JUNTA-TE AOS BONS E SERÁS UM DELES - Nicanor Pereira

From: Nicanor Filadelfo Pereira

Sent: Friday, October 23, 2009 3:35 PM

Há mais de cinquenta anos venho ouvindo o célebre adágio: “a boca fala do que o coração está cheio”. A sabedoria popular, tão rica em conceituações, tem demonstrado com inexpugnável clareza o transcendente poder de autenticidade da palavra. É certo que os dissimuladores muitas vezes usam-na de forma espúria maquiando-a de modo a conduzi-la a objetivos menos nobres sem, no entanto, perceberem que intrinsecamente ela traz em seu bojo a realidade dos fatos a que se refere, logo claramente entendida pelo ouvinte mais atento.

No entanto, nem sempre as palavras proferidas por pessoas de notória popularidade e poder têm sido maquiadas para que ofusquem a realidade dos fatos. Pelo que me lembro, à época do lançamento do Plano Cruzado, o Ministro da Fazenda, julgando estar em “off”, inadivertidamente deixou escapar, diante das câmaras de televisão a frase que, além de alijá-lo do poder, escancarou as portas para o real propósito de sua presença na mídia.

Noutras vezes, a intenção não é realmente ofuscar a veracidade dos fatos, entretanto, os seus efeitos são tão desastrosos que marcam negativamente e para sempre, junto à opinião pública, o seu locutor. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, desejando mostrar a realidade da situação em que se encontrava o INSS, declarou a sua preocupação com respeito ao número crescente de prematuras aposentadorias, fruto de insuficiente legislação e inescrupulosos artifícios utilizados pelos aposentandos. Ficou marcado como algoz inimigo dos que se beneficiavam do Instituto. Em outra ocasião, este mesmo personagem, às vésperas das eleições para Prefeito de São Paulo, líder absoluto nas pesquisas, em entrevista com Boris Casoy pela TV, foi por este perguntado: ― “O senhor acredita em Deus?” ― Resposta de FHC: “Nós combinamos que você não iria me perguntar isso”. Resultado: perdeu a eleição, mesmo após ter sentado na cadeira do Prefeito. Há que se levar em consideração, também, que muitas vezes, os gestos falam mais que as palavras. Jânio Quadros, virtualmente eleito, após a gafe de FHC, no dia da posse, sacou de seu lenço e simbolicamente espanou a cadeira em que o seu adversário havia sentado...

Há, porém, locuções cujas repercussões não apenas abrem as portas para as intimidades da alma, mas que também têm a “virtude” de ferir sentimentos alheios. O Presidente Lula, em entrevista à folha de São Paulo, ontem, teve a infelicidade de proferir a seguinte frase: “Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão”. Quão tamanha insensatez o teria levado a deixar vazar os verdadeiros sentimentos que o conduzem na vida pública, política ou administrativa. Quão tamanha falta de respeito aos milhões de brasileiros cristãos de fé e de esperança, que um dia haviam acreditado que a esperança havia vencido o medo. Quanta falta de domínio próprio ao declarar abertamente que a “lei de Gerson” é única lei que deve vigorar neste Brasil. Importa vencer, custe o que custar. Fazer parceiras, isto sim. Não importa se, com Deus ou com o diabo. O que vale é que o parceiro tenha voto, não faz qualquer diferença se ele imoral, amoral, aético, ou corrupto.

Não entro aqui na discussão sobre Judas Iscariotes, porque tenho uma visão cristã sobre o assunto e este não é o local para o debate. Mas reafirmo com toda sinceridade o que sinto na alma: ultrajado como cristão e como cidadão. Como cristão pela minha fé; como cidadão, lesado nos meus sonhos de um Brasil ético, moral e justo.

23/10/2009 – 15h19min

Douglas Lara
Enviado por Douglas Lara em 23/10/2009
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