Até pouco tempo atrás, para alguém tirar uma foto desinibida teria que haver um trabalhão; tinha que ter máquina fotográfica, filme e depois, para ver o resultado, era outra odisséia; tudo era escondido de todos e poucas pessoas se arriscavam nesta arte tão recente, a arte da fotografia do nu.
 
Quando algumas destas fotos vazavam e chegavam a mãos alheias, era um “Deus nos acuda”; se fossem fotos masculinas, o sujeito era chamado de “bicha” e raramente ele conseguia entrar numa “casa de família”; se fossem fotos de mulheres, elas eram taxadas de “prostitutas” e se fossem fotos de um casal, eles eram chamados de depravados e podiam até serem excomungados em praça pública.
 
Hoje em dia tudo mudou; todo mundo tem alguma coisa sempre nas mãos que “tira foto” e raramente alguém leva o produto fotográfico para uma loja de revelação. O papel das lojas de revelação em parte fica a cargo dos computadores e quando alguém deseja ver as fotos reveladas em papel, basta envia-las para uma impressora caseira que ela sai em segundos.
 
Quem tem mais de 30 anos irá lembrar que bastava uma propaganda de sutiã, uma simples propaganda em que raramente aparecia alguma modelo, que os homens já ficavam em êxtase; os mais moços guardavam aquelas imagens para deleite nos cantos mais silenciosos de suas casas. Era o universo secreto da mulher que começava a ser revelado pouco a pouco.
 
Existiam programas de televisão que sabiam driblar a censura do Governo e exibiam reportagens na madrugada onde apareciam mulheres em cenas de seminu; a igreja e a sociedade contra atacavam com processos judiciais e ataques públicos contra estas exibições. Goulart de Andrade que foi repórter da Rede Bandeirantes era um destes que exibiam nas madrugadas de sábado um programa de variedades e que no final do último bloco apresentava ao seu público as beldades femininas vestidas apenas de lingerie.
 
Com o passar dos anos vieram os fatores transformadores; a sociedade passou de caolha para totalmente cega, surda e muda; o que antes era um tabu, hoje é rotineiro e cotidiano e parte desta conseqüência veio pela própria aceitação da mesma sociedade puritana que antes atirava pedras de fogo pontudas contra a cabeça dos pervertidos. O que era intolerável, hoje ainda não é aceitável, pelo menos do ponto de vista generalizado, mas já há uma aceitação natural, principalmente por parte dos homens.
 
Esta visão moderna de aceitação de quase tudo no Século XXI acarretou também na interpretação artística de quem deseja posar nu para as lentes fotográficas; homens e mulheres de todas as classes e idades fazem isso de modo tão natural que ninguém mais se importa quando ocasionalmente ocorrem alguns escândalos. As fotos de nu humano ganham em primeira mão as páginas da internet e logo vira uma espécie de febre entre os que não deixam os monitores de computadores por nada na vida.
 
Os jovens atuais aprenderam que é mais prazeroso e menos arriscado verem as mais variadas formas do sexo pela internet do que ao vivo. Pesquisas revelam que eles estão mais na frente de um computador do que buscando os prazeres da carne. As mesmas pesquisas também revelam que o número de casas de prostituição diminuiu consideravelmente, se compararmos o crescimento assustador da população. Os métodos de acesso ao sexo mudaram e boa parte disso se deve ao aumento de fotografias de homens e mulheres que aparecem todos os dias em páginas de pornografia ou blogs e a conseqüência maior é o medo de encarar a vida como ela sempre foi, ou seja, buscar relacionamentos presenciais. Ao invés disso, as pessoas estão buscando o relacionamento virtual, onde raramente elas se encontram, se tocam ou trocam experiências.
 
O crime também aparece nestas fotos de pessoas nuas; crianças e adolescentes são expostos como objetos sexuais e isso é delito na maior parte do mundo civilizado. Depois do alarde da internet nos meios populares a figura do pedófilo passou a ser o grande alvo das polícias e da justiça; ninguém mais dorme tranqüilo, principalmente se forem pais preocupados com o futuro de seus filhos.
 
Mas em relação às fotografias, será mesmo que se trate de concupiscência e devassidão? Será mesmo que elas são postadas na internet apenas para deleite das pessoas em detrimento da inocência humana?
 
Com tantos meios de fotografia disponíveis e baratos o que mais ocorre é o descobrimento da auto sensualidade; as pessoas que assumem terem posado nuas para amigos e parceiros afirmam que este ato ocorre em primeiro momento para satisfazerem seus egos; elas querem ser vistas nuas; os homens criam uma espécie de fantasia e se fotografam nus, geralmente escondendo os rostos, apenas para saciarem o desejo de terem seus corpos desejados, seja por quem for. Nos casos masculinos é uma forma de contra atacar a sensualidade natural das poucas roupas femininas, pelo menos é o que diz os estudos psiquiátricos.
 
Os homens que aparecem na internet, mesmo quando estão na intimidade com suas parceiras, insistem em mostrar o pênis ereto para que outras pessoas vislumbrem a forma proibida de se exibir nas ruas. Pode até ser comum vermos uma modelo desfilar numa avenida movimentada de calcinha e sutiã para algum fotógrafo de revista de moda; raríssimo é ver um homem de cueca servindo de modelo numa rua de qualquer cidade do mundo. Para rebater, eles se divertem aparecendo na internet!
 
A mulher sempre foi mais privilegiada neste campo; elas aparecem livremente de suas roupas desde antigamente, principalmente depois que Luz del Fuego se revelou totalmente nua com outras amigas no início no Século XX; era a reviravolta definitiva na vida sensual das mulheres. Depois disso o biquíni foi diminuindo até perder completamente a parte de cima e virar um adorno minúsculo na parte de baixo. Calças, saias e vestidos foram apartando e encurtando ao ponto de praticamente disputarem espaço com etiquetas dos fabricantes. Era o ponto mor da revolução sexual!
 
Até 1990 quem quisesse ver uma garota ou um homem comum pelado e não tivesse oportunidade de fazê-lo presencialmente, com certeza teria que apelar para as páginas das revistas especializadas em fotos amadoras, que ficava sempre numa seção de ofertas de novas experiências. Uma em cada mil fotos a pessoa revelava o rosto e o meio de contato eram as Caixas Postais, por serem menos fáceis de revelar a real identidade daqueles modelos amadores.
 
As revistas exigiam que as fotos fossem enviadas junto com documentos probatórios e quem as enviava diziam se podiam ou não revelar a face. Somente desta forma os meios próprios de divulgação da arte fotográfica sexual podiam se ver livres de ações judiciais e do crivo exigente da maioria da população.
 
Hoje, menos de 20 anos depois, o que não faltam são mulheres de todas as características querendo aparecer na internet em poses sensuais, nuas ou fazendo sexo. A quantidade é tão grande que já não há mais surpresa ou euforia quando uma seqüência fotográfica aparece.
 
Não há limites para a criatividade de quem vive postando suas próprias fotos ou fotos de alguém; não há nenhum respeito a regras ou leis e de quando em vez, aparecem moças e rapazes (muito mais as mulheres) reclamando de que suas fotos estão circulando em sites de relacionamento ou nos portais pornográficos. Muitas destas fotos são fraudes e não revelam a realidade do momento em que elas foram tiradas. Os novos artistas virtuais modificam corpos e criam situações inusitadas onde alguém aparece nu, mesmo sem jamais ter sido fotografado desta maneira.
 
Vídeos caseiros e amadores completam este prazer voyeur que movimenta mais de 1 bilhão de acessos diariamente em toda rede mundial de computadores. Da mesma forma que há aqueles que gostam ou permitem serem fotografados, existem também aqueles que veneram esta forma intrínseca de arte popular. Os provedores afirmam que de cada 100 acessos a internet, cerca de 75 são para a procura de fotos e vídeos sexuais. Em um artigo recente do portal AOL, um colunista americano revelou que se cada acesso da internet a procura de sexo fosse pago U$ 0,01, ao final de um ano se chegaria a soma de U$ 35 bilhões, algo em torno de R$ 70 bilhões.
 
99,99% das pessoas que aparecem nuas na internet não recebem um centavo furado por suas fotos e/ou vídeos, o que dá para se afirmar que o negócio é muito bom para quem exibe e para quem vê. A maioria destes sites que mostram fotos de pessoas nuas cobra ou pelo acesso ou apontam propagandas pagas; alguns enviam vírus que roubam senhas e outros dados de quem acessa.
 
 
Aqui no Brasil vários escândalos ficaram famosos. Mulheres comuns e até estrelas de novelas já foram alvos de publicações criminosas. Alguns destes casos foram parar na justiça e é lá que começa uma trabalheira louca para identificar quem espalhou e quem espalha estas fotos; o caso escandaloso mais recente ocorrido por aqui aconteceu após a divulgação de várias fotos de uma delegada de polícia que foram tiradas dentro da delegacia.
 
 A legislação do Brasil ainda é confusa e dúbia quanto a propagação de fotos de pessoas nuas; se estas pessoas que aparecem forem menores de idade, há um maior rigor na condução dos casos, mas se elas já tiverem atingido os 18 anos, fica cada vez mais difícil identificar e punir quem tirou as fotos e quem espalha pela internet.
 
 
A maioria destes vilões são os próprios namorados, noivos, maridos e parceiros destas mulheres que se deixam fotografar; outro fator contribuinte para o crescimento destas fotos são aqueles vírus letais que roubam as informações dos computadores. Muitas vezes quem possui fotos armazenadas no computador pode sofrer uma invasão e tê-las todas roubadas; da mesma forma que se houve muito falar de técnicos em computação que retiram os arquivos de clientes e usam os mesmos para espalharem pela rede.
 
As mulheres já não se importam se alguém de “sua confiança” saque uma câmera e tirem fotos suas; normalmente se imagina que estas fotos sirvam apenas para o deleite pessoal; ninguém em primeiro plano imagina que outra pessoa se preste ao serviço maldoso de postar tais fotos ou vídeos na internet, mas que isso ocorre com muita freqüência, isso ocorre e muito!
 
Mas afinal de contas, como devemos chamar esta vontade de ver fotos eróticas? Voyeurismo? Devassidão? Luxúria? Libidinagem? Ou simplesmente a vontade de conhecer o proibido?
 
E que gosta de aparecer pelado; como diagnosticar algo que é relativamente pessoal e não nocivo ao coletivo? Que se deixa fotografar nu assume os riscos da exposição; mesmo sem atingir diretamente leis ou dogmas sociais, o modelo amador sabe que tais fotos podem cair em mão erradas e virarem populares. Não há diagnóstico médico ou comportamental; apenas a sensação de estar sendo valorizado por algo que não pode ser provado por todos e muitas vezes, a vontade louca de ser feliz e de agradar ainda mais ao parceiro. Alguns podem achar aberração, mas muitos terão por prazer!
 
O fato é que elas estão cada vez mais presentes e cada vez mais comuns; na rede aparecem desde donas de casa, grávidas, negras, brancas, profissionais liberais, autoridades, celebridades, enfim, o que menos vemos hoje em dia são modelos profissionais em busca de fama e dinheiro; está na moda à arte da foto amadora e este furacão que só cresce está invadindo todos os lares.
 
Muito cuidado quando for se deixar fotografar; mais cuidado ainda se estas fotos andarem circulando por e-mails ou se forem confiadas a mais alguém. Um dia qualquer você poderá receber uma mensagem convidando para ver as fotos reveladoras de alguém muito próxima de você, ou quem sabe, suas próprias fotos. Fotografias que ainda transformam os adultos em inocentes pueris.
 
É a internet sem medidas e sem fronteiras!
 
 
 
Carlos Henrique Mascarenhas Pires
www.irregular.com.br
 
Foto de Ricardo Canhoto – Modelo Profissional: Caroline Miranda
CHaMP Brasil
Enviado por CHaMP Brasil em 02/11/2009
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