A Morte de Dahoui
 
     Acabei de saber que Albert Paul Dahoui, autor de A Saga dos Capelinos e O sucesso de Escrever, faleceu recentemente, deixando os autores da Editora Corifeu órfãos do seu editor.
    
Não discuto aqui a qualidade literária de Albert Paul, porque nunca li nenhuma de suas obras, apesar de tentar comprar um dos seus livros sem sucesso através do site da Corifeu, mas sobre o incentivo que ele deu aos novos escritores que, graças a sua, desculpem-me os defensores, “gráfica editorial” conseguiram publicar o seu tão sonhado livro. Infelizmente, a seleção de obras da Editora Corifeu deixava a desejar na qualidade do material selecionado, se é que era mesmo selecionado. Muitas obras oferecidas no site não apresentavam potencial de venda ou de qualidade literária, estavam lá tão-somente pelo valor pago à sua publicação. Malefícios de uma editora sob demanda. Outro fator negativo, e que muito pesava na seriedade do projeto editorial, era a aprovação de capas pífias, de péssimo gosto. Embora digamos que não se julga um livro pela capa, um dos fatores que fazem um livro sair das prateleiras físicas ou virtuais é o acabamento e o bom gosto em sua confecção, o cartão de visitas da obra. Lembro que visitando a página da Corifeu, perdi a conta de quantas vezes lastimei o gosto duvidoso de um autor, e também do editor, em aprovar certas combinações esdrúxulas, que qualquer criança aprendendo a mexer no paintbrush é capaz de fazer, quiçá até melhor. Ainda aponto como problema a péssima divulgação, ou melhor, nenhuma divulgação da editora e das obras por ela publicadas. Limitar-se a montar uma página na internet e forçar os autores a divulgá-la não garante a venda dos produtos. Acredito que Dahoui poderia acreditar mais em sua proposta, levando o seu trabalho às redes de relacionamento, feiras de livro e anúncios diversos. Se simplesmente se esforçasse um pouco para vender, não só a publicação dos livros, mas também as vendas depois de prontos, sua editora ganharia mais espaço e um pouco de respeito.
     Lado positivo na empreitada de Albert foi a facilitação para os autores de se lançarem no mercado através de uma publicação com tiragem reduzida e custo menor do que as suas concorrentes. Experiências de mercado sempre são bem vindas, mas no modelo realizado, não passou disso: uma experiência.
     Agradeço ao Albert Paul por me possibilitar a entrada no mercado. Lancei meu primeiro romance pela Corifeu há, mais ou menos, um ano. Colhi alguns bons frutos, mas graças ao meu trabalho. Se hoje tenho o contrato para a publicação de um romance por uma editora maior, devo à Corifeu e ao Albert o primeiro degrau, mas sei que poderíamos ter subido mais alguns se as duas pernas se esforçassem juntas.
     O homem não vira santo depois que morre. Temos de ter ciência disso. Não estou a denegrir a imagem, por ele, construída nem a fim de denegrir o seu sonho, que fique bem claro.
     Sentimos o passamento do ser humano, como também do empreendedor Albert Paul Dahoui. Deixamos o nosso sentimento à sua família e o desejo de que a perda do ente querido não seja uma dor insuperável. A vida segue o seu rumo, alguns partem da estação antes dos outros. Nós, que ficamos, aguardamos a nossa vez de embarcar no trem.