C A P I B A
Publicado no Diário de Pernambuco
em 1º. de janeiro de 1998 e no livro "Cônicas e Críticas de um Cidadão" - Edições Bagaço - pags.105-109 - Ano 2000.
Genial, incomparável, sinônimo de grandeza, expressão maior da nossa cultura. Recife muito lhe deve, a partir de Recife Cidade Lendária, uma das melhores composições que nos legou. Imortal dos imortais, é o mínimo que podemos dizer desse Gênio da cultura brasileira.
Músico, poeta, escritor, artista plástico – tudo que encerra sensibilidade -, fez parte dessa figura carismática, cuja obra orgulha a todos os brasileiros e a nós pernambucanos, em particular.
Sua vida e sua história merecem destaque no cenário nacional. Aos 93 anos, fazia planos para o futuro, faceta própria dos imortais exemplo digno a ser seguido.
Capiba carnavalesco, Capiba erudito - tudo com esmero e carinho. A qualidade de sua obra sobressai dentre outros artistas. Com sua alegria contagiante, abraçou todas as artes, particularmente a música, onde expressou sua maior genialidade.
Crítico, árduo defensor do Frevo, símbolo do Recife, jamais se curvou a conveniências em detrimento daquilo que sua consciência apontava como belo. Paradoxalmente, tivemos uma amizade singular e plural. Singular, pelo privilégio do convívio profícuo, de onde pude desfrutar e conceber algo de sua genialidade. Plural, porque trabalhamos no secular Banco do Brasil e através da música nossa amizade foi firmemente consolidada.
A música e o futebol foram as suas paixões, sendo tricolor convicto e apaixonado. Quando o visitava em dias de jogo, sua atenção era para a televisão. Porém, em ocasiões outras, a música sempre se constituiu no tema central de nossas conversas. Alguns comentários fazia, também, a respeito de fatos nacionais, e por vezes, externava sua indignação por tantas vergonhas e escândalos.
Amante incondicional da boa música, em 29 de outubro ultimo, recebeu belíssima homenagem da Banda Municipal do Recife, que executou várias de suas canções, com arranjos especiais e carinhosamente realizados pelo excelente Maestro Duda.
Mesmo enfermo, Capiba permaneceu como que anestesiado durante toda a apresentação. Terminado o evento, fomos jantar e durante todo o tempo, não nos pareceu incomodado. Comentou por diversas vezes o seu encantamento pela noite singular que passara. Esse fato demonstra que a música ao alimentar o espírito mitiga os sofrimentos do corpo.
Capiba sempre foi um sonhador realizado. Agraciado inúmeras vezes, e em vida, confirmava ser querido pelo povo por tudo que fez pela nossa cultura musical. Salvo engano, não conheço artista nacional tão festejado e enaltecido enquanto vivo.
O Prefeito Roberto Magalhães já havia decidido que no próximo carnaval Capiba seria mais uma vez, homenageado, medida justa e merecida.
Tinha planos para editar em 1998, outro CD de valsas, chores e pecas eruditas, a exemplo do CD Simplesmente Capiba. Já estávamos dando os passos iniciais para a concretização desse trabalho, o qual já tinha título “Simplesmente Capiba 2”, e teria mais uma vez a participação da pianista Elyanna Caldas.
Desiludido com os rumos que deram ao nosso frevo, confidenciou várias vezes: “Pra que compor? As rádios não tocam...!” Comentava, ainda, que a juventude de hoje não quer saber de frevo, só quer dançar de braços para cima, como se estivesse “pedindo socorro...”
Ultimamente pudemos observar que seu ânimo estava em declínio, face a enfermidade que o acometia., Possuidor de astral sempre elevado, sentíamos que nosso amigo perdia fôlego na luta pela vida.
Há poucos anos atrás presenciamos uma cirurgia a que se submeteu, e ele contagiou a todos que ali se encontravam, conversando animada e alegremente, desejando que tudo aquilo acabasse logo, pois, em seguida, queria desfrutar de uma boa “feijoada”.
Ao sair do hospital perguntaram se iria brincar o carnaval que estava próximo, e ele respondeu intrigado: ”Não posso. Zezita quebrou o pé...”. Claro estava, que sua condição clinica não permitiria participar do tríduo momesco, mas, quem sabe, tentaria. Contudo, sua saúde dava sinais de falência, fazendo crer que ele não suportaria por muito tempo o fardo da doença, pois, nos últimos anos fora submetido a várias intervenções cirúrgicas e condutas clinicas de certa importância.
Assim, nosso genial Capiba começava a abdicar daquilo que sempre demonstrou adorar – a vida -. Aos poucos ele próprio sentia que nessa luta desigual não lograria êxito. Perdemos nós, assim, o convívio dessa figura festejada e querida por todos.
Agora sua missão é outra. Colaborar com os Anjos nos Cânticos Celestes, e que não desafinem, pois, o Gênio estará atento. Descansa em paz Capiba.