Sem motivos para ter algum
Durante a nossa existência, a análise do comportamento humano parece ter sido sempre a base para a construção do conhecimento. Dizemos “parece” porque, para afirmar essa idéia, é necessário acreditar. Acreditar na história que nos é contada e principalmente no crédito de quem a contou. E o que é o crédito? Simplesmente a crença de que determinado indivíduo irá se comportar de forma leal e justa com a verdade na proporção da quantidade de vezes que demonstrou agir como tal.
Com as “certezas” que adquirimos, projetamos significados sobre tudo o que nos cerca de acordo com a necessidade de socialização e propósitos. Mas, por que temos tais necessidades? Segundo o humanista holandês Erasmo de Rotterdam, em seu Elogio da Loucura, o aspecto encantador das crianças, que retarda todos a sua volta; a busca do jovem pelos prazeres da vida; a busca incessante por verdades e o complexo de sábio dos filósofos; as tentativas ridículas das mulheres para atrair os homens; a ignorância; a esperança, enfim, tudo isso existe graças à loucura que nos é concedida pela natureza, sem a qual não sobreviveríamos.
Se analisarmos brevemente a suposta evolução da sociedade, partindo da Idade Antiga até a contemporaneidade, perceberemos um intenso movimento de expansão e concentração, criação e destruição, ao passo que esta dualidade se encontra intrincada em nossa cultura até o pensamento mais ínfimo de um cidadão comum. Esta dualidade foi posta em xeque pela teoria inacabada do Eterno Retorno, na qual o filósofo alemão Friéderich Wilhelm Nietzsche propõe que o mundo passa indefinidamente pela alternância da criação e da destruição, da alegria e do sofrimento, do bem e do mal. No entanto, o conceito não propõe uma volta do mesmo nem uma volta ao mesmo; o eterno retorno de Nietzsche é seletivo por essência, e abrange o desigual e a seleção. Considerando as escrituras sobre Dioniso, o deus grego das festas, do vinho, do lazer e do prazer; o sofrimento, a morte e o declínio são apenas a outra face da alegria, como as duas faces de uma mesma moeda.
Aplicando esta idéia no comportamento estóico das pessoas - na moda, na política e na economia da atualidade - conseguimos vislumbrar mais claramente de que maneira geral a sociedade se molda. Mas, como as ciências, que são capazes de explicar como as coisas se comportam, mas não o porquê, não temos o menor motivo de fugir da vida ou temer a reorganização da existência, mas vários motivos desconhecidos para celebrar a existência “como alegres convivas de um banquete que desejam suas taças novamente cheias”.