Saber cuidar

SABER CUIDAR

Embora o texto desta crônica seja da minha autoria, o título foi copiado de um excelente livro que Leonardo Boff publicou em 2006. O livro faz um convite à reflexão sobre várias coisas, entre elas a ecologia, à luz da compaixão.

Estive recentemente em Santa Catarina (Garopaba, Florianópolis e Itapema) e notei que na maioria dos hotéis e restaurantes há, nos toaletes, advertências quando ao desperdício de água, do tipo “sabendo usar não vai faltar”. No entanto na maioria dos locais observados há certa incoerência, pois pedem que se poupe água enquanto os vasos sanitários são abastecidos com válvulas “hydra” que despejam uma enorme quantidade de água a cada operação.

Tenho viajado pela Europa (França, Itália, Espanha e Grécia), Ásia (Turquia), Oriente Médio (Israel e Jordânia) bem como pela África (Egito), onde constatei a mesma preocupação com o precioso líquido, mas com atitudes mais efetivas. Primeiro, por lá, embora alguns países sejam de Primeiro Mundo, não há válvulas “hydra”. Depois, as caixas de água, em sua maioria acopladas ao vaso, dispõem de um sistema de descarga bem racional. Enquanto as nossas, ao toque do botão fazem descer toda a água, as deles são “inteligentes” (se o usuário também for).

O botão da descarga, em cima da caixa da água é dividido em duas partes: se você apertar o da esquerda, desce um terço da água do reservatório. Esse serviço serve para a higienização do vaso em caso de líquidos. Se for comprimida a metade da direita, desce toda a água, para casos de dejetos sólidos. Parece pouca coisa, mas são milhares de litros economizados por dia. Naqueles países e continentes eles não fazem campanhas retóricas, às vezes perfiladas a uma demagogia hipócrita, mas praticam o “saber cuidar” dos recursos hídricos.

Em Israel, os jardins são verdes e viçosos, e não há desperdício. Sabem como? Lá não ocorre essa orgia que se vê aqui, de água borrifada sobre as plantas. As plantas são cercadas de tubulações de água. Cada pé de vegetal tem sua saída de água, que irriga diretamente o pé, junto à raiz, sem nenhuma gota perdida. Essas tubulações não são onerosas nem requerem tecnologia de ponta. São simples mangueiras com furos junto à planta.

O fato é que nós não temos uma consciência ecológica. As pessoas gastam água como se esse não fosse um bem finito. As campanhas contra “não lave o carro” não surtem efeito, pois costumamos levar nossos veículos aos “lava-jato” onde, pela força das mangueiras a vazão da água é muito superior às que usamos em casa.

Nossas campanhas são incoerentes. Elas trazem a hipocrisia da política: é feita a recomendação, mas tão-somente para dizer que foi feito. Não há cobrança, poucos dão o exemplo e tudo fica igual. Isso quando não fica pior. Por falar em ecologia, agora em novembro vou a Pelotas/RS. Lá, um grupo que faço parte, vai lançar um trabalho, na “Feira do livro”, contra as plantações de eucaliptos e a ameaça das fábricas de celulose na metade-sul do Rio Grande.

Saber cuidar é um ato de compaixão, que engloba o cuidado com as pessoas, os animais e a natureza