SÃO LUCAS, O PATRONO DOS MÉDICOS
Sérgio Martins PANDOLFO*
São Lucas, o evangelista, companheiro de São Paulo, e por ele profundamente influenciado, foi um convertido ao cristianismo. Não conviveu pessoalmente com Jesus, já morto aquando de sua atuação.
Era médico e disso nos dá sobejas evidências, pois, na composição de seu Evangelho, o terceiro, e nos Atos dos Apóstolos, abundam tecnicismos das escolas médicas gregas, o que tem ensejado numerosos estudos sobre a riqueza e significância desse vocabulário, como é de destacar o de William Kirk Habart: “The Medical Language of St. Luke” (A Linguagem Médica de São Lucas), de 1882. São Paulo a ele se referia como seu médico predileto: “Lucas, o amado médico”.
Lucas nasceu na Antioquia, na Turquia atual, e aí exerceu, predominantemente, sua arte, posto que mourejava pelas cidades próximas, também, praticando um atendimento itinerante voltado aos desvalidos da sorte e dos haveres. Faleceu aos 80 anos em Tebas, circa de 70 d.C. e seus restos mortais estão na Basílica de Santa Justina, em Pádua, na Itália, e é considerado o padroeiro dos médicos. Por isso, o dia 18 de outubro, que o calendário eclesiástico assinala como o da celebração de sua festa, pela Igreja Católica, foi escolhido como o Dia dos Médicos.
Fica assim patente que desde a mais remota antiguidade os médicos desenvolveram ações científicas, em consonância com o estado evolutivo da ciência, visando a combater as doenças, mitigar a dor dos enfermados ou acender-lhes a esperança.
Tanto assim é que, ao se estudar a História da Medicina, constata-se terem sido de grande alcance e desenvolvimento, para essas épocas, os métodos terapêuticos praticados pelas medicinas grega, romana, egípcia, fenícia, babilônica, chinesa e de outros povos do Oriente.
A luta contra as doenças acompanha o homem desde que ele surgiu em nosso Planeta e os médicos sempre estiveram à frente do conhecimento científico, em todos os tempos.
Hipócrates, cognominado "o pai da Medicina", que viveu há mais de vinte séculos, introduziu a prática do exame clínico e a análise dos sintomas para o diagnóstico das doenças e nos legou seu Juramento, até hoje repetido pelos médicos no ato solene de formatura, garantindo a nobreza e dignidade de nosso ofício.
Mais proximamente, Ambroise Paré, notável cirurgião francês que viveu no século XVI, tido como o “pai da cirurgia moderna”, revolucionou as técnicas cirúrgicas de então e inovou com a criação de diversos e mais eficientes instrumentos.
Grandes pandemias dizimaram, ao longo dos séculos, milhares ou até milhões de indivíduos, como são, a exemplo, a peste negra, no século XIV e a gripe espanhola, em 1918. Epidemias severas ceifaram infinitas vidas humanas, como a de peste bubônica que grassou aqui, em Belém, nos albores da centúria passada. Doenças que já tiveram alto poder mortífero como a sífilis, o cólera, a varíola, a tuberculose, a lepra, o tétano, foram eliminadas ou dominadas pela ciência médica, mas outras surgiram, como é o caso, mais recente, da AIDS. A luta contra as infecções – vale dizer, contra os germes – continua renhida, assim em ambiente hospitalar como nas comunidades.
Nos tempos atuais a medicina evoluiu extraordinariamente, obrigando aos que a ela se dedicam terem de escolher uma especialidade, um campo mais limitado de atuação, pois é impossível ao médico deter todo o conhecimento científico disponível.
A profissão de médico sempre foi uma das mais desejadas e disputadas e isso se verifica até mesmo pela concorrência e maior complexidade dos exames vestibulares admissionais. Mas estes são só a porta de entrada (daí o nome: vestibular). Para manter-se atualizado há que estudar sempre. “Médicos nunca se formam”, afirmava, já no início do século recém-findo, o grande Berardinelli.
Ser médico é, de fato, privilégio que a poucos contempla. Nenhuma missão mais humana, na prática do dia-a-dia, nenhuma mais divina, na obtenção da cura. Que outra ciência ou arte defere aos que a praticam o exercê-la sobre a matéria nobre: o corpo humano, animado pelo sopro divinal da vida?
Esta é a diferença primordial, que faz da medicina uma profissão diferente, ímpar, incomparável!
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(*) Médico e Escritor. ABRAMES/SOBRAMES
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