Uma abordagem racional da astrologia

Um amigo, há mais de vinte anos, presenteou-me com um livro básico sobre astrologia.

Eu, ainda com aquela típica e um tanto arrogante racionalidade da maioria dos recém-formados numa área que envolvia tecnologia, disse que não acreditava naquelas bobagens. Ele, muito condescendente, ainda me aconselhou a abstrair os aspectos místicos da coisa e analisar só o que interessava -- os arquétipos. Como a minha curiosidade é maior do que a minha racionalidade, resolvi conferir. No entanto, confesso que o fiz secretamente com a intenção de provar pra mim mesma que aquilo tudo era mesmo uma bobagem.

Abre parêntese.

Primeiro vamos ver o que significa essa palavra, de acordo com o Dicionário Houaiss.

Arquétipo:

substantivo masculino

1 modelo ou padrão passível de ser reproduzido em simulacros ou objetos semelhantes

2 Derivação: por extensão de sentido.

qualquer modelo, tipo, paradigma

3 Rubrica: filosofia.

modelo ou exemplar originário transcendente, que funciona como essência e princípio explicativo para todos os objetos da realidade material

4 Derivação: por extensão de sentido. Rubrica: teologia.

o criador de todos os seres e coisas; Deus

Obs.: inicial maiúsc.

5 Derivação: por extensão de sentido.

modelo ao qual se atribuem perfeição ou sublimidade

6 Rubrica: psicologia.

para C.G. Jung (1875-1961), conteúdo imagístico e simbólico do inconsciente coletivo, compartilhado por toda a humanidade

Fecha parêntese.

Ao ler as características arquetípicas de cada signo, de cada astro e de cada casa, comecei a perceber que havia algo pertinente naquilo tudo.

Aprendi a calcular o mapa astrológico e fiz o meu, naturalmente, os da minha família próxima e de alguns amigos mais chegados. Com isso, pude ver na prática que havia muito sentido na coisa.

Mas, cética por natureza, comecei a me questionar -- estou sendo influenciada por fatores subconscientes, uma vez que conheço razoavelmente bem as pessoas cujos mapas estava analisando. Então pedi aos amigos que perguntassem a pessoas de suas relações, e que fossem totalmente desconhecidas por mim, se elas permitiriam que eu fizesse os seus mapas astrológicos e os analisasse posteriormente com elas. Algumas toparam e acabaram me apresentando a outras pessoas. Deste modo, cheguei a analisar algumas centenas de mapas antes de me dar por vencida -- a coisa funciona! Aconteceram, inclusive, casos de pessoas que jamais haviam revelado certos aspectos de suas vidas a ninguém e que ficaram abismadas quando eu toquei no assunto. Chegaram a me atribuir poderes paranormais, o que logo refutei, explicando a elas como funcionam os arquétipos e como fazemos a sua análise. Por aí se vê o porquê de a astrologia ter ficado por tanto tempo sob o domínio do misticismo.

Então cheguei num impasse. Como explicar isso tudo pra minha incurável racionalidade?

O melhor que pude alcançar foi -- existem ciclos para troca do sangue, da pele, das unhas, dos cabelos; existem ciclos de sono e de reprodução; existem ciclos para as estações do ano, bem como o dia e a noite e os anos em si; os ciclos de plantio e colheita e as fases lunares. Todos se repetem de tempos em tempos, como os ponteiros do relógio que retornam sempre a um determinado ponto. Por que não existirem também os ciclos comportamentais?

Daí percebi que o mapa astrológico é exatamente isso -- um grande relógio, com seus tantos ponteiros formados pelos astros, que nos mostra o instante em que nascemos e a partir do qual podemos inferir uma série de características comportamentais que tenderemos a ter ao longo da vida.

Muito resumidamente, pode-se dizer que:

- os planetas (astros) são 'dimensões' específicas de experiências.

- os signos são 'qualidades' específicas de experiências.

- as casas são 'campos' específicos de experiências.

- os aspectos (relacionamento entre os planetas num mapa) revelam como as várias dimensões de experiências são integradas no indivíduo.

Por exemplo, o sol, que é o que nos confere o nosso famoso signo, mostra o nosso modo de ser no geral. A lua, as reações emocionais subconscientes. Mercúrio, o modo de pensar e de se comunicar. Vênus, como recebemos e damos afeto. Marte, a energia física, sexual e mental. O ascendente mostra a personalidade que vamos formando ao longo da vida. E daí por diante.

Sem me alongar mais, percebi que é possível se fazer uma análise racional do mapa astrológico e, portanto, que a astrologia pode ser considerada uma ciência. E é desta forma que a entendo, nada tendo a ver com religiões ou misticismo. Soube mais tarde que há outras pessoas ao redor do mundo fazendo o mesmo tipo de abordagem deste assunto.

E qual seria a utilidade disso? O autoconhecimento. Ou, então, no caso dos profissionais que lidam com gente, como psicólogos, psiquiatras, professores, diretores teatrais, médicos em geral e tantos mais, o mapa astrológico seria um bom instrumento para se conhecer um pouco mais profundamente uma pessoa. Assim saberíamos de antemão que características e comportamentos podemos esperar de cada indivíduo com que trabalhamos.

Claro que o mapa astrológico não determina nem fixa nada. Apenas mostra tendências mais prováveis.

Além disso, cada pessoa tem um mapa diferente da outra, como uma impressão digital. Podem até ser bem semelhantes, porém jamais idênticos. Daí que pessoas de um mesmo signo solar, mas com ascendentes e lua e demais astros em signos diversos, chegarem a ser muitíssimo diferentes entre si. No entanto, algumas pessoas têm os planetas bastante concentrados em seus mapas, quase todos dentro ou próximos ao seu signo solar, de modo que as características genéricas tornam-se bem reconhecíveis nelas.

Por isso é importante levar em consideração, na análise astrológica, o mapa do indivíduo como um todo. Caso contrário, ficaremos apenas no campo das perigosas e insuficientes generalizações, como os horóscopos que os jornais e as revistas fazem todos os dias.

Ou como fiz, a título de brincadeira, no meu texto "Astrologia do Recanto".

Maria Iaci
Enviado por Maria Iaci em 30/10/2009
Código do texto: T1895612
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