MESTRES INESQUECIVEIS.

Minha primeira professora foi Dona Rosa. Ela era muito bonita e "aristocrática", dava aulas em uma única sala para alunos da alfabetização até o quarto ano primário. Sem os recursos didáticos, além do quadro negro, do giz, de lápis, cadernos e livros da época, Dona Rosa fazia milagres. Eu adorava as aulas de redação ou quando tínhamos que descrever as belas paisagens que ela nos entregava. A imaginação corria solta! As datas comemorativas eram sempre lembradas com um evento, que incluía competições ou peças de teatro (dramatizações). No Sete de Setembro, D.Rosa improvisava um desfile, promovia competições como corrida de saco, ovo na colher, cabo de guerra e tantos outros, além das gincanas de conhecimento. Dona Rosa era uma verdadeira mestra! Foi ela quem me proporcionou a primeira viagem a cidade de Belém, onde saboreei pela primeira vez na vida, o delicioso sorvete! Depois de Dona Rosa, outra grande mestra foi a professora Linda Aragão . Ela fazia jus ao nome! Era alta, magra, loura e elegantíssima! Eu tinha verdadeira adoração por ela. Penso que foi dela que partiu minha inspiração para ser professora. Além de lindíssima, era delicada com todos os alunos!
No quarto primário, outra grande mestra! A professora Helena Lambert. Alta, morena, cabelos negros, usava óculos de lentes grossas. Para mim, ela era uma lady, um porte com algo de nobreza. Não lembro de um aluno indisciplinado na sala de aula dela. Penso que a professora Helena era tão especial e tão excelente mestra, que seria uma perda de tempo não prestar atenção em suas aulas. Não lembro de uma única vez que tivesse posto algum aluno de castigo ou qualquer outra repreensão.
Ainda no primário, tive uma outra professora chamada Tereza de Jesus. A professora Teresa era famosa por sua rigidez e por fazer milagres com alunos indisciplinados e com dificuldades de aprendizagem. Fui freqüentar suas aulas com o objetivo de me preparar melhor para o então exame de admissão ao ginásio, uma espécie de vestibular na época. Não tenho a menor dúvida em afirmar que sempre fui uma boa aluna, responsável e estudiosa. Pois bem, o que aconteceu entre mim e a professora Tereza, foi o seguinte: na época deste "acontecimento", o famoso cantor Nelson Gonçalves estava com uma música nas "paradas de sucesso". Um dos versos dizia assim: Oh! Sol, tu que és o rei dos astros, que iluminas o mar e as montanhas... Pois não é que na prova de geografia, a professora Teresa perguntou: O que é o sol? E eu toda prosa respondi: é o rei dos astros que ilumina o mar e as montanhas. Quando recebi o resultado da prova estava lá um belíssimo zero, maior que o sol já de tarde, em uma praia. Quando humildemente tentei argumentar que eu estava correta, ainda recebi uma severa advertência por algo que seria hoje "desacato a autoridade".
Do curso ginasial não tenho lembrança de nenhum professor especial, a não ser o professor de matemática, em cujas aulas eu dormia profundamente. Então, ele chegava na minha carteira, levantava a minha cabeça e esfregava os meus olhos. Eu passava de ano "raspando", como se dizia na gíria daquela época. Não lembro do nome dele, me parece que era Acyr.
Na faculdade, tive mestres especiais, mas três deles, lembro até hoje. O primeiro foi o professor de sociologia, Diatahi Bezerra de Menezes. Ele era fantástico! Creio que para prender a atenção dos alunos falava muito baixo. Tínhamos que fazer um grande esforço para não perder uma só de suas palavra (pelo menos eu). Suas aulas eram silenciosas. Entretanto, ele sempre abria para debates e para esclarecer dúvidas. Fiquei surpresa quando li o livro "Brasil, tortura nunca mais" e o nome dele Diatahi estava incluído nos arquivos de regime ditatorial, como "potencialmente perigoso" para a segurança da nação.
Outro grande mestre foi André Hughet. Canadense, dava aulas de filosofia e antropologia cultural. Foi com as aulas do professor André que aprendi um pouco sobre Sócrates, Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, São Thomas de Aquino, Tales de Mileto e outros filósofos. O professor André tinha um modo peculiar de abordar esses filósofos. Primeiro ele nos fazia acreditar que os filósofos diziam em suas teorias verdades incontestáveis. A seguir, "desconstruia" tudo, para finalmente extrair a essência do pensamento do filósofo, utilizando com grande competência o método dialético. O professor André era adorado pelos alunos, uma unanimidade!
Finamente, lembro da professora Adísia Sá, que dava aulas de metafísica. Não me perguntem se sei o que é metafísica, além do conceito de que é algo "além da física". A professora Adísia não dava aulas, ela representava! Naquele pequeno tablado na sala de aula, a professora Adísia transformava-se em uma atriz, com gestos dramáticos, teatrais, dando sua aula. Não aprendi nada sobre a tal metafísica, mas ficava fascinada pelo espetáculo que a professora me proporcionava. Rendo minha homenagens a estes mestres e a todos que passaram pela minha vida.A eles devo parte do que sou em termos de visão de mundo e de valores éticos e morais.

Editado pela primeira vez em 30/04/2009.