Bodegas (Visita ao mercado público da cidade de Moreno - PE
Introdução
A pesquisa foi realizada com base na proposta de buscar informações sobre o importante comércio das bodegas principalmente nas cidades do interior. Para isso a pesquisa foi realizada na cidade de Moreno, abordando comerciantes do mercado público datado de 1922.
Para coletar as informações, foi utilizado questionário, de perguntas e respostas, abertas e fechadas, propiciando ao pesquisado a liberdade de expressão na temática abordada. Utilizou-se também de gravações das entrevistas, que posteriormente foram transcritas e registro fotográfico, criando assim um banco de dados para o desenvolvimento do trabalho que se segue. A compreensão desses fatores torna o entendimento ao que vai se seguir durante todo o processo de pesquisa e análise dos dados coletados para assim montar o relatório final, que de maneira simples e transparente tentou-se passar os problemas enfrentados pelos comerciantes que nem um sindicado tem a sua disposição.
Bodegas
Com a implantação da fábrica têxtil na região, até então desabitada, vai surgir a criação de vilas operárias , que por sua vez fez surgir a necessidade de um mercado público, datado de 1922 e consequentemente a criação das bodegas. Na época e por causa do crescimento do vilarejo houve a ascensão desse tipo de comércio. Esse fato ocorreu não só na cidade de Moreno, mais em todas as regiões, especialmente no interior do Brasil. De fato, esse comércio que ainda hoje é predominante nos bairros e cidades do interior, como já citado, para muitos ainda é um forte meio de comercialização e suporte para os que dependem da compra a prazo e não tem a possibilidade de ter o crédito dos cartões.
Atualmente o comércio do tipo bodega é escasso, restando apenas cinco ou seis unidades dentro do antigo mercado. Mercado esse que ainda carrega a imponência dos tempos de sua fundação, só quem decaiu foram as bodegas. Segundo os entrevistados na pesquisa de campo, onde os mesmos vão identificar como “A”, “B” e “C”, relatam seu processo de ascensão e decadência do comércio. Esses comerciantes têm um considerável tempo de trabalho à frente de seus investimentos, respectivamente eles apontam 19, 38 e 51 anos com esse tipo de comercialização. Segundo a abordagem, percebemos que existe uma forte relação entre comércio e família, sendo assim uma característica de um negócio 100% familiar, (quando não está a esposa diretamente relacionada, são os filhos que estão ao lado do pai) e com o máximo de duas pessoas dando suporte para o desenvolvimento dessa atividade. Vale salientar que a frente do negócio sempre está a presença masculina, carregando assim pela história a tradição do homem como o senhor da casa e dos negócios da família .
Foi constatado que antes do surgimento dos supermercados, o movimento do comércio das bodegas era de excelente para 66.6% e de bom para 33.3% dos entrevistados, é proeminente destacar que a queda do movimento se deu por alguns fatores, tais como, onde 100% dos entrevistados ressaltaram o surgimento do cartão de crédito e suas parcelas, 66.6% alegam o surgimento do supermercado e 33.3% foi à faixa citada para os fatores de falta de crescimento da indústria, direitos trabalhistas e empréstimos pessoais. Segundo os entrevistados, cada vez mais aumenta a demanda de pessoas que estão presas ao processo de empréstimos do governo ou a empresas privada, ficando assim com poucos recursos para repassar para o comércio. Mesmo comprometendo seu orçamento familiar, busca esses recursos consignados para alavancar a solução de outros problemas, dessa maneira todo o comércio é afetado, inclusive as bodegas.
Para o abastecimento desse comércio, a forma mais comum utilizada é a compra de mercadorias diretas a fornecedores atacadistas, que chegam a 70% e a representantes comerciais (porta-a-porta), segundo afirma o entrevistado “C” e fornecedores locais com 30% que ainda percebem uma via de comercialização por parte desse comércio mais íntimo do cliente de classe média baixa. E essa mesma classe média baixa é ainda hoje o principal cliente dessas bodegas. Segundo os pesquisados os clientes anteriormente compravam seus produtos em grandes quantidades, seja em quilos ou até mesmo em fardos de 50 kg ., hoje as compras estão resumidas ao fator a granel, onde as grandes redes de mercados não vendem.
Para 100% dos comerciantes, a caderneta de fiado ainda é o grande vilão, embora existam os clientes que compram em espécie mais que não chegam a 45% das vendas, segundo o entrevistado “A”, “a caderneta é algo sem fim, ela cresce e quebra o negócio” o pensamento é parecido para o comerciante “B”, “o cartão de crédito é a caderneta de fiado mais moderna”. Dessa forma os clientes que se detém do cartão de crédito tem como destino principal as grandes redes de supermercados, contribuindo assim para o declínio cada vez maior das bodegas.
Quando questionado de uma forma de modernização ou solução para evitar o declínio das bodegas, os comerciantes são unânimes em responder que não existe solução para tal problema. Eles afirmam que a tendência é o desaparecimento em cerca de 10 anos. Outro fator observado é que eles próprios fazem suas compras pessoais nos grandes mercados ou em cidades vizinhas como Vitória de Stº Antão, onde diversos moradores do município de Moreno se deslocam em ônibus e vãs para realizar suas compras. Isso ocorre devido às facilidades (diversidades) de produtos encontrados e aos outros serviços a disposição na cidade vizinha, por causa de seu tamanho populacional e comercial. Muitos desses clientes que compram em outra cidade deixando as bodegas locais sem movimento, também trabalham nas outras cidades e só retornam para dormir.
Conclusão
O resultado dessa pesquisa deixa claro o surgimento de uma classe subordinada ao desenvolvimento que vai surgir ao longo do tempo. Esse processo vai se tornar escasso, o comércio das bodegas e a participação das pessoas para ampliação do mesmo. os atuais comerciantes, na maioria dos casos, partiram do princípio que eram empregados e tornaram-se proprietários .
Essa concentração de bodegas no mercado público possibilita a circulação das pessoas por diversos comerciantes. O supermercado tornou-se o grande vilão dos pequenos comerciantes, ficando claro que a tendência é a extinção das bodegas. A solução de fato seria uma injeção de recursos e modernização nas bodegas para assim poder concorrer com as grandes empresas. Deixar de ser bodegas não seria o caso, afinal a evolução da tecnologia proporciona também uma melhoria mesmo par aos pequenos comércios. Mesmo sendo o cartão de crédito um grande “problema” para os comerciantes das bodegas, eles tem total consciência que esse mecanismo acrescenta valores, agrega desenvolvimento e amplia seus negócios.
Lindembergue Santos
É graduando em história pela UFRPE, artista plástico.
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