O que se pode esperar da política?
O que se pode esperar da política?
(Publicado no Jornal Correio Riograndesense de 8 de outubro de 2009)
Ano de 2009: - pouca coisa de importante tem ocorrido a não ser o aumento da desilusão popular com a política.
Alguns países do Ocidente, onde estes sonhos de justiça, liberdade e democracia surgiram, conseguiram se aproximar do ideal pretendido. Outros não.
O Brasil é um dos que ficaram para trás. A parcela de responsabilidade secular dos políticos por este atraso é incontestável. O povo também tem sua parcela de culpa, principalmente quando escolhe seus candidatos. A maioria dos políticos é tecnicamente incompetente, culturalmente deficiente e, em boa medida, corrupta. A maioria usa a política como um emprego, (pois nunca fizeram outra coisa em suas vidas, nem sabem fazer, não tem uma profissão...).
A mediocridade da “elite” nacional impede que se descubra uma nova liderança honesta e confiável. A maioria da população, desnorteada com as informações que lhes são transmitidas, (já que não tiveram uma educação de qualidade), é incapaz de uma análise critica da situação. Uma sociedade como a nossa, bem manipulada pelos “marqueteiros” e pela mídia sequiosa de novidades exóticas, quase sempre a serviço dos grupos econômicos e políticos que detêm o poder há décadas, faz com que a cada eleição um novo grupo de inescrupulosos venha a se juntar aos antigos. Certamente olhamos com esperanças para aqueles poucos heróicos personagens, que na política ou no governo, ainda procuram manter, com coragem, a esperança de realizar as mudanças necessárias, como, por exemplo, a esperada reforma política, que garantiria maior honestidade na eleição e na fiscalização dos eleitos pelo povo.
Enquanto isso, como que acostumados com a pouca vergonha que permeia os governos as pessoas relaxam o comportamento moral. Prá que ser honesto? E com essa forma de pensar lá se vai à moral familiar, o que resta de austeridade publica, o respeito pelas instituições e autoridades, pelas religiões históricas, a reverência à cultura e ao saber fazendo com que floreça o deboche como atitude normal de relacionamento dos cidadãos.
No entanto, se quisermos proteger e fazer prosperar a frágil democracia que conquistamos, necessitamos eleger os melhores e cuidar da educação dos jovens que estão perplexos com o espetáculo deprimente, amoral, que assistem sem nenhuma orientação segura sobre outras possíveis alternativas de ação política. Os partidos, que deveriam servir de ponte entre o eleitorado (os cidadãos) e o governo, tornaram-se ridículas agremiações. Tudo se passa como se o povo – deprimido, raivoso e sofrido - estivesse esperando o próximo “marqueteiro” indicar, com belas imagens de televisão, as novas bandeiras de luta, os Deputados, os Senadores, os Governadores, os Vereadores, o Partido e o Presidente a serem, uma vez mais, irresponsavelmente eleitos...
O que será que nos espera?
Vamos reagir ou esperar a catástrofe? Vamos prestigiar alguns poucos partidos dignos e eleger, depois de cuidadosa análise, os melhores nomes para nos representar no Congresso, nas Câmaras, no Governo, ou vamos confiar, uma vez mais, num ditador salvador da pátria?
Eurico de Andrade Neves Borba, 68 anos, aposentado, escritor, ex-Presidente do IBGE, ex Professor e Vice Reitor da PUC RIO, mora em Ana Rech-RS.