novo Testamento para o dever de dar o dízimo. Mas vejamos então: Jesus deixou claro que os fariseus deveriam levar mais em conta a fé, a misericórdia e não se fixar em atitudes meramente mecânicas e

externas de cumprimento da lei, como a meticulosa observância do dizimar da hortelã, da arruda etc. Eles deveriam estar praticando estas coisas sem omitir a justiça e o amor de Deus. Veja que a questão toda aqui tratada, o ponto central, não é sobre o dizimo; mas sobre a hipocrisia dos fariseus. Até por que estes fariseus eram dizimitas extremados, e portanto Cristo não tinha nenhum intenção em ensinar sobre o dízimo. Jesus não estabelece qualquer ordenança para a igreja ou que o dízimo fosse algo que nós cristãos, gentios, observasse como uma prática diária de dizimar das minúsculas coisas que chegam às nossas mãos. Ele falou exclusivamente aos fariseus, e portanto debaixo do império da lei. Jesus citou o dízimo para contrastar o apego dos fariseus às coisas que aos olhos de Deus

são de menor importância. É interessante que hoje a repreensão de Jesus caberia a muitos pastores, pois muitos estão mais apegados a dízimos, supervalorizam “o dar o dízimo” do que as virtudes da prática cristã.

Ademais, Alguns anos depois da ressurreição de Jesus, não-judeus incircuncisos(gentios) foram convertidos ao cristianismo. “É necessário circuncidá-los e adverti-los que observem a lei de Moisés”, contenderam alguns cristãos judaicos. (Atos 15:5) Outros não concordaram. Assim, os apóstolos de Jesus e outros cristãos experientes se reuniram em Jerusalém para discutir essa questão. Queriam discernir a vontade de Deus. Será que Ele exigia que

os seguidores de Cristo seguissem a lei de Moisés, que incluía o dízimo? Relataram-se experiências que mostravam uma mudança no modo de Deus lidar com os não-judeus, e isto foi comprovado pela própria Palavra profética de Deus. (Atos 15:6-21) O que decidiram?

A reunião chegou a uma conclusão unânime. Deveria não sobrecarregar os cristãos com a lei de Moisés. Havia, porém, algumas “coisas necessárias” que tinham de ser obedecidas. Era o dízimo uma delas? A decisão inspirada reza: “Pareceu bem ao espírito santo e a nós mesmos não vos acrescentar nenhum fardo adicional, exceto as

seguintes coisas necessárias: de persistirdes em abster-vos de coisas sacrificadas a ídolos, e de sangue, e de coisas estranguladas, e de fornicação.” (Atos 15:25, 28, 29) É interessante que a lei de Deus sobre o dízimo não foi alistada entre as “coisas necessárias” para os cristãos.

Mais tarde, o apóstolo Paulo explicou que o pacto da lei de Deus com Israel tinha sido abolido pela morte de Jesus. (Colossenses 2:14). Em Hebreus 7:5 diz que na antiga aliança a tribo de Levi tinha o direito, por força de lei, de cobra os dízimos dos demais irmãos em Israel. Leia todo este capítulo e no final você perceberá que na nova aliança inaugurada pela morte e ressurreição de Cristo não há mais a exigência da lei no sentido de Deus exigir o dizimo de cada pessoa nestes novos tempos, assim com as demais exigências. O texto é claro “pois, quando se muda o sacerdócio, necessariamente há também mudança da lei.”(v.12). Ou seja, não há mais a necessidade de mantermos uma classe sacerdotal como mediadores entre Deus e os homens. Cai o sacerdócio levítico com todas as suas leis e surge um novo modelo sacerdotal que é encabeçado por Cristo e descrito entre os versos 13-17. Quando lemos que o sistema sacerdotal levítico caiu e como conseqüência suas leis caíram, incluindo aqui a lei de que este capítulo trata, a lei do dízimo. Tome cuidado, esse texto muitas vezes é usado indevidamente pelos malabaristas exegéticos, dizendo que temos aqui a idéia de que o dízimo é uma instituição anterior à lei. Preste atenção no escritor da carta, o que ele quis passar: o tema principal de Hebreus 7 é a supremacia do novo modelo sacerdotal.

A abolição da lei que obrigava a entrega do dízimo aos levitas é apenas citada para ilustrar a falência do antigo modelo sacerdotal. O dízimo passa a ser algo extremamente voluntário assim como o ato de ofertar. Para nós o dízimo deve ser entendido como algo voluntário, não obrigatório. Se eu desejar, posso dizimar voluntariamente,

movido por gratidão como fez Abraão. Dizimar e ofertar são atos voluntários do coração. Posso também fazer um voto de dizimar como fez Jacó. O que eu não posso fazer(e fazem muito) é abrir a Bíblia nos mandamentos levíticos(preferido Malaquias) e dizer ao povo que estes mandamentos estão em vigor e que o povo tem a obrigação de dar o dízimo para a igreja e, caso não dêem, estarão roubando a Deus. Isso não dá para fazer honestamente. Exercem uma coação psicológica quando diz que tá na Bíblia o mandamento e uma sanção psicológica quando diz que fulano de tal estar roubando a Deus. Isso é um absurdo, e que infelizmente, só o que se vê – e o povo de tanto ouvir a mesma ladainha passa a acreditar que é assim mesmo, e aí de você se tentar mexer nesse assunto!

O apóstolo Paulo vivia em harmonia com esta mudança de lei. Embora trabalhasse arduamente na formação de uma congregação após outra, jamais pediu para ser pago, sob a forma de dízimos. Antes,dispunha-se a cobrir suas próprias despesas trabalhando como fabricante de tendas, por tempo parcial (Atos 18:3,4). Com toda a honestidade,

podia dizer: “Estas mãos têm cuidado das minhas necessidades, bem como das daqueles que estavam comigo.” — Atos 20:34. Embora, não estivesse contra aqueles que recebiam salário devido ao trabalho integral na divulgação do Evangelho. Pois ele disse “aqueles que anunciam o evangelho que vivam do evangelho”(1Co 9:13,14).

Não tem outros lugares que falam sobre o dízimo? Não, me perdoe, mas não tem. Papai Noel não vai visitar sua casa esse ano. Dízimo não é mencionado em nenhum outro lugar no Novo Testamento. Tenho certeza que se o dízimo fosse algo importante para os apóstolos e irmãos que escreveram as epístolas do Novo Testamento com

certeza eles teriam deixado alguma coisa clara sobre o assunto. Você não acha que com todas as epístolas escritas – se o dízimo fosse importante - alguém teria falado algo sobre ele? Mas não. O fato de o dízimo não ser mencionado em relação a qualquer crente, igreja ou prática no Novo Testamento, deve nos levar a questionar e duvidar se tem a ver com a igreja hoje. Para mim, depois de pesquisar o assunto e verificar a que interessa esse assunto, eu já concluí que não é à toa que hoje muitos pastores tem salários “gordos”, carros caríssimos, condição financeira acima, muitas vezes, da grande parcela dos membros da igreja. Onde uma grande parcela vive em condições e apertos financeiros, os pastores – que deveriam ser exemplos de abnegação e sacrifício, como foram os profetas e apóstolos

– vivem, diga-se de passagem, muito bem! Tô dizendo alguma inverdade? Preste atenção e abra os seus olhos.

De forma alguma sou contra o ministério pastoral, só estou denunciando os abusos feitos através desse ministério, o qual é muito abençoado para toda a igreja em sua edificação. Nada contra algum pastor em particular, nada pessoal contra ninguém.

A verdade é que o Novo Testamento não ensina nada em relação ao dízimo. Não existe nenhuma palavra no Novo Testamento mandando nem sugerindo que debaixo da Nova Aliança os crentes devam dizimar. Quem está sendo roubado? Com certeza não é Deus. Adeus, pelo menos pra mim, Papai Noel “Hô-hô-hô”.

Está na hora de uma nova reforma. Sola Scriptura!